Sporting CP vs “Zombies”

    A jornada passada ficou marcada por (mais um) episódio lamentável que envergonha (ou, pelo menos, devia) o futebol português: a efectiva realização do jogo Vitória FC x Sporting CP. A equipa Lisboeta, melhor que qualquer outra da Primeira Liga, deve lembrar-se de ter meia equipa com mazelas, físicas e psicológicas, mas nem essa situação impediu a direcção leonina de se comportar com a arrogância que chocou o mundo do futebol.

    Para os amantes do desporto-rei, a 16.ª jornada da Primeira Liga chamava a atenção por um reencontro muito aguardado: Gil Vicente FC e Belenenses SAD. Estas duas equipas, outrora apenas separadas pela típica rivalidade entre clubes do Minho e de Lisboa, tornaram-se eternas rivais devido ao polémico Caso Mateus, que culminou na injusta despromoção do Gil Vicente à Segunda Liga.

    No entanto, este duelo foi ofuscado pela notícia súbita do adoecimento de meio plantel do Vitória FC, afectado pela gripe. Como vivemos num país civilizado, com um campeonato de primeira categoria, o presidente do Vitória, Vítor Hugo Valente (que já há umas semanas experimentou o ambiente nauseabundo que se vive no futebol português, ao ser agredido em plena rua), cometeu o erro de pensar que o mais que justificável adiamento do jogo com o Sporting seria aceite por Frederico Varandas.

    Spoiler: não foi. Sem justificação nenhuma, o Sporting recusou-se a adiar o jogo. Verdade seja dita que mais tarde, aceitou este adiamento, mediante a formação de uma junta médica com um médico do clube para atestar a incapacidade dos jogadores setubalenses. Escusado será dizer que Vítor Hugo Valente, sentindo-se humilhado e desrespeitado, declinou tão “generosa oferta”.

    Honestamente, tenho dificuldade em perceber qual das decisões do Sporting denota maior arrogância e falta de respeito pelo adversário. Tenhamos em mente que o Sporting está fora da Taça de Portugal e, portanto, não joga durante esta semana, sendo o seu jogo seguinte, o dérbi Lisboeta, na sexta-feira. Mas a verdade é que o Sporting levou a sua avante, o jogo realizou-se e, apesar do tremendo esforço dos 11 jogadores do Setúbal (apenas com quatro dos habituais titulares), terminou com a vitória dos leões por 3-1. No final, o Vitória anunciou a suspensão das relações institucionais com o Sporting. Assim vai o nosso futebol português.

    O Sporting CP acabou por vencer um jogo que não deveria ter acontecido
    Fonte: Vitória FC

    Mais uma vez, o que ficou desta jornada do campeonato não foi futebol: não foi o esforço titânico do FC Famalicão em segurar o 3.º lugar, não foi a exibição soberba do CD Aves na Luz e o gesto magnânimo de Nuno Manta Santos, nem o samba do Gil Vicente FC, nem a reviravolta do SC Braga. O que vai perdurar na memória é que o Sporting se recusou a ser solidário com um Vitória FC que jogou com o plantel doente. Nestes momentos, recordo a insistência de Frederico Varandas nas reuniões da FPF a pedir a pacificação do futebol português e a sua convicção em serenar os ânimos. Relembro que um dia, o futebol português se uniu em torno do Sporting para condenar o ataque à academia de Alcochete e se solidarizou com o plantel afectado.

    Pena que o Sporting se tenha esquecido disso. Por isso, quando ouvi as notícias a dizer que no Vitória FC x Sporting CP, o “grande” tinha vencido o encontro, fiquei confusa. Para mim, no Estádio do Bonfim, não jogou nenhum “grande”.

    Foto de Capa: Liga Portugal

    Artigo revisto por Diogo Teixeira

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    Inês Figueiredo Mendanha
    Inês Figueiredo Mendanhahttp://www.bolanarede.pt
    A Maria é uma orgulhosa barqueirense (e por inerência barcelense ) que aprendeu a gostar de futebol antes de saber andar. Embora seja apologista das peladinhas entre amigos, sai-se melhor deixando o que pensa gravado em papel. Benfiquista de coração e Gilista por devoção é sobretudo apaixonada pelo futebol que faz o país parar quando a bola começa a rolar.                                                                                                                                                 A Maria escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.