O Amora recebeu o 1.º Dezembro em jogo referente à 12ª jornada da Liga 3, e, pela autoria do capitão João Oliveira, conseguiu o empate por 1-1 nos instantes finais da partida. Para o lado visitante, Diogo Cardoso – que agora partilha o primeiro lugar na lista de melhores marcadores da Série B da Liga 3 com Mamor Niang, do Mafra -, foi de herói a vilão, já que, apesar de ter inaugurado o marcador, falhou uma grande penalidade, que impediu a equipa de Sintra, à passagem do minuto 70, ampliar a vantagem para 2-0.
Como o mister Pedro Caneco afirmou em declarações ao Bola na Rede, a equipa do 1.º Dezembro entrou para campo com uma atitude contrária àquela que seria expectável pela crise de resultados vivida. Muito se deveu a “uma ótima preparação do jogo por parte do Pedro Caneco”, como referido pelo mister Nuno Presume, que deu conforto à formação visitante e permitiu encarar este jogo olhos nos olhos de um Amora que vinha de quatro jogos sem perder. Como todos aqueles que acompanham a Liga 3 já sabem, os pormenores e detalhes em jogos deste campeonato são determinantes.
O primeiro tempo esteve longe de ser rico em oportunidades. João Oliveira, que está num excelente momento de forma e a quem o próprio treinador teceu rasgados elogios, teve o golo na cabeça, mas viu o poste traí-lo, após cruzamento tirado por Ednilson Furtado. De resto, até ao momento do golo do 1.º Dezembro, faltou criatividade e capacidade para entrar no bloco adversário de uma e outra equipa. Tal deveu-se à variabilidade em momento de organização defensiva. A formação visitante, em bloco alto, procurava pressionar homem a homem a campo inteiro. Num bloco médio e médio-baixo a equipa montava um 5-4-1, otimizando a ocupação dos espaços, e obrigando o Amora a jogar por fora e a recorrer a cruzamentos. A equipa da casa, em grande parte do primeiro tempo, até conseguia sair a jogar desde trás, empurrando a formação visitante para o respetivo meio-campo defensivo. A construção era muito variada, tanto através de um dois mais três, com os centrais a terem o apoio dos médios e do lateral-direito, como a partir de uma construção a três, com Hélio Cruz a baixar, o que retirava ao 1.º Dezembro conforto na hora de pressionar alto e ao homem.


A equipa de Nuno Presume, em organização defensiva, queria, na maior parte das vezes, começar a pressionar num 4-5-1 em bloco médio e, à medida que os comandados de Pedro Caneco se aproximavam da baliza, baixava para um 5-4-1. A saída de bola do 1.º Dezembro foi mais uniforme, recorrendo sempre à linha de três centrais para construir, com dois médios no apoio, ao passo que os alas se projetavam para formar uma linha de cinco no último terço, e com Vitó a juntar-se aos avançados. Mas, mais uma vez, os movimentos eram prontamente identificados pelo adversário.
Ainda que as estruturas base aparentassem ser muito distintas, sabemos que, atualmente, o conceito de sistema é volátil e impreciso. Há constantes desdobramentos, tal como venho identificando neste texto. Na prática, as peças de ambas as equipas estavam muito encaixadas. A grande diferença passava, portanto, pela filosofia e abordagem de cada equipa no momento com bola. O Amora, mesmo tendo terminado o primeiro tempo com menos posse, procura um jogo mais apoiado, valorizando o ataque organizado e recorrendo, sempre que possível, a passes mais curtos. O 1.º Dezembro, em contrapartida, pratica um futebol mais direto e vertical, com o intuito de ativar os homens rápidos que tem na frente de ataque. Por mérito de quem defendia, nenhuma das equipas conseguiu demonstrar, em grande parte do primeiro tempo e de forma continuada, as respetivas formas de pensar e ver o jogo.
Numa partida muito encaixada, pareciam faltar rasgos individuais. Foi exatamente a criatividade individual que mudou o rumo do jogo, tornando-o mais aberto, mais caótico dentro dos planos de um e de outro treinador, mais imprevisível e, consequentemente, mais emotivo. Juan Nazarit vestiu a capa de herói improvável no primeiro tempo, e assistiu Diogo Cardoso, depois de deixar Tiago Correia completamente batido na corrida. Naturalmente, o técnico do Amora, Nuno Presume, identificou a falha na abordagem ao lance por parte do defesa-central.


