Moreirense FC 2-1 CS Marítimo: A goleada e o susto estiveram à vista

    A CRÓNICA: O MOREIRENSE FC BEBEU UM PIRES E MEIO DE PONCHA

    Nos confrontos que contrapõem Moreirense FC e CS Marítimo, a tendência dita que a história sorri poucas vezes aos insulares: o último triunfo no Estádio Comendador Joaquim de Almeida Freitas remonta à época de 2016/2017, aclamado por um tento solitário de Fransérgio (0-1).

    A onda de resultados positiva dos madeirenses foi travada na jornada transacta pelo Portimonense SC (1-2), depois da surpreendente vitória no reduto dos dragões (2-3). Por sua vez, os cónegos somam dois empates seguidos, frente a Belenenses SAD (fora) e FC Boavista (casa). Destaca-se, ainda, a ausência de derrotas no seu covil.

    No campo de batalha, o primeiro quarto de hora foi disputado, primordialmente, na zona central do terreno. Algumas entradas mais ríspidas, jogo aéreo mais frequente e procura infrutífera dos flancos, bem como pela profundidade que os avançados conferem a ambas as equipas.

    De súbito, intensificou-se a chuva e só podia constituir um sinal superior. Golo do Moreirense FC: Pires, após passe de Filipe Soares e perda de bola adversária, desmarca Pires que, com um remate seco e portentoso, faz a bola embater em China; na tentativa de sacudir para canto, Abedzadeh introduz a bola na própria baliza. O placard alterou-se! 1-0!

    A densidade do relvado não possibilitou a troca de bola nem o futebol com algum espetáculo. Por isso, através de bolas paradas, o CS Marítimo causava algum alarido na área adversária pela tensão dos cruzamentos de China.

    À passagem do minuto 35, Jean Irmer trava a impulsão de Fábio Pacheco no terreno e acaba expulso: contratempo para a equipa insular. Na sequência do livre, Steven Vitória ganha nas alturas e faz embater a bola no poste direito.

    A expulsão tranquilizou a equipa da casa: os espaços vazios do meio campo foram dominados com uma eficiência maior e os ataques lançados à área maritimista prenunciavam o segundo golo e dupla vantagem dos da casa. Filipe Soares, aos 44 minutos, foi perdulário e não assentiu ao pressentimento.

    Uma investida insular tímida ganhou canto. Na sequência do mesmo, um alívio de Steven Vitória encontrou os pés de Filipe Soares que, calcorreando de área a área, deposita em Pires; este assiste Pedro Nuno, que só foi responsável pela tarefa de encostar para a baliza. 2-0! Dupla vantagem cónega e intervalo no Comendador Joaquim de Almeida Freitas!

    O apito soou e a segunda parte teve início. Cinco minutos volvidos e Pires, de fora da grande área, envia à baliza à guarda de Abedzadeh: este não agarrou à primeira e, só com a pressão da corrida de Filipe Soares, atirou para canto. O perigo morava na área maritimista.

    Os pupilos de Lito Vidigal, comparativamente à primeira metade do encontro, demonstravam atrevimento e incidiam os seus projetos ofensivos na disponibilidade quer de J. Tageu, Rodrigo Pinho e F. Tamuzo. Por sua vez, o Moreirense FC, aquando dos momentos de posse, desenhava diversas triangulações, em especial enfoque para Pires e Pedro Nuno.

    O minuto 68 compõe uma tentativa frustrada de sentenciar, de vez, o encontro: Pires, através de um contra-ataque explosivo, avança até ao limite e remata; o guarda-redes iranino, numa mostra de qualidade e experiência, executa a saída dos postes e a mancha in extremis.

    Na sequência do sufoco ofensivo perpetrado pelo Moreirense FC, Galego, recém-entrado, é solicitado por Filipe Soares, mas desperdiça na cara de Abedzadeh.

    A avalanche dianteira dos cónegos permanecia: Ferraresi, aproveitando um ressalto proveniente do remate de Filipe Soares, constrói uma investida individual e remate à figura do guarda-redes iraniano, que sacode para canto.

    Contra a corrente do jogo, através de um cruzamento de China, Zainadine desvia para a baliza de M. Pasinato e reduz. De repente, a partida ganha outra cor e o que estava – aparentemente – sem vida, transforma-se. 2-1! O placard volta a sofrer modificação.

    A partida estava relançada. Contudo, o jogo de sentido único prevaleceu sobre um incidente solitário e que podia ter conferido ao embate um sentido distinto. Apito final! O Moreirense FC regressa às vitórias, depois de três jogos sem a saborear.

     

     

    A FIGURA

    Pires – a preponderância do avançado (ex-Hoffenheim) fez-se sentir ao longo dos 90 minutos. Ofensivamente, destaca-se a assistência e o golo, para além de toda a disponibilidade e frescura física, a velocidade e assombro da baliza adversária, através de sucessivos remata. A cereja no topo da sua exibição foi-lhe negada, injustamente. Por momentos, fez esquecer o contributo essencial outorgado por Fábio Abreu.

    O FORA DE JOGO

    Jean Irmer – o médio defensivo esteve no campo durante pouco mais de meia hora. A equipa, desde o início da partida, apresentou dificuldades na segurança e controlo da zona central do terreno e o médio não atendeu a esta súplica: foi, sem rodeios, displicente na forma como abordou os lances através dos quais sofreu sanções disciplinares. Comprometeu uma exibição e um resultado que podia ter conhecido outro fim.

