Rodrigo Pinho e a fome que deu lugar à fartura

A uns dias do Dia dos Namorados espalham-se por todo o lado anúncios publicitários, vídeos e excertos de filmes com o mesmo enredo: um casal apaixonado debaixo da chuva a viver uma história de amor idílica. Na Reboleira e depois de sete jogos de separação, o Estrela da Amadora e a bola voltaram a trocar carícias. Rodrigo Pinho e Léo Jabá, os amantes principais, levaram a bola para casa sob o olhar atento de Nakamura.

O guardião nipónico deu ao filme romântico, que teve o Estádio José Gomes como cenário, um final previsível. Mal os créditos iniciais terminaram e já se adivinha um final feliz para o conjunto tricolor. Se foi a chuva, a paixão desenfreada do outro lado do terreno ou a desconcentração não importa, mas as duas falhas do guarda-redes do Portimonense em dois lances de bola parada condicionaram o jogo. Nos entretantos, brilhou Rodrigo Pinho.

O ponta de lança brasileiro regressou a Portugal depois de uma passagem sem grande sucesso pelo Coritiba. Rodrigo Pinho não é um desconhecido no futebol português e tem um historial de brilhar quando veste camisolas verdes e vermelhas. A passagem pelo Marítimo foi repleta de bom futebol e só o timing errado para uma transferência para o Benfica e uma complicada rotura dos ligamentos cruzados o impediram de ter sucesso nos encarnados. De regresso a Portugal, Rodrigo Pinho ainda está a carburar os motores, mas já se ouve o carro acelerar… ou travar.

Num clube que procura atrair o adversário para criar espaço para acelerar, Rodrigo Pinho é anticlímax. Quando todos procuram a vertigem e a velocidade, Rodrigo Pinho abraça a pausa. Num clube com alas que gostam de se projetar pelo corredor e com extremos imprevisíveis e irreverentes que procuram constantemente ruturas nas costas dos defesas ou receber em condições para encarar o adversário, Rodrigo Pinho pode tornar-se a peça fundamental para toda a engrenagem funcionar. Recua no terreno, atrai defesas e permite sustentar a saída. Joga em apoio, enquadra os colegas e define com qualidade. O toque subtil com que isola Léo Jabá no lance do segundo golo do Estrela da Amadora vale a repetição e colocar o vídeo em pausa, como Rodrigo Pinho tanto o gosta de fazer.

O Estrela da Amadora deparou-se com as falhas defensivas do Portimonense (dificuldades na basculação e no preenchimento dos espaços defensivos, com o lado contrário à bola constantemente desprotegido) e sentenciou a partida à meia hora de jogo. Depois de sete vitórias consecutivas, a receita para o sucesso chegou rápido e nem as tentativas de mudar alguma coisa de Paulo Sérgio resistiram.

Na primeira parte o Portimonense esteve sempre mais próximo de sofrer do que de voltar a marcar. Paulo Sérgio fez entrar Sylvester Jasper aos 17 minutos e transformou Hélio Varela num ala esquerdo com claro pendor ofensivo. Voltou a sofrer e aos 31 minutos voltou a recorrer ao banco. Ronni Carrillo entrou para o lugar de Lucas Ventura e o Portimonense abandonou a estrutura com três centrais e arriscou num 4-2-4 com dois avançados muito dados ao combate com os defesas do Estrela da Amadora (mas em inferioridade numérica) e com uma tentativa de pressão alta. A linha defensiva ao nível do meio-campo espelha uma ousadia misturada de irresponsabilidade e o Portimonense deixou espaço entrelinhas (os dois médios marcavam os médios do Estrela da Amadora e deixavam espaço nas costas) e nas costas da defesa. Alguma falta de acerto em algumas decisões e passes impediu o resultado de levar contornos ainda mais volumosos.

