Finalizado o mercado de transferências, o FC Porto reforçou-se mais do que muitos esperariam uma vez que o clube se encontra a recuperar financeiramente. Jorge Costa, Andoni Zubizarreta e André Villas-Boas arregaçaram as mangas e trouxeram para a Invicta algumas caras novas e inesperadas.
Antes de atacar o mercado, os azuis e brancos procuraram colocar alguns excedentários do plantel, libertando massa salarial e garantindo algum encaixe financeiro. Após a saída de Taremi e Pepe, o FC Porto viu sair Fábio Cardoso, vendeu David Carmo ao Nottingham Forest por onze milhões, conseguiu garantir um encaixe significativo com o empréstimo de Francisco Conceição à Juventus (cerca de sete milhões), emprestou Romário Baró ao Basileia, vendeu Toni Martinez ao Alavés por uma quantia a rondar os dois milhões e, fez um encaixe significativo com a venda de Evanilson ao Bournemouth num negócio a rondar os 40 milhões de euros. Desde logo se percebeu que a intenção da estrutura portista era “limpar a casa” e garantir algum encaixe para então atacar o mercado.
O primeiro reforço a chegar à Invicta foi Deniz Gul, oriundo do Hammarby da Suécia. Trata-se de um projeto de avançado muito interessante e com características diferenciadoras que vão ser trabalhadas no laboratório do Olival. Acredito que não vá pegar de estaca nesta equipa do FC Porto e parta em desvantagem em relação aos colegas de posição. Contudo é uma solução interessante numa posição em que o FC Porto perdeu qualidade com a saída de Taremi. O sueco não foi o único avançado a chegar à Invicta durante o mercado. Samuel Omorodion foi um dos negócios mais inesperados durante a “silly season”. Dado como certo no Chelsea, André Villas-Boas conseguiu trazer o jovem avançado espanhol sem despertar qualquer rumor ou o interesse por parte da imprensa desportiva. Acredito que Samu – como é conhecido – vai ser o ponta de lança titular do FC Porto. Apesar de jovem, é um ponta de lança muito rápido, muito forte a atacar a profundidade e com uma enorme presença na grande área.
Deverá ser o substituto natural de Evanilson apesar de ter características diferentes do antecessor – não é tão dotado tecnicamente. Deniz Gul e Samu chegam com o objetivo de “substituir” Evanilson, Taremi e Toni. A juntar aos dois temos o regresso de Fran Navarro depois de ter feito metade de época na Grécia ao serviço do Olympiacos. A meu ver, o FC Porto esta a trabalhar o futuro uma vez que Deniz Gul e Samu são dois avançados que ainda têm bastante margem de progressão e ainda não são “jogadores feitos” como era o caso de Taremi ou até de Evanilson. Vai perder algum poder de fogo no imediato, mas, bem trabalhados, os reforços podem acrescentar mais que os antecessores. Já Fran Navarro poderá ter um papel preponderante nesta equipa por se tratar do avançado com experiência no meio de tanta juventude.
Fábio Vieira, regressou a casa para tentar assumir o lugar de Francisco Conceição. Jogadores muito distintos, mas que ocupam as mesmas zonas do terreno. Regra geral sou contra empréstimos sem opção de compra porque acredito que os clubes portugueses não se podem dar ao luxo de potenciar jogadores de outras equipas. O caso do Fábio é diferente. É um Dragão – um jogador da casa – e, se for o jogador preponderante que acredito que seja na conquista de títulos, é um empréstimo com algum sentido. Apesar de não ter tido grande espaço no Arsenal, o jogador formado no olival fez algumas boas exibições ao serviço da equipa londrina. Vai ser um jogador que vai acrescentar muito critério no último terço e que pode contribuir ativamente para o sucesso ofensivo da equipa seja com assistências ou golos. A meu ver é o reforço que pode acrescentar mais no imediato, não necessitando de qualquer período de adaptação.
O outro dos reforços que acredito que vá pegar de estaca na equipa azul e branca é o argentino Nehuén Perez. Chega ao FC Porto por empréstimo com opção de compra obrigatória a rondar os 14 milhões. Não é um estranho do futebol português uma vez que já teve uma passagem bem-sucedida em Famalicão. Acredito que pela experiência acumulada em campeonatos com mais visibilidade e mais competitivos que o português, Perez assuma rapidamente protagonismo como o novo “patrão” da defesa azul e branca. É um central jovem que já é internacional pela seleção albiceleste, rápido, sem medo de ter bola e forte na antecipação e nos duelos. Vejo-o a fazer dupla, a curto prazo, com Tiago Djaló. O central português que chegou por empréstimo da Juventus, brilhou na Liga Francesa – fazendo parte do incrível Lille campeão francês – o que o catapultou para o crónico candidato ao título em Itália.
As lesões retardaram o desenvolvimento do jovem defesa, mas acredito que o talento e a qualidade ainda estão lá. Num campeonato menos competitivo, como é o caso do português, Tiago Djaló pode agarrar a oportunidade e, juntamente com Nehuén Perez, Otávio, Zé Pedro e Marcano, dar imensa qualidade à defesa portista que vai ressentir a ausência da lenda Pepe, que deixou o clube neste defeso.
Para a lateral esquerda, o FC Porto resolveu um problema que já era crónico. Foi “pescar” ao Famalicão aquele que para mim, foi o melhor defesa esquerdo na última edição da liga portuguesa. Francisco Moura chegou à Invicta num negócio a rondar os seis milhões de euros (que pechincha!). Nenhum lateral esquerdo do Porto tem mostrado nos últimos anos argumentos para ser titular indiscutível e acredito que Francisco Moura arrume com a discussão e agarre o lugar com relativa facilidade. É um lateral que ataca muito bem a profundidade, tem uma excelente técnica de passe e cruzamento. Além disso é muito competente defensivamente.
No fundo é um mercado quase perfeito do FC Porto. Só não roça a perfeição porque acredito que a equipa vai ter algumas dores de crescimento ao longo da época e que ainda seja “curto” para disputar o título com o Sporting. Os avançados têm potencial, mas ainda têm que “partir muita pedra”, Vasco Sousa vai ter que se reafirmar no meio-campo e aumentar a sua capacidade a médio prazo e os novos patrões da defesa vão ter que se entrosar com a equipa e com as ideias de Vítor Bruno. Apesar de não ser perfeito, é o melhor mercado que o FC Porto faz nos últimos anos – pelo menos o mais coerente – o que o volta a tornar relevante no panorama do futebol português na busca por ativos.
