O SC Braga tropeçou no momento errado. Com o pódio à vista e o público do Municipal em peso, a equipa de Carvalhal cedeu um empate a uma bola frente a um Santa Clara robusto, que soube resistir, adaptar-se e até ameaçar vencer. Um jogo em que o talento de Ricardo Horta anulou a frieza de Ricardinho, mas em que o pragmatismo insular travou a vontade minhota.
O jogo mal tinha começado e já o Santa Clara gritava vantagem. A jogada que abriu o marcador aos seis minutos foi puro manual de Vasco Matos: MT rasga com um passe inteligente, Calila galga a ala direita nas costas de Gharbi e coloca a bola na medida exata para Ricardinho aparecer na zona de finalização. O jovem avançado não perdoou, e com o seu terceiro golo em dois jogos, gelou a Pedreira.
Não é só eficácia ofensiva que caracteriza este Santa Clara. Com linhas recuadas num disciplinado 5x4x1, a equipa insular mostrou uma solidez notável, sabendo quando baixar o ritmo e quando travar o jogo. Não encantam pela estética, mas encantam pela eficácia, são inteligentes nas dobras, compactos no centro e perigosos nas transições. Uma armadura tática.
A resposta do Braga foi emocional. Mais posse, mais bola, mais iniciativa. Mas também mais nervosismo. A juventude da equipa de Carvalhal, por vezes tão cativante, revelou ansiedade na tomada de decisão. Ricardo Horta tentava agarrar o jogo, Zalazar oferecia dinâmica, e Vítor Gómez dava largura, mas a muralha vermelha e preta mantinha-se firme.
As melhores chances da primeira parte ainda assim foram dos da casa, com Gabriel Batista a ser chamado a intervir em cima do intervalo. Niakaté, de cabeça aos 45+1’, e Gómez, pouco depois, viram os seus remates travados por defesas do guardião brasileiro.
A segunda parte arrancou com outra intensidade. O Braga reapareceu com mais convicção e foi preciso um rasgo de classe para restabelecer a igualdade. Aos 47 minutos, combinação rápida entre Gómez e Horta, com o capitão dos guerreiros a finalizar com a calma de quem já viu (e fez) tudo: 138.º golo ao serviço do clube e mais um momento decisivo para o camisola 21.
Parecia o prenúncio de uma reviravolta. Mas o Santa Clara, mesmo recuado, nunca perdeu o norte. Vasco Matos leu bem o jogo, refrescou o meio-campo e soube quebrar o ritmo. Carvalhal arriscou: lançou Roger, Patrão e Gabri Martinez, à procura de mais presença ofensiva, mas o ímpeto perdeu-se no congestionamento.
E quem esteve mais perto do golo final até foram os visitantes. Gabriel Silva, aos 72’, obrigou Hornicek a uma defesa crucial e, já nos descontos, Vínicius quase calou Braga com um remate traiçoeiro que passou a centímetros do poste. O empate soube a pouco aos minhotos, mas esteve perto de saber a nada.
O SC Braga falha assim o salto para o terceiro lugar, e fica dependente do Porto para subir ao pódio. O Santa Clara, com este ponto, prossegue com a sua ambição europeia, garantindo, para já, a 6.ª posição. Um jogo que espelhou as identidades de ambas as equipas, com um Braga emocional e talentoso e um Santa Clara sólido e cerebral. Ainda há muito a decidir para estas duas formações nos últimas duas partidas.