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O espelho rachado de Farioli | Nottingham Forest 2-0 FC Porto

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Em Nottingham, o FC Porto de Francesco Farioli não perdeu apenas um jogo de futebol — perdeu uma imagem. A de uma equipa que, até há bem pouco tempo, parecia ter descoberto um equilíbrio entre estética e eficácia, mas que, frente a um adversário de identidade clara e músculo inglês, se desfez na sua própria rigidez.

A derrota por 2-0 diante do Nottingham Forest, ditada por duas grandes penalidades, não foi apenas fruto do acaso ou de erros individuais. Foi o reflexo de uma estrutura que começa a mostrar fissuras e de um modelo que, de tão bem desenhado, se tornou previsível. Nottingham não foi maldição: foi lógica. E a lógica, por vezes, é cruel.

Ora, a primeira parte do FC Porto foi o retrato do que tem vindo a ser o mês de outubro para os dragões — um tempo de quebra, em que o fator surpresa se esgota e o automatismo se transforma em limitação. A equipa de Francesco Farioli entrou em campo sem um verdadeiro criativo, uma decisão que surpreende num treinador que, embora pragmático, tem demonstrado sensibilidade tática e preocupação estética.

Francesco Farioli FC Porto
Fonte: Diogo Cardoso / Bola na Rede

Contra uma equipa de Sean Dyche, de perfil físico e jogo direto, a tentação de robustecer o meio-campo era compreensível. Mas abdicar de Gabri Veiga, o cérebro mais inventivo do plantel, foi um erro que amputou a equipa do seu pensamento. Victor Froholdt foi engolido por Elliot Anderson e Douglas Luiz, dois médios que jogaram de cadeirinha, e Pablo Rosario, colocado como “8”, foi uma nulidade: sem aptidões para receber de costas e virar o jogo, perdeu-se num espaço que não é o seu. É um jogador de choque, não de pausa; de músculo, não de visão.

O FC Porto apresentou-se, assim, lento, previsível e excessivamente académico. Houve posse, mas sem progressão; houve circulação, mas sem sentido. Froholdt, esgotado de tantos 90 minutos acumulados desde julho, foi sombra do jogador que já foi, e o jogo careceu de verticalidade e imaginação. Sem Veiga ou Mora, esperava-se que Borja Sainz e Pepê assumissem o risco nos duelos individuais, mas nenhum deles é talhado para o 1×1 contínuo.

Coube, por isso, a Alberto Costa, o mais audaz dos dragões, assumir esse protagonismo e quebrar a monotonia de passes sem destino. Foi o único capaz de instabilizar o adversário, num coletivo que se limitava a repetir padrões sem convicção. Samu, no corredor central, voltou a expor as suas limitações técnicas e a falta de capacidade associativa — sinal de que, a continuar assim, a sua titularidade durará pouco mais tempo, até porque Deniz Gul e, até, Luuk de Jong (quando regressar de lesão) são muito melhores nessa vertente.

O primeiro golo, nascido de um erro infantil de Bednarek, foi mais simbólico do que decisivo. Um braço mal colocado após um duelo aéreo e a mão que tanto bloqueia remates no Dragão, aqui traiu-o. A grande penalidade convertida por Gibbs-White foi o ponto de rutura emocional da equipa.

Não foi o 1-0 que pesou, foi a sensação de que, mesmo com setenta minutos pela frente, o FC Porto não tinha plano para contrariar o adversário. Houve uma ou outra nuance na saída a partir de trás, mas tudo feito de forma lenta e previsível, sem o rasgo que diferencia o automatismo do pensamento. O futebol de Farioli é, como já deu para perceber, muito minucioso e estudado ao pormenor, mas essa minúcia torna-se um cárcere quando não há criatividade para a romper.