As substituições no início da segunda metade da partida alteraram ainda mais o decurso do encontro. No lado do emblema caseiro, a saída de Filipe Marques para a entrada de Diop, e respetiva passagem de Dino Semedo para uma posição mais interior, procuraram criar uma vantagem no corredor esquerdo, através de um triângulo composto pelo extremo senegalês, pelo número 71 e por Renzo. Por outro lado, tal como nos explicou o mister do 1.º Dezembro, a equipa vermelha e branca não se deixou surpreender nessa zona do campo porque Dedé, que entrou para a saída de Juan Nazarit, e, mais tarde, Vitó a protegeram muito bem, dada a disposição tática defensiva do emblema visitante, em que “a linha de cinco é apoiada por uma linha de quatro, com os extremos a baixarem para dar uma ajuda mais próxima ao lateral”. Numa primeira instância, Dedé não foi uma ameaça tão recorrente como quando passou para o lado esquerdo, porque, conseguindo o Amora empurrar o 1.º Dezembro para o seu reduto defensivo, o extremo estava mais ocupado em fechar as portas do corredor que ocupava. Porém, mesmo nessa fase, a equipa da Medideira concedeu algumas oportunidades à formação visitante, pois, tentando pressionar homem a homem em pressão alta, as marcações pareciam indefinidas, permitindo à equipa capitaneada por Lisandro Menezes encontrar espaços, não só nas costas da defesa contrária, como, também, entrelinhas.
O pior momento do jogo do Amora, todavia, surgiu entre o 60º e o 80º minuto. Como já referido, Vitó trocou de lado com Dedé, e o ex-Estrela da Amadora passou a estar mais ocupado com as tarefas defensivas, soltando o extremo de 20 anos no flanco oposto. Nesse momento, o camisola 19 pôde explorar o muito espaço deixado nas costas de uma defesa extremamente subida, bem como um Fábio Pala já desgastado e bem mais lento, que não tinha tantas responsabilidades ofensivas quanto Renzo, e, como tal, acabava por não arrastar consigo Dedé para zonas mais recuadas. Pedro Caneco disse ao Bola na Rede que “essa mudança estava programada para acontecer quando entrasse o Kamika (António Infante), de modo a ter o corredor esquerdo completamente fresco. Mas, afinal, a mudança veio antes, quando o guarda-redes se deitou ao chão porque acreditava que a equipa, de algum modo, necessitava de respirar”.
Ainda que cada vez mais exposto aos ataques rápidos do 1.º Dezembro que visavam, sobretudo, a velocidade de Dedê no ataque ao espaço – e que, entre outros lances de relativo perigo, permitiu à equipa conquistar uma grande penalidade -, Nuno Presume não quis deixar de tornar a equipa mais ofensiva. Na opinião do treinador que jogava em casa, a entrada de Tony foi muito importante para o que restava do encontro. De facto, a capacidade de drible em espaços curtos do jogador nascido em Cabo Verde permitia desbloquear jogo pelo corredor central, algo poucas vezes visto até aqui. Nesse momento, o meio-campo do Amora tinha um perfil extremamente ofensivo, com dois extremos a fazerem o papel de médios-centro.


O 1.º Dezembro continuava, ainda assim, a procurar o golo da tranquilidade. Tivesse estado Eduardo Borges mais assertivo nos passes, a ligação ao ataque poderia ter sido ainda mais conseguida. O defesa-central dos visitantes foi muitas vezes solicitado como construtor de jogo, não raras vezes pisando terrenos de número seis e criando superioridade no meio-campo, mas não foi propriamente feliz na execução. Do lado contrário, João Oliveira, nas poucas bolas que lhe chegavam, era o mais inconformado com o resultado, aproveitando para criar perigo junto às redes contrárias, mas o seu homónimo queria segurar a vantagem dos visitantes a todo o custo. Apesar da intenção do Amora em criar situações de perigo e em ser uma ameaça constante à baliza adversária, o 1.º Dezembro não se encolheu (pelo menos, de forma premeditada) e quis sempre defender-se procurando dilatar a vantagem através de transições ofensivas rápidas. Naturalmente, o Amora mostrava-se inconformado, colocou muita gente no processo ofensivo – muitas vezes a equipa posicionou-se num 2-3-5 -, o que, obviamente, fazia com que a equipa da casa tivesse de defender num bloco mais baixo.
A ousadia dos sintrenses em matar o jogo foi tanta que o golo da equipa da casa surgiu após…contra-ataque. De uma situação de quatro contra três, onde Harramiz e Pedro Ramos acabam por definir muito mal, surge a transição rápida do Amora, que termina em golo do inevitável João Oliveira. No final do encontro, tendo em conta este desfecho, Pedro Caneco teceu críticas a alguns dos atletas mais jovens, considerando que “jogadores que já não têm nada a provar e que têm uma carreira que fala por si correm o jogo todo. Outros, mais novos, que têm muito a mostrar não têm a mesma vontade”. Nuno Presume, por outro lado, elogiou o ponta-de-lança, caraterizando-o como “cada vez mais maduro”, e acrescentou que “há muita vontade nesta equipa. Não só neste João Oliveira, mas em outros ‘Joões Oliveiras’, como é o caso do Renzo ou do Wendel que praticamente não jogavam e que têm ganho cada vez maior protagonismo”.
Não só por ter sido conseguido já no tempo de compensação, mas sobretudo pelo que representa do ponto de vista da classificação e dado o que aconteceu dentro das quatro linhas ao longo dos 90 minutos, é inegável que este foi um resultado bem mais sorridente para a turma do concelho do Seixal. Aliás, neste momento, a equipa do mister Nuno Presume mantém-se na quinta posição, ao passo que o 1.º Dezembro pode descer ao último posto do campeonato. Mais uma vez, este embate refletiu aquilo que já bem sabemos: na Liga 3, os detalhes são ‘pormaiores’.
(Nota: Por erro técnico, não nos foi possível recuperar as declarações dos treinadores ao Bola na Rede e, consequentemente, proceder à transcrição integral das mesmas. Como tal, para não enviesar o que realmente foi dito detalhadamente por ambos os técnicos, abordámos as respostas de uma forma mais geral. Aos leitores, adeptos, treinadores e clubes visados, endereçamos as nossas mais sinceras desculpas).

