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Um título também se constrói assim | Tondela 0-2 FC Porto

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O jogo em Tondela, entre beirões e dragões, abriu-se como um daqueles desafios que parecem querer medir a temperatura emocional de uma equipa candidata ao título, neste caso o FC Porto, revelando desde cedo uma estranha mistura de ansiedade, contenção e expectativa.

Desta forma, a primeira parte no Estádio João Cardoso foi isso mesmo, ou seja, um teste. Não tanto ao FC Porto enquanto equipa, mas sobretudo à capacidade de quem o acompanha perceber o que esta equipa quer ser quando a bola teima em não entrar.

Sentia-se essa inquietação e impaciência a crescer, com trinta minutos demasiado apáticos, demasiado lentos para uma equipa que tinha a obrigação — sim, a obrigação — de ganhar para aumentar a distância para Sporting e Benfica. Depois do empate no dérbi da Luz, havia ali um convite escancarado. Vencer significava cinco pontos de almofada sobre os leões e oito sobre as águias. Não era um jogo apenas para cumprir calendário; era um daqueles jogos em que se mede a fibra de um candidato ao título.

E por isso mesmo, antes do apito inicial, confesso que esperava ver Borja Sainz no onze. Com golo, com atrevimento, com a capacidade de romper no um para um, parecia-me uma escolha natural. Ainda para mais com Gabri Veiga condicionado fisicamente, o que tornava previsível a sua ausência inicial, prontamente rendido por Rodrigo Mora.

Mas Farioli decidiu de outra forma e o treinador tem, como é óbvio, direito à sua convicção, mesmo que por vezes colida com a do adepto comum. A verdade é que o FC Porto apresentou um onze que procurava controlar cedo o jogo, assumir desde o primeiro passo que viera para resolver a questão com autoridade. Pelo menos era essa a intenção.

Só que o futebol não respeita intenções. Respeita execução. E na primeira meia hora, essa execução esteve longe de ser compatível com a responsabilidade do momento. Tudo muito lento, denunciado, previsível, como se cada ataque tivesse de ser anunciado por comunicado prévio. O Tondela, organizado por Cristiano Bacci com um bloco compacto, linhas bastante juntas e um espírito competitivo sublime, permitiu-se sonhar, embora talvez porque, lá está, o FC Porto lhe tenha dado essa margem.

Cristiano Bacci Tondela
Fonte: Paulo Ladeira / Bola na Rede

Sim, houve três grandes defesas de Bernardo Fontes nesse período, e isso não pode ser apagado do registo. É um guarda-redes de enorme qualidade, e já vinha de uma exibição tremenda frente ao Sporting, apesar da derrota, na altura, por 0-3. Mas quando o perigo do FC Porto se resume quase exclusivamente às defesas do guarda-redes contrário, algo está fora do sítio. E estava, de facto.

Aos 33 minutos, o que parecia ser o golo inaugural surgiu numa jogada de insistência e luta de Froholdt, com Rodrigo Mora a empurrar para dentro. E por breves segundos senti que a equipa tinha sacudido a teia. Mas o VAR seria implacável, pois assinalou fora de jogo — 25 centímetros a condenar a explosão de alívio. A noite prometia ser longa.

E ainda mais longa quando o Tondela, mesmo em cima do intervalo, faz balançar as redes de Diogo Costa num livre indireto lateral. Um instante de choque, até que se percebe a falta ofensiva e o golo é, também, anulado.

A verdade é que estes sinais, estes abanões, compunham um retrato nítido, isto é, o FC Porto não mandou na primeira parte, esteve amarrado a um ataque posicional previsível, sufocado pela marcação inteligente ao seu “6”, Alan Varela.

Foi aqui que se evidenciou outra das minhas notas prévias ao jogo. Tinha sérias dúvidas de que Farioli estivesse a encontrar soluções rítmicas quando o adversário bloqueava a saída pelo corredor central. E a primeira parte confirmou tudo. Froholdt e Mora demasiado distantes, lateralização constante, ausência de qualquer criatividade associativa. Sem vantagem criada no miolo, era difícil pedir magia ao último terço.

Victor Froholdt FC Porto
Fonte: Paulo Ladeira / Bola na Rede

Mas este FC Porto tem uma característica que distingue campeões dos meros candidatos, a de que não precisa de jogar bem durante muitos minutos para matar um jogo. E o segundo tempo começou por ser uma prova bem clara disso mesmo.