A segunda parte começou com um vislumbre de redenção. O golo anulado a Bednarek, por fora de jogo de Samu, chegou a fazer crer que os dragões podiam reerguer-se. Foi um golpe emocional — não pela perda de um golo que pouco mudaria na prática, mas porque expôs o quanto esta equipa depende de momentos, e não de ideias, para se reconstruir dentro do jogo. O técnico italiano mexeu: entraram Martim Fernandes, Gabri Veiga e William Gomes. O plano, contudo, permaneceu o mesmo. Faltou coragem para quebrar o dogma, para improvisar fora do guião. Farioli manteve o que lhe parecia seguro, e foi essa segurança que lhe retirou a alma.

O segundo penálti, cometido por Martim, é o espelho dessa falta de clareza. Um gesto impensado, num momento em que o FC Porto ainda acreditava, foi o golpe final. Igor Jesus converteu e selou o destino do jogo, mas o essencial já estava decidido antes. O FC Porto não perdeu apenas por erros individuais, mas, isso sim, porque não teve um modelo capaz de responder à adversidade. Perdeu porque foi uma equipa que, ao primeiro abalo, se desorganizou, e ao segundo, se resignou.

Há, naturalmente, atenuantes. O cansaço acumulado de Froholdt é evidente, e a sua quebra física traduz-se em perda de critério. Kiwior, por sua vez, é um central tecnicamente irrepreensível, mas conservador até à inércia: domina o gesto, mas hesita no risco. No futebol moderno, hesitar é meio caminho para se perder o jogo. Rosario, de novo, é o maior símbolo das contradições deste FC Porto: escolhido pela fisicalidade, mas exposto pela incapacidade de pensar o jogo. Entende-se a intenção de Farioli, mas o resultado foi parecido ao do clássico com o Benfica:  uma equipa que parece segura até precisar de criar.

Há, também, um problema estrutural. Desde esse tal jogo com o Benfica, no Dragão, que se percebeu que o FC Porto se tornou refém do seu próprio modelo. Já não surpreende. Os adversários de menor qualidade ainda tremem perante o rigor e o ritmo da circulação portista, mas bastam equipas com um mínimo de organização para desmontar o puzzle.

Aliás, o Nottingham Forest fê-lo com a simplicidade que caracteriza as equipas de Sean Dyche: defesa sólida e coesa, linhas compactas, e um jogo direto que procurava Igor Jesus para fixar os centrais e abrir espaço para Hudson-Odoi e Ndoye. Nada de transcendente. Apenas eficácia, intensidade e leitura. Foi o suficiente para desarmar um FC Porto que, confortável com bola, se revelou incapaz de penetrar.

Mais do que uma derrota, este jogo expôs uma tendência. A equipa de Farioli começou a época com uma energia quase mística — a pressão alta, a recuperação rápida, os automatismos sincronizados. Mas essa energia, hoje, dissipou-se. Este jogo, deve, por isso servir de alerta, uma vez que o que antes surpreendia, agora é previsível, e o que antes encantava, hoje parece programado.

Não há vergonha em perder em Inglaterra. Há vergonha, sim, em perder por falta de identidade num clube que vive dela. O FC Porto apresentou uma versão pálida de si mesmo, sem chama, sem crença, sem o instinto competitivo que tantas vezes o salvou nas noites europeias. Mesmo que o resultado tivesse sido outro, a exibição deixaria a mesma sensação de vazio. Este foi o pior jogo da época, não pelo marcador, mas pelo retrato que deixou.

Há quem diga que Farioli é vítima da sua própria coerência. Talvez seja verdade. Os automatismos são o espelho do trabalho bem feito, mas se o espelho não reflete mais nada, é porque rachou. O FC Porto precisa de reinventar-se antes que a sua própria previsibilidade o consuma. Outubro trouxe o primeiro aviso sério: o tempo do fascínio acabou, começa o tempo da exigência.

No final, entre aplausos resignados dos mais de mil portistas no City Ground, ficou uma certeza amarga — esta equipa ainda não sabe sofrer. E, no futebol europeu, quem não sabe sofrer, não sabe vencer.

Raul Saraiva
Raul Saraiva
O Raúl tem 19 anos e está a tirar a Licenciatura em Ciências da Comunicação. Pretende seguir Jornalismo, de preferência desportivo. Acredita que se aprende diariamente e que, por isso, o desporto pode ser melhor.

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