     

    ANÁLISE TÁTICA – MOREIRENSE FC

    Ricardo Soares apostou num 4x4x2 ofensivo, com Pires e Walterson responsáveis pelas alas e destinando Alex Soares e Pedro Nuno as funções de homens mais adiantados no terreno. Destaca-se a titularidade do central adaptado ao lado direito da defesa Ferraresi e a lesão de Pedro Amador, substituído por Afonso Figueiredo, naquela que corresponde à sua estreia com a camisola dos cónegos.

    Durante a primeira metade, no lado dos cónegos, os mais solicitados para tarefas ofensivas eram Pires e Walterson, sempre com o alicerce de Filipe Soares, box-to-box que descaía para ambos as alas. Além disto, sinaliza-se as constantes armadilhas de fora-de-jogo que a defesa do Moreirense FC construía ao setor ofensivo adversário.

    Segunda parte tranquila e com o comando da partida. Pressão alta e subida no terreno, aposta na velocidade dos extremos e na construção a partir de zonas mais interiores, apostando na criatividade ora de Pires, ora de Filipe Soares, ora de Alex Soares. Setores coesos e aproximados, bloqueio da maior ameaça possível (Rodrigo Pinho) e ambição a comandar as hostes.

    ONZE INICIAL E PONTUAÇÕES

    M. Pasinato (5)

    Rosic (6)

    Ferraresi (6)

    Fábio Pacheco (7)

    Pires (8)

    S. Vitória (6)

    Filipe S. (7)

    Afonso Figueiredo (6)

    Alex Soares (7)

    Pedro Nuno (6)

    Walterson (5)

     

    SUBS UTILIZADOS

    Galego (5)

    Matheus (5)

    Lucas Silva (-)

    Franco (-)

    David Tavares (-)

     

    ANÁLISE TÁTICA – CS MARÍTIMO

    O treinador dos insulares, José Vidigal, gizou um 3x5x2 com o simples intento de projetar os perigosos contra-ataques pelos quais a equipa foi reconhecida, por exemplo, no Estádio do Dragão. Agostinho saía, Bambock entrava no setor mais adiantado do terreno.

    Na primeira parte, as investidas do CS Marítimo eram maioritariamente efetuadas pela demanda da profundidade e rapidez de Edgar Costa e Rodrigo Pinho. Assinala-se a pouca assertividade e o posicionamento dúbio nos dois lances de golo por parte do setor mais recuado.

    A segunda metade foi vítima de alguma conformidade com o resultado. Linhas recuadas face à inferioridade numérica, médios com ausência de apoio dos extremos no combate que teimou em existir no meio campo, flancos com pouco entrosamento e ausência de agressividade foram fatores que persistiram.

    A equipa maritimista despertou nos instantes finais da partida e ainda assustou os cónegos, ainda que sem que se esperasse.

    ONZE INICIAL E PONTUAÇÕES

    Abedzadeh (6)

    Cláudio Winck (5)

    Lucas Áfrico (5)

    Zainadine (5)

    Jean Irmer (3)

    Correa (4)

    Rodrigo Pinho (5)

    Edgar Costa (4)

    Bambock (5)

    René Santos (5)

    China (5)

    SUBS UTILIZADOS

    F. Tamuzo (5)

    J. Tageu (5)

    Kibe (4)

    Jean Cléber (4)

    Alipur (-)

     

    BnR NA CONFERÊNCIA

    MOREIRENSE FC

    BnR: Mister, boa noite. Quando Felipe Pires foi substituído, foi percetível um abraço e uma troca de sorrisos entre ambos. O que significou?

    Ricardo Soares: Gratidão, essencialmente gratidão. Quando os jogadores se superam, só pode ser essa a mensagem que posso retribuir. Existe uma relação profissional e uma relação afetiva entre treinadores e jogadores. Eu acredito nas duas, há quem não acredite. Jogadores que se esforçam e que possuem ambição de querer sempre mais têm sempre o meu apoio e o meu sorriso. A equipa tem uma margem de progressão enorme, o Felipe Pires tem uma margem de progressão enorme também, é um belíssimo jogador, como tantos outros que compõe o nosso plantel. Com esta atitude de grupo, estou certo de que mais coisas boas virão e que as alegrias se vão multiplicar.

     

    CS MARÍTMO

    BnR: Como é que analisa a partida?

    José Vidigal: Um jogo que começa bem, bem disputado, nós um pouco por cima. Entretanto, o jogo equilibra-se. Aos 30 minutos de jogo, a expulsão dificulta-nos a vida e , de certa forma, carece de alguma justiça. A partir daí, o Moreirense FC superioriza-se. Ao intervalo, existiu uma conversa positiva com os jogadores, eles perceberam a mensagem. Na segunda parte, não conseguimos entrar com o ímpeto que pretendíamos. No entanto, reorganizamo-nos. Foram feitas diversas alterações na tentativa de alterar o resultado. Os jogadores do Moreirense FC passaram boa parte da segunda metade no chão e isso não foi tido em conta na compensação dada ao fim dos 90 minutos. Só uma equipa mentalmente muito forte consegue procurar o golo em inferioridade numérica. Resta dar os parabéns aos meus jogadores e pensar no próximo jogo.

     

     

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    Romão Rodrigues
    Romão Rodrigueshttp://www.bolanarede.pt
    Em primeira mão, a informação que considera útil: cruza pensamentos, cabeceia análises sobre futebol e tenta marcar opiniões sobre o universo que o rege. Depois, o que considera acessório: Romão Rodrigues, estudante universitário e apaixonado pelas Letras.                                                                                                                                                 O Romão escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.