Por vezes amamos tanto algo ou alguém que fazemos coisas mais prejudiciais do que benéficas e não nos conseguimos aperceber o quanto estamos a destruir essa relação. Esse tipo de amor, por vezes, também se torna tão exacerbado que fica num limiar de amor/ódio em que a mais pequena desilusão pode transformar a paixão que se sente em níveis igualmente grandes de ódio. No que toca aos adeptos de futebol, e mais concretamente aos do Sporting Clube de Portugal, porