Fazer esquecer um “reinado” como o de Jorge Nuno Pinto da Costa não é fácil, aliás bem longe disso, tendo em conta os 68 títulos conquistados no futebol depois de 15 mandatos à frente do FC Porto.
O icónico presidente azul e branco deixou os dragões contra a sua própria vontade e debaixo de um clima de insatisfação e gestão danosa, tanto a nível financeiro como desportivo. Por esta altura, sabia-se que o Porto necessitava de uma reestruturação profunda a todos os níveis, começando claro pelo lugar de principal “comandante” dos destinos dos azuis e brancos.
André Villas-Boas é o herdeiro de Pinto da Costa, e assumiu várias vezes a admiração pelo presidente, que curiosamente, conquistou alguns dos seus títulos com o agora presidente dos dragões no banco de suplentes ao leme da equipa principal.
A tarefa de elevar novamente o grande Porto aos mais altos patamares do futebol mundial não é fácil, mas André Villas-Boas preparou muito bem a sua candidatura e traçou um caminho, caminho este que deseja seguir para poder triunfar desportivamente, e recuperar o fôlego financeiro de outros tempos.
A entrada de Zubizarreta foi um movimento absolutamente estratégico e ousado por parte de André Villas-Boas. O novo presidente do FC Porto ganhou um claro aliado na gestão desportiva do seu plantel, com trabalhos reconhecidos em clubes da dimensão do Barcelona, por exemplo, mas também Jorge Costa entrou de novo pela porta grande das “Antas” para trazer de novo a tal mística que o FC Porto havia perdido.
A aposta em Vítor Bruno foi, mais do que interessante, surpreendente, devido à falta de experiência como treinador principal, e até devido à ligação com a anterior equipa técnica, liderada por Sérgio Conceição.
O mercado dos dragões foi agitado, tardio, mas muito eficaz. Mais uma vez, a estrutura azul e branca trabalhou na sombra, completando um plano de mercado traçado nos bastidores, sem que nenhuma ou pouca informação fosse veiculada nos meios da imprensa nacional. O FC Porto conseguiu atrair novamente jogadores interessantes que podem gerar não só rendimento desportivo mas também lucros financeiros no futuro.
As entradas de jogadores como Nehuen Perez, Samuel Omorodion, Deniz Gul, Fábio Vieira, Francisco Moura e Tiago Djaló mostram bem a ambição dos dragões para esta época, mesmo depois de perder jogadores influentes como Francisco Conceição, Pepe ou Evanilson, mas mostrando uma grande capacidade de segurar outros ativos importantes como Galeno ou Diogo Costa, capacidade esta que há uns meses não se registava.
Nehuen Perez chega com condições para se assumir como titular do eixo defensivo da equipa liderada por Vítor Bruno, assim como Fábio Vieira, que substitui Francisco Conceição, tanto na posição como no número de camisola, envergando o mítico dez que já foi de Deco. Tiago Djaló e Francisco Moura, os últimos reforços a chegar à Invicta, vão ser certamente muito importantes tendo em conta os recorrentes problemas que têm existido nas faixas laterais da defesa azul e branca, por isso, o jovem jogador que pertence aos quadros da “Vecchia Signora” pode ser uma carta importante no baralho de Vítor Bruno para assegurar a lateral direita dos dragões, ao passo que Francisco Moura, ex-Famalicão, vai dar certamente muita luta a Wendell pela posição de lateral esquerdo.
Estes movimentos de mercado fazem todo o sentido e mostram a grande gestão da estrutura dos dragões, que contratou “cirurgicamente” dois jogadores que chegam para serem, na teoria, titulares, e que vão manter certamente os níveis de rendimento desportivo dos seus antecessores. Nos casos de Samuel Omorodion e Deniz Gul, é ligeiramente diferente.
Samuel chega do Atlético de Madrid numa transferência completamente surpreendente, ele que até esteve com pé e meio no Chelsea, por um valor também ele surpreendente, para suprir a saída do importante Evanilson, que rumou a Inglaterra para jogar no Bournemouth.
Deniz Gul chega do Hammarby como uma grande promessa, sendo que o seu papel no plantel azul e branco deverá ser, pelo menos numa fase inicial, secundário, ao contrário de “Samu”, que chega para ser imediatamente opção para o onze titular.
Mas também no campo das vendas, a gestão foi executada com competência e privilegiando o rendimento desportivo coletivo. Para além de Francisco, Pepe e Evanilson, o Porto colocou ainda David Carmo, Toni Martínez, Romário Baró e Fábio Cardoso, reduzindo também a massa salarial.
Pessoalmente, gostaria de dar publicamente os meus parabéns a André Villas-Boas pela gestão eficaz dos recursos que tem à sua disposição, mas gostava também de referir um ponto que para mim é muito importante.
Sei que o Porto é um clube enorme, onde ganhar tem de estar sempre na ordem do dia, assim como Benfica e Sporting, no entanto, acredito que esta é uma fase de transição muito importante e, por isso, deve existir paciência e confiança por parte da massa adepta no projeto dos dragões, que não está a ser planeado a curto prazo, mas sim a médio/longo prazo.
Não sei se, a nível desportivo, o Porto vai ser já feliz durante esta época, no entanto, o caminho está a ser traçado e planeado com conta, peso e medida, para que possamos assistir ao renascer perfeito de um dragão ferido.