Respeitar a história | FC Porto

    O FC Porto está nos oitavos de final da mais importante prova de clubes a nível europeu. Já na última jornada, os comandados de Sérgio Conceição juntaram a cereja do primeiro lugar ao apuramento conseguido na jornada anterior.

    Começo, portanto, por dar os parabéns aos jogadores e treinadores e a todas as pessoas envolvidas no dia-a-dia do clube. É mais um marco importante na vida do FC Porto que respeita, novamente, a sua história e os seus pergaminhos. À relevância desportiva, junta-se a importância financeira, já que a permanência na competição representa mais um balão de oxigénio de muitos milhões de euros imprescindíveis para a tesouraria do clube.

    O final inteiramente justo e muito feliz esconde um começo de contornos dramáticos. Antes de arrancar para quatro triunfos categóricos consecutivos, a equipa viveu momentos, cada um à sua maneira, de contornos terroríficos.

    A campanha portista na edição 2022/2023 da Liga dos Campeões arrancou, no início de Setembro, em Madrid, frente ao Atlético local. O FC Porto até fez um jogo de grande personalidade e merecia ter deixado a capital espanhola com pelo menos um ponto na bagagem. Tal não sucedeu.

    A expulsão de Taremi, o golo do empate de Uribe e a estocada final de Griezmann naquele que foi o golo mais tardio da história da competição converteram o jogo numa montanha-russa de emoções que culminaram numa derrota animicamente pesada que atrasava a equipa, desde cedo, na classificação do grupo.

    Stephen Eustáquio Antonio Nusa FC Porto Club Brugge KV
    Fonte: Diogo Cardoso Bola na Rede

    Quando, pouco tempo depois, todos os portistas esperavam que, em casa, frente ao adversário do pote 4, a equipa corrigisse o resultado de Madrid e recuperasse o trilho do sucesso, o Estádio do Dragão deu palco a um filme de terror que fica na retina como uma das piores exibições e derrotas do clube a nível europeu. Sem que nada o fizesse prever, o Club Brugge destroçou os azuis e brancos por 0-4 e saiu líder incontestável da casa portista. O FC Porto afundava-se no último lugar do grupo.

    E o resto (perdoem-me a expressão) é história.

    Entre a espada e a parede, jogadores e equipa técnica, uniram-se em torno de um objetivo e cumpriram um sensacional pleno de vitórias até à última jornada. Os doze pontos acumulados chegaram e sobraram para a ultrapassagem a toda a concorrência e selaram o carimbo no passaporte para a fase seguinte.

    O FC Porto começou por bater o Leverkusen, no Estádio do Dragão, por 2-0, num jogo que podia ter afastado os dragões, praticamente em definitivo, das aspirações de seguir em frente. Não contentes com uma sólida vitória frente ao conjunto alemão, os azuis e brancos reassumem a candidatura a uma vaga na fase seguinte em mais uma contundente vitória, desta feita na Alemanha. Do duplo confronto com o Leverkusen resultaram seis pontos, cinco golos marcados, zero sofridos, a afirmação planetária de Diogo Costa, que defendeu um penalty em cada jogo, e a redenção de Mehdi Taremi.

    Já no segundo lugar do grupo, o FC Porto deslocou-se a Brugge para cumprir um episódio de justiça poética. Às cavalitas de mais um brilharete de Diogo Costa, que voltou a parar uma grande penalidade, o 0-4 da primeira volta foi devolvido na mesma quantia e a equipa belga, que acompanha o FC Porto para a próxima fase, saiu banalizada perante uma exibição muito completa de equipa portista.

    Com o apuramento no bolso, a chave de ouro chegou na última jornada. O FC Porto, num jogo onde apresentou uma gritante superioridade, venceu o Atlético de Madrid por 2-1 e garantiu o primeiro lugar do grupo.

    Quando venceu, e mesmo quando perdeu, o FC Porto mostrou quase sempre ser, a alguma distância, a melhor equipa do grupo. O surpreendente Brugge também segue em frente, o Leverkusen cai para a Liga Europa e o Atlético de Madrid salta fora das competições europeias em mais uma demonstração da incapacidade de Diego Simeone em converter em bom futebol o imenso talento de que dispõe no seu plantel.

    Dedico os últimos parágrafos a alguns destaques individuais.

    Fonte: Diogo Cardoso/Bola na Rede

    Diogo Costa assumiu-se como um dos guarda-redes em maior destaque na Europa do futebol e foi em cima das defesas que fez, em momentos tão decisivos de cada um dos jogos, que a equipa construiu as vitórias e os pontos necessários para seguir em frente.

    Otávio é a pedra basilar da equipa do FC Porto. Todo o jogo da equipa depende em larga medida daquilo que o internacional português é capaz de fazer. Essencial a atacar e a defender, fecha a fase de grupos com variados momentos de brilhantismo e classe.

    Mehdi Taremi é um dos avançados mais inteligentes que eu vi jogar. Não é o melhor dos finalizadores e talvez assim se explique que jogue no FC Porto e não em campeonatos com outro poderio económico. Terminou a fase de grupos com cinco golos, mas são os momentos de trabalho em prol da equipa, seja na movimentação ou no passe, que ficam na retina.

    Ao nível dos jogadores, deixo um último destaque para Pepê, que desequilibra e deslumbra em qualquer posição do campo que ocupe e que se começa a candidatar seriamente a uma avultada transferência no próximo verão e para Galeno que, “em pezinhos de lã”, se foi assumindo no onze do FC Porto e que é, por esta altura, essencial na manobra ofensiva da equipa.

    Guardo, então, uma última palavra para Sérgio Conceição e para a sua equipa técnica. Uma vez mais, uma límpida e vivida prova da sua competência. No palco europeu voltam a apresentar uma equipa sólida, madura, matreira, disciplinada e de uma alma imensa. A serenidade com que lidaram com o mau começo (e com o episódio lamentável do ataque à família do treinador) e o rigor e brilhantismo com que enfrentaram os quatro jogos seguintes são mais uma bonita página no livro de sucessos que têm acumulado desde que desde que assumiram os destinos da equipa, no contexto complexo que se conhece e que perdura. Estou certo que, se um dia tiverem a oportunidade, ao serviço de uma equipa com outra capacidade financeira, poderão chegar a patamares de excelência.

    Por enquanto, fazem-nos sonhar. Venha o sorteio.

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    Bernardo Lobo Xavier
    Bernardo Lobo Xavierhttp://www.bolanarede.pt
    Fervoroso adepto do futebol que é, desde o berço, a sua grande paixão. Seja no ecrã de um computador a jogar Football Manager, num sintético a jogar com amigos ou, outrora, como praticante federado ou nos fins-de-semana passados no sofá a ver a Sporttv, anda sempre de braço dado com o desporto rei. Adepto e sócio do FC Porto e presença assídua no Estádio do Dragão. Lá fora sofre, desde tenra idade, pelo FC Barcelona. Guarda, ainda, um carinho muito especial pela Académica de Coimbra, clube do seu pai e da sua terra natal. De entre outros gostos destacam-se o fantástico campeonato norte-americano de basquetebol (NBA) e o circuito mundial de ténis, desporto do qual chegou, também, a ser praticante.