O campeonato português tem sofrido sucessivas alterações ao longo dos anos, a começar pelo número de equipas participantes, que vai subindo e descendo conforme as ideias da Liga e FPF (Federação Portuguesa de Futebol). Uma revolução é, sem dúvida, necessária e bem-vinda e todas as ideias são aceitáveis na medida em que abrem a discussão e podem daí surgir alterações benéficas que revertam o monopólio conquistado pelos “três grandes”, por exemplo.
Uma dessas ideias e que vale a pena ser discutida é a alteração do modelo em que o título é discutido. Neste momento, o campeão português é coroado, claro, pela sua qualidade, mas sobretudo pela regularidade. Nada adianta arrancar a competição com cinco ou seis vitórias seguidas, quebrar nos jogos difíceis e daí em diante não pontuar.
É necessário manter a qualidade elevada e ser constante nesse aspeto. Por um lado, a justiça é quase total na atribuição do título de campeão mas o grande problema reside na invariabilidade da equipa que o consegue. As probabilidades de vencer a prova são sempre atribuídas às mesmas equipas e no final acabam por se confirmar; “são sempre os mesmos a ganhar”, ouvimos todos os anos. Um pouco à semelhança do que se passa nas competições nacionais em toda a Europa. Exceção feita à Primeira Liga inglesa, mas esse é um campeonato à parte… E a verdade é que os números o confirmam: nos últimos 15 anos, apenas dois clubes vencedores em Portugal e nos últimos 20, apenas quatro.
Quando comparado à Major League Soccer (MLS), o contraste não podia ser maior! Nos últimos 15 anos existiram 10 vencedores diferentes nos Estados Unidos e nos últimos 20, 12… Pode argumentar-se muito contra este facto mas a realidade é que os vencedores da MLS são variados e nada os impede de vencer dois e três anos consecutivos, como já aconteceu. Então, porque não acontece cá também?
A diferença está no caminho que o campeão faz até se sagrar como tal. Ao invés de jogar contra todas as equipas duas vezes, em casa e fora, e vencer quem somar mais pontos, o campeão enfrenta ainda uma fase de “playoffs”. Transpondo para o campeonato português e imaginando o que seria uma decisão através de “playoffs” em Portugal, seria algo como: a Primeira Liga dividir-se-ia em dois grupos, Norte e Sul, que jogariam entre si a chamada fase regular. Terminada esta fase, avançariam para as eliminatórias um determinado número de equipas, por exemplo, os quatro primeiros classificados de cada grupo e num sistema de eliminação direta a duas mãos, em casa e fora, encontrar-se-iam os dois finalistas que disputariam a final do campeonato.
Este sistema aproxima-se bastante do atual da Taça da Liga. Com o país e as probabilidades divididos ao meio, seria mais fácil para aquelas equipas de “segunda linha”, como o SC Braga, Rio Ave FC ou CS Marítimo, conseguirem alcançar uma segunda fase em pé de igualdade com os três grandes e em condições perfeitamente possíveis de discutir um acesso à final e mesmo a vitória! Podia até pensar-se em alargar a Primeira Liga a mais de 20 clubes, formando, assim, dois grupos de mais de 10 equipas.
O CS Marítimo, por exemplo, que faz do seu reduto uma verdadeira mina de pontos, podia levar a discussão das eliminatórias para a sua ilha e aí carimbar acessos às fases seguintes, uns atrás dos outros. Com a experiência adquirida ao longo dos anos, poderia mesmo alcançar o título. Isto para não falar do “habitual” quarto classificado, o SC Braga, ou dos sempre perigosos Rio Ave FC e Vitória SC. A partir deste modelo, as possibilidades dos ainda crónicos candidatos perderem jogos fora de casa numa fase a eliminar é enorme. A viciação no que toca ao vencedor final esbater-se-ia com o passar do tempo.
Podemos defender que o verdadeiro é o futebol e não o soccer, mas que na MLS percebem do negócio e de competitividade… lá isso percebem.
Foto de Capa: MLS