Recordar o passado com olhos no presente e no futuro

    Com a entrada numa nova década, importa relembrar o primeiro ano deste século, abordar o estado atual e fazer uma pequena alusão sobre o futuro. Com o futebol português como pano de fundo, muita coisa haveria por dizer, mas vamos lá debruçar-nos de forma sintética sobre o passado, o presente e o que pode (ou não) estar para vir.

    Há 20 anos

    Recuando 20 anos, exatamente porque se iniciou um novo século, a vida era bem diferente daquela que conhecemos hoje, assim como o futebol em Portugal. Este vinha sendo dominado pelo FC Porto que procurava um inédito sexto título consecutivo, mas em 2000, o Sporting CP travou este intento e conquistou, 18 anos depois, um novo título de campeão nacional. Sob o comando de Augusto Inácio, os leões voltaram a sentir aquela alegria especial e todos nos lembramos das saudosas camisolas da Telecel. Como também nos lembramos de Beto Acosta, Mpenza, Pedro Barbosa, Toñito, André Cruz ou César Prates – tudo rostos do sucesso em tempos. Alvalade voltava a ser o trono do futebol nacional na viragem do século, quando foram precisos 18 longos anos para tal.

    Mário Jardel era um dos nomes que encantava nos relvados nacionais, ele que terminou esse campeonato com 38 golos apontados ao serviço dos dragões. Uma quantia absurda, mas admirável, naquela que foi a quarta e última época a Norte. Já o SL Benfica findou essa época no terceiro posto e prosseguia a sua travessia no deserto – em tempos marcados pela crise financeira e pelo desastre de Vigo. O quarto lugar foi ocupado pelo Boavista FC – o grande Boavistão – e o Gil Vicente FC lograva um honroso quinto lugar.

    Este era um tempo em que existiam clubes que já não estão entre nós – ou que já não são conhecidos como eram – como o CF Estrela da Amadora, SC Salgueiros ou o SC Campomaiorense. UD Leiria, FC Alverca e SC Farense também figuravam no principal escalão e todos eles conseguiram a manutenção nessa temporada. Numa Liga a 18, quem não conseguiu tal feito e desceu de divisão foram o Rio Ave FC, Vitória FC e CD Santa Clara, numa altura em que o SC Braga ainda ocupava lugares modestos, como a nona posição.

    Relativamente à Segunda Liga, esta era igualmente disputada por 18 clubes e registava o nível competitivo pela qual ainda é conhecida. As três formações que subiram de divisão nesse ano de 2000 foram o FC Paços de Ferreira, SC Beira-Mar e CD Aves, época em que os clubes do Norte predominavam em representação. A Taça de Portugal foi conquistada pelo FC Porto – que bateu o Sporting CP na final – e a Seleção Nacional realizou um grande Europeu, que ficou marcado pela mão de Abel Xavier. Tudo isto e muito mais marcou um novo virar de página e a entrada na nova era que todos conhecemos.

    Atualmente

    Nestas primeiras duas décadas muita coisa mudou. Não no formato das competições – embora já tenham sofrido alterações a nível do número de clubes, entretanto já repostas – mas sobretudo a nível de hegemonia e mesmo de comunicação. Atualmente, é o SL Benfica quem domina internamente, tendo conquistado cinco dos últimos seis campeonatos. Os encarnados estão mesmo num patamar diferente e são hoje conhecidos pelos negócios de transferências que efetuam, assim como pela aposta na formação. Tal como as saudosas camisolas verde e brancas da Telecel, também as da Fly Emirates nos irão preencher a memória daqui a uns anos. Os encarnados vivem um dos melhores momentos da sua história e já pensam em novo sucesso europeu num futuro não muito distante.

    Um ponto em comum com 2000 é o facto de se assinalarem 18 anos desde que o Sporting CP não vence o título de campeão, sendo pouco provável que o irá conseguir esta temporada e por isso veja esta conta aumentar. O FC Porto tem sido o principal concorrente das águias, mas vivem o período de menor fulgor da era Pinto da Costa. Pode dizer-se que a agulha virou e a hegemonia passou do Porto para Lisboa. Passámos a ter a ascensão do SC Braga que tem alcançando posições cimeiras frequentemente e, mais recentemente, o FC Famalicão como um caso de sucesso, prometendo ser um caso sério nos próximos anos, mas continuamos a ter apenas dois crónicos candidatos ao título e com pontuações cada vez mais elevadas.

