O Estrela da Amadora recebeu o Rio Ave, em jogo a contar para a nona jornada do campeonato. Tendo sofrido a reviravolta à passagem do minuto 71, pela autoria de Vrousai, permitindo aos vilacondenses virar o resultado para 2-1, os estrelistas mantêm-se em posição delicada na tabela classificativa. Há a possibilidade de terminarem a jornada no 16.º lugar, em igualdade pontual com o Estoril Praia, que empatou no dia de hoje. Em todo o caso, isso só acontecerá se o Tondela vencer o respetivo encontro. Ainda assim, a missão dos beirões é complicada, já que recebem os bicampeões nacionais. Assim, o mais provável é que a equipa amadorense permaneça na 15.ª posição no fim desta jornada.
Para se perceber melhor a posição delicada da formação tricolor, há que ter em conta que, até ao momento, tem apenas uma vitória em quase três meses de competição. João Nuno é o terceiro treinador do Estrela da Amadora na presente temporada. A equipa da Reboleira começou a época desportiva com José Faria no comando técnico, ao qual lhe sucedeu Luís Silva, enquanto treinador interino – curiosamente, foi o único dos três, até ao momento, a conseguir uma vitória em jogos oficiais esta temporada, vencendo o lanterna vermelha, AVS SAD, por 3-0.
As coisas complicam-se ainda mais quando verificamos que João Nuno, contratado ao Belenenses, tem três derrotas em três jogos, sendo que uma delas custou a eliminação na Taça de Portugal, frente à modesta equipa do Alpendorada. O treinador de 40 anos já sabia que o processo não seria fácil, pois foi num contexto semelhante, ainda que duas divisões abaixo, que aceitou, na temporada 24/25, assumir as rédeas dos azuis do Restelo, onde conseguiu recuperar a identidade dominadora do clube, fazendo jus à sua grandeza, ficando muito próximo de o promover à Segunda Liga.


O principal desafio para o timoneiro estrelista é, primeiramente, combater uma cultura resultadista, apoiada por adeptos e dirigentes em Portugal, que se sobrepõe à exibicional, algo que considero amplamente redutor. O futebol é apaixonante pelo seu carácter imprevisível, pelas diferentes nuances apresentada de jogo para jogo e dentro de cada encontro, pelo que vai muito além do número de golos apresentado no placar. Claro que a confiança se constrói em cima de vitórias, que não existem vitórias morais, mas um processo tem de ser avaliado, principalmente, pelos comportamentos da equipa em campo, bem como pelos processos que compõem o seu jogo nos vários momentos da partida.
O facto de um treinador não ter tido pré-época, não ter escolhido os jogadores e respetivos perfis para comporem o seu plantel, nem mesmo a metodologia de treino e de jogo do clube para uma época desportiva, é muito subvalorizado. Nesse sentido, o trabalho de João Nuno tem sido – para aqueles que estão atentos aos processos, em especial, ofensivos da equipa – altamente disruptivo num curtíssimo espaço de tempo. Dificilmente uma ideia é posta em prática com apenas duas ou três semanas de trabalho, mas o maior elogio que se pode fazer à equipa do Estrela e, especialmente ao seu timoneiro, é que a equipa já demonstra um comportamento mais ativo em campo, que privilegia a posse da bola, o controlo do jogo e um futebol associativo.


Tem-se mantido um sistema de três centrais a construir, bem como uma linha de cinco jogadores a defender, mas o mister impôs muitas matrizes que considera fundamentais, nomeadamente com a imposição de um triângulo a meio-campo, de forma algo despercebida, mas que procura dar à equipa conforto com bola nos pés e ter superioridade em zonas de progressão e de definição. Mesmo no momento sem bola, a atitude competitiva da casa foi amplamente demonstrada, já que a última linha defensiva estava, não raras vezes, sob a linha de meio-campo, procurando reagir rapidamente à perda e condicionar a saída de bola do adversário.
Estas dinâmicas e processos relatados são paradigmáticas da demonstração que João Nuno tem conseguido trazer para campo. O Estrela, desde a subida ao principal escalão do futebol português, em 23/24, mostrava ser uma equipa muito vertical, que procurava o ataque ao espaço, com um bloco baixo que queria apanhar o adversário em contrapé, sendo, portanto, muito mais reativa do que criativa. Isso transmitia, do ponto de vista identitário, a ideia de uma equipa frágil, resultadista, que se agarrava à luta pela manutenção no primeiro escalão com determinação, mesmo que isso significasse não providenciar um bom espetáculo aos adeptos que pintam as bancadas do José Gomes – e de todos os estádios por esse país fora – de tricolor.


Acredito que a aposta em João Nuno é uma tentativa de alavancar o Estrela da Amadora para um outro patamar competitivo. De momento, isso pode não ser tão visível, como, aliás, o próprio mister confidenciou na conferência de imprensa após o jogo, porém esta é uma fase de adaptação a uma mentalidade mais positiva e uma transição para um modelo que dará mais preponderância ao meio-campo como orquestrador do jogo da equipa, permitindo-lhe estar mais próxima da baliza adversária.
Não creio, portanto, que a estrela se esteja a apagar, mas, pelo contrário, a reacender-se. Na minha ótica de ver o jogo, uma equipa que cria mais oportunidades, matematicamente, tem mais probabilidade de ganhar. Estaremos atentos aos próximos capítulos e às transformações que João Nuno será capaz de fazer numa equipa que demonstrou ter, no jogo frente ao Rio Ave, uma panóplia vasta de soluções, para os diferentes momentos do jogo e adversários.

