Amor em tempos de títulos

Em primeiro lugar, acho relevante revelar que sou um sportinguista completamente irracional que ao mínimo ponto perdido enfurece, sendo transportado imediatamente para um mundo à parte, rodeado pelos meus devaneios clubísticos, numa disforia e angústia que só se curam com uma vitória no jogo seguinte.

Ser sportinguista não é, de todo, fácil. O “clube do quase” acarreta consigo uma maldição desde o início dos anos 80 porque vejamos: foi campeão em 1982, depois em 2000 e 2002. Ou seja, o interregno perfez 18 anos (de 1982 a 2000) e mais 16 (de 2002 a 2018). No somatório, em 36 anos, o clube pelo qual eu nutro uma paixão infindável foi campeão 3 vezes, somente.

Pior do que isto, só a “vasta e conhecida gama de argumentos” que os adeptos dos clubes rivais utilizam para atacar, pôr de parte e envergonhar o Sporting Clube de Portugal. Decorrida a normal conversa de “futebol de café”, um adepto leonino intervém, opinando sobre o tema em debate e, rapidamente, a conversa ganha novo rumo, sendo a frase que o incendeia a seguinte: “Ah, mas o Sporting não ganha um título há quanto tempo?”: se vos disser que já ouvi mais de 200 vezes este conjunto de 11 palavras, por favor, não fiquem perplexos. Esta recriminação disfarçada de argumento é, sobretudo, pueril e frívola no conteúdo e na forma por nada comprovar e que, a todo o momento, revolta o mundo sportinguista.

Claro está que o principal alimento dos clubes, o pão da Última Ceia, são os títulos futebolísticos conquistados, facto que confere fama e prestígio nacional e internacional. Contudo, a Terra não descreve a sua órbita em torno do Sol, descreve-a em torno do futebol: Título de andebol? Primazia ao futebol; Título de futsal? Primazia ao futebol; Título de hóquei? Primazia ao futebol. Mas qual primazia? Como as mentalidades antiquadamente retrógradas (desculpem o pleonasmo) apontam e cingem as energias no sentido do futebol, o foco está aí localizado.

O ano de 2018 mostrou-se repleto de sucessos nas diversas modalidades do clube, campeões em quatro bem conhecidas (hóquei, andebol, voleibol e futsal). Bruno de Carvalho era, certamente, considerado o Dâmaso Salcede* do futebol português, mas, quando afirmava vivamente, edificando e solidificando o ecletismo do Sporting Clube de Portugal, não se enganou.

(*para os mais distraídos, Dâmaso Salcede era uma personagens de Os Maias, poço e súmula de defeitos.)

Armada verde e branca num dos inúmeros cânticos entoados em Alvalade
Fonte: Sporting CP

Por outro lado, maio do ano transato foi considerado como “um dos períodos mais negros e obscuros do futebol” sendo, sem margem para dúvida, a página mais triste e vergonhosa do clube. Alcochete foi palco de atos bárbaros e hediondos, praticados contra atletas leoninos, vítimas de fanatismo, obsessão e loucura desmedida por parte de “pessoas” que centram os seus princípios na irracionalidade e no terrorismo. Creio que nenhum adepto verdadeiro e consciente, independentemente da cor clubística, seja capaz de corroborar ou, até mesmo, ser paladino de vil manobra. A partir do desastre, considero que se dissipou uma parte do Sporting, como que enterrada a elevadas profundidades onde o pó, ao elevar-se, estivesse prontamente a pedir socorro aos céus.

Além de tudo isto, a referência aos adeptos adquire um caráter obrigatório. O exército, ilustrado em tons de verde, é perentório na salvaguarda e refúgio dos soldados que honram e dignificam o símbolo que envergam, acolhendo-os sob a lealdade de uma voz congregada num uníssono arrepiante. A sumptuosidade do batalhão leonino é comprovada independentemente da masmorra em que esteja situado, arrebatando o ambiente prisional, combatendo ventos e sinuosas tempestades que, eventualmente, possam surgir.

Embora muito complexa e tida como uma encruzilhada, a definição de amor surge e emerge aqui mesmo: a anormalidade (im)percetível e tresloucada de milhões de adeptos, incluindo estrangeiros, que, a todo e qualquer momento, se declaram ao clube que aprenderam a amar, com apoio massivo dentro e fora de portas ao leme de pavorosos cânticos, letais e profícuos na conquista do opositor. O desassossego inteira-se da minha alma e a agitação surge altiva acompanhada pelo júbilo aquando da exaltação de um povo que merece a devida distinção, não reconhecida por outros, numa obstinação doentia e obsoleta.

O protagonismo advém do esforço, da rouquidão das gargantas e do espetáculo a que assistimos com alguma frequência. O mérito é dos melhores adeptos do mundo!

Foto de Capa: Sporting CP

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