    Na entrada para uma nova década, o atual campeonato principal encontra-se precisamente a meio. Vai ser uma luta aguerrida para atingir os objetivos
    Fonte: Liga Portugal

    Por outro lado, Boavista FC e CF “Os Belenenses” já não são o que foram outrora. Aliás, os do Restelo até estão a competir nas distritais, num processo de divisão entre o clube e a SAD, evidenciando a crise que ali se instalou. As panteras também já competiram nas divisões inferiores até regressarem ao primeiro escalão, mas ainda se encontram bem distantes daquilo que já foram em tempos. Quanto à Segunda Liga, já viu o seu formato alargado, embora tenha regressado ao que já nos habituou; tal como a Primeira Liga, já teve vários patrocinadores e por lá se encontram diversos históricos, numa luta sempre aguerrida pela promoção. A Seleção Nacional está melhor do que nunca e é uma das melhores do Mundo, tendo já arrecadado dois troféus internacionais.

    Uma das grandes mudanças verificadas foi a transmissão televisiva dos jogos – em que hoje são transmitidas todas as partidas do primeiro escalão, o que era impensável no início do século. Entretanto, uma nova competição foi criada, a Taça da Liga, e sempre foi vista como uma prova menor pela generalidade dos clubes. A criação do Canal 11 é uma das mais recentes novidades e é um claro sinal de mudança dos tempos.

    Neste ponto, o plano comunicacional sofreu uma grande evolução e os clubes passaram a ter maior contacto com os seus adeptos, sobretudo através das redes sociais. Este fenómeno está bastante popularizado e são os principais meios de comunicação destes. A nível de polémicas, o futebol português continua no auge e muito vieram contribuir as novas ferramentas de comunicação. Para o bem e para o mal, estas têm sido utilizadas pelos clubes para unir os adeptos em torno da sua causa. Certamente que a polémica sempre esteve muito presente, mas hoje ela pode ser projetada a um nível que antes não era possível.

     

    No futuro

    A terceira década do século ainda agora iniciou e o desejo é que os anos 20 possam ser, de alguma forma, anos de mudança para um ambiente e prática de um melhor futebol, isto é, que o futebol português seja capaz de alterar algumas das suas normas para um melhor funcionamento geral. Penso que deveriam ser implementadas algumas medidas, no sentido de defender e prestigiar as competições em Portugal, como por exemplo: a centralização dos direitos televisivos; os clubes deixarem de aprovar os regulamentos; criação de novas leis para que quem ataca e descredibiliza constantemente as competições seja severamente punido; e que comece a existir um tratamento mais igualitário entre todos os clubes, nomeadamente na imprensa, como nos jornais e nas televisões.

    Entre muitas outras, penso que estas medidas têm de ser levadas seriamente em conta, para que se veja uma maior competitividade e qualidade no nosso futebol e para que se reduzam drasticamente as polémicas e isto comece a ser, finalmente, levado mais a sério. Bem sei que isto pode parecer muito difícil de acontecer a curto/médio prazo, mas o futebol português merece ser muito melhor tratado.

    Como 2020 nos faz pensar a todos sobre como pode ser o futuro, existem algumas questões que merecem toda a atenção, como as mudanças que começam a ser introduzidas no futebol. Com estas a acontecer recorrentemente, como as competições de certos países a mudarem de continente a troco de verbas exorbitantes, levam-nos a pensar sobre se isto poderá vir a ser uma prática. Será que os campeonatos nacionais podem vir a sofrer mudanças estruturais, resultado das alterações globais? Já se falou de uma Superliga Europeia e embora Portugal pareça não ter a devida visibilidade para entrar neste círculo, o processo de internacionalização que o SL Benfica, por exemplo, tem levado a cabo ultimamente, pode constituir-se como uma eventual ‘candidatura’ aos novos tempos que se avizinham.

    As alterações estruturais das competições têm sido uma realidade e a internacionalização parece ser, cada vez mais, o próximo passo. Apenas o tempo poderá esclarecer melhor estas questões.

    Foto de capa: Liga Portugal

    artigo revisto por: Ana Ferreira

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    André da Silva Amado
    André da Silva Amadohttp://www.bolanarede.pt
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