A mudança mais efetiva chegou mesmo aos 66 minutos com as entradas de Taichi Fukui e de Rodrigo Martins. O médio japonês tem formação no Bayern Munique e, em circunstâncias difíceis, teve impacto. Retirou responsabilidade das costas de Carlinhos – é um verdadeiro faz-tudo que tanto chega à entrada da área para definir como se coloca entre os centrais para facilitar a saída de bola – e organizou, em conjunto com o brasileiro, já na mesma linha dos centrais, o jogo do Portimonense. Os primeiros pormenores permitem sonhar. Quanto a Rodrigo Martins deu outra agressividade na procura da baliza e da área, mas, acima de tudo, deu terrenos mais centrais a Sylvester Jasper. O búlgaro passou a jogar como uma espécie de segundo avançado que dava mais uma opção de progressão por dentro e que não limitava a fantasia. O Portimonense vai ter de crescer para lidar com a derrota, mas a fórmula está identificada. Quanto ao Estrela da Amadora, que atravessava a fase mais delicada da época, jantou um banquete digno de jantar à luz das velas no dia 14. Não há fome que não dê em fartura e esta noite as bancadas voltaram a sorrir. Nem a chuva impede as mais belas histórias de amor.

Estrela da Amadora Jogadores
Fonte: CF Estrela da Amadora

BnR na CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

BnR: É o segundo jogo do Rodrigo Pinho como titular e um jogador com características diferentes no plantel do Estrela da Amadora. É um jogador com muita capacidade para jogar em apoio e com qualidade técnica para jogar com os colegas e permitir aos extremos aparecerem muito vertiginosos na frente. Qual a importância do Rodrigo Pinho para o Estrela da Amadora e qual o papel que tem no plantel?

Sérgio Vieira: O Rodrigo Pinho é mesmo isso. Um jogador com maturidade, com experiência dentro do futebol, refino técnico, interpretação tática dos espaços, capacidade de combinar, de ler o posicionamento dos colegas e de tomar boas decisões em função deles. É um jogador que, infelizmente para nós, não competia desde julho, não fazia 90 minutos desde março e estamos a elevar gradualmente a condição dele. Hoje foi ao limite, já estava com algumas limitações físicas, mas acredito que teve bons desempenhos, que pode aumentar a eficácia, porque hoje teve algumas decisões que não são do Rodrigo Pinho que conhecemos das grandes temporadas que fez no Marítimo antes de se transferir para o Benfica. Acredito que está a caminhar para lá, que está cada vez melhor e hoje foi determinante na forma como trabalhou, como serviu os colegas e como contagiou a equipa pela qualidade que veio trazer. Naturalmente que será importante daqui para a frente.

BnR: Na primeira parte o Portimonense tenta reagir, primeiro com uma mudança de jogadores e depois com uma mudança de sistema e acabou por tentar pressionar mais alto com uma linha defensiva também ela muito alta. Tendo em conta a capacidade do Estrela da Amadora atacar espaços qual o porquê desta opção e sente que, apesar de não haver nenhum golo, o Portimonense conseguiu reagir?

Paulo Sérgio: Nós mesmo no início do jogo, com o sistema que trazíamos queríamos a equipa compacta, daí a introdução de uma linha de 5 a defender e de 4 a atacar, fazendo essa permuta do lado esquerdo com o Gonçalo Costa, pretendíamos pressionar alto. Tentámos fazer isso desde o início. Respondendo diretamente à pergunta, quando estás a perder se não vais pressionar alto o adversário fica confortável com bola e não vais fazer nada pela vida. Nós continuámos a tentar pressionar alto e conseguimos, mas inicialmente a intenção também foi essa. Mas tudo se desequilibrou e pôs uma equipa muito confortável como nós acabámos por fazer e a outra a jogar sobre brasas. Foi isso que tentei explicar: em primeiro lugar tentar que a equipa tivesse a cabeça no lugar, ninguém vai virar um resultado de três bolas em dois minutos, portanto tínhamos um tempo todo para jogar e tínhamos que assentar o jogo, fazer as coisas bem feitas e tirar a bola ao Estrela da Amadora. Fomos conseguindo, mas o Estrela da Amadora esteve sempre muito confortável, encostou-se atrás e ficou complicado chegar à baliza.

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O Diogo é licenciado em Ciências da Comunicação, está a terminar o mestrado em Jornalismo e tem o coração doutorado pelo futebol. Acredita que nem tudo gira à volta do futebol, mas que o mundo fica muito mais bonito quando a bola começa a girar.

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