O FC Porto vive um momento que convida mais à reflexão do que à desconfiança. A entrada do novo treinador foi tudo menos ruidosa, mas acabou por ser profundamente eficaz. Farioli chegou ao Dragão com ideias claras, um discurso sereno e uma convicção rara: a de que o jogo, quando bem trabalhado, acaba por se impor. Os números confirmam-no. No campeonato, ainda não conheceu o sabor da derrota, e o único empate surgiu frente ao Benfica, num clássico em que o Porto foi, durante largos períodos, a equipa dominante, mais madura com bola e mais consciente sem ela.
Há um mérito evidente na forma como as contratações foram integradas. Não se trata apenas de qualidade individual, mas de adequação. Cada peça parece ter sido escolhida para encaixar no sistema, e não o contrário. O modelo de jogo de Farioli, assente numa construção paciente, numa pressão organizada e numa ocupação racional dos espaços, encontrou nos reforços respostas quase imediatas. É raro, no futebol português, ver uma equipa assimilar tão rapidamente princípios coletivos exigentes, e isso diz muito da competência do treinador e da inteligência do plantel fo FC Porto.


Ainda assim, começam a surgir as inevitáveis interrogações. As últimas vitórias, apesar de justas, foram alcançadas por margens mínimas. Em vários jogos, o FC Porto criou, dominou territorialmente, empurrou o adversário para trás, mas falhou na concretização. Não se pode confundir controlo com conforto, e há encontros em que a falta de eficácia manteve o resultado perigosamente em aberto até ao fim. Esta realidade levanta a questão central: estará o Porto a manter um nível altíssimo sustentável ou começa a dar sinais de quebra?
A memória recente ajuda e também assusta. Na época passada, Farioli liderou um Ajax que jogou bem durante grande parte da temporada, mas que acabou por perder tudo na reta final. Houve desgaste, houve perdas de confiança e, sobretudo, houve um contexto competitivo diferente, mais instável e menos tolerante ao erro. A comparação é inevitável, mas também redutora. A Liga Portuguesa tem as suas especificidades: é mais tática, mais fechada e, muitas vezes, mais previsível no desenho dos jogos. E este Porto, na minha opinião, é mais equipa do que era aquele Ajax. Mais equilibrado, mais consistente emocionalmente e com uma cultura competitiva que sabe lidar melhor com a pressão.


Este FC Porto tem ferramentas. Tem um modelo claro, jogadores comprometidos e uma liderança técnica que não vive de impulsos. Consegue dominar jogos mesmo quando não está inspirado e sabe sofrer sem perder identidade. É evidente que um mau resultado irá acontecer, faz parte de qualquer época longa e exigente. Mas esse eventual tropeço não invalida o essencial: o FC Porto parte para a segunda metade da temporada como o verdadeiro favorito, não apenas pela posição que ocupa, mas pela forma como joga e pelo que transmite.
No futebol, a quebra não se anuncia apenas nos resultados, mas nos sinais invisíveis. E, para já, no Dragão, o que se vê é uma equipa que acredita, que sabe o que faz e que, acima de tudo, parece preparada para continuar no topo.