Aos 47 minutos, canto batido à direita por Rodrigo Mora, Kiwior sobe imperioso e obriga Bernardo Fontes a mais uma defesa extraordinária. A bola sobra para Samu, que um mês depois reencontra o golo no campeonato, e não falha. Uma recarga, um gesto simples, mas que desbloqueia um jogo inteiro. Finalmente, o marcador abria de forma oficial.

E no minuto seguinte (não exagero) o jogo resolveu-se por completo. O famoso “no melhor pano cai a nódoa” materializou-se na saída para trás do Tondela. Bernardo Fontes, pressionado de forma inteligente por William Gomes, demora uma eternidade com a bola nos pés. Erro inadmissível naquele contexto, num guardião que até ali tinha sido muralha. William, sagaz e incisivo, recupera, finaliza e fixa o 0-2. Dois minutos, dois golpes, uma certeza: o FC Porto não iria largar esta vitória.

É curioso como é o futebol. Uma primeira parte sem brilho, incapaz de abrir caminho, e de repente, em dois minutos, tudo desaba para um lado e se ilumina para o outro. O FC Porto sentenciou ali o jogo, e o Tondela, que tinha sido um bloco compacto e corajoso, tornou-se, naqueles instantes, uma sombra da sua própria organização.

A partir daí, foi controlar. E controlar com serenidade. Farioli geriu, retirou William, Mora e Pepê para evitar desgaste excessivo, e a equipa passou a circular, a respirar com calma, a manipular o ritmo do desafio. O Tondela, já abalado pela saída forçada de Moudjatovic e com várias substituições de gestão de esforço, tinha perdido o fio competitivo do seu jogo.

Ainda assim, houve tempo para Samu roçar o terceiro, para Borja Sainz, já dentro de área, assustar quem estava na bancada, e para Maviram testar a baliza de Diogo Costa, mas nada com impacto real no destino do encontro. O resultado estava fechado desde os tais dois minutos de tempestade portista.

No final, fica a vitória, que foi segura, adulta, pragmática. E fica outra ideia que não consigo evitar. Ora, a de que o FC Porto reforça uma vantagem que só perderá se for demasiado incompetente. A frase é dura, mas é assim que vejo o contexto. Esta equipa tem um padrão que se vem repetindo, que é o facto de mesmo quando não encanta, ganha na mesma. Quando não flui, encontra soluções na bola parada e na pressão alta, e isso vale tanto como o futebol mais vistoso. Este FC Porto tem consistência pontual histórica, uma solidez que não treme ao primeiro contratempo.

Francesco Farioli FC Porto
Fonte: Paulo Ladeira / Bola na Rede

Sim, ainda vejo lacunas claras no processo ofensivo. Continuo a acreditar que a rigidez estrutural de Farioli precisa de ser revista quando os adversários fecham o corredor central. É preciso criatividade, é preciso arriscar mais entre linhas, é preciso desatar nós quando o jogo embrulha. Mas também reconheço que equipa reage, procura o resultado, não entra num estado de pânico. E isso é ouro num campeonato que se decide nos detalhes.

A vantagem pontual é real, é pesada, e tem impacto emocional nos rivais. O FC Porto chegará à 14.ª jornada com uma almofada que merece respeito e com a sensação de que, mesmo sem deslumbrar, é muito difícil retirá-lo lá de cima.

E termino com uma reflexão que reapareceu várias vezes durante o jogo: quando se fecha o corredor central ao FC Porto, é muito difícil gerar perigo pelo coletivo. Pepê e Moura vão-se entendendo pela esquerda e William desenrasca sozinho pela direita, mas sabe a pouco. O jogo deste domingo reforçou isso mesmo. E reforçou outra coisa: Bernardo Fontes continua a fazer uma época extraordinária, porque não é um erro isolado que define um guarda-redes. O seu trabalho antes disso manteve o Tondela vivo durante 45 minutos e isso também faz parte desta história.

No Estádio João Cardoso, o FC Porto não brilhou, mas ganhou, e, às vezes, é esse pragmatismo que faz campeões. Aqui, foi isso que ficou. Aqui, o Porto respirou fundo, entrou no segundo tempo como quem sabe que tem de mandar, e decidiu que não ia vacilar. E não vacilou.

Raul Saraiva
Raul Saraiva
O Raúl tem 19 anos e está a tirar a Licenciatura em Ciências da Comunicação. Pretende seguir Jornalismo, de preferência desportivo. Acredita que se aprende diariamente e que, por isso, o desporto pode ser melhor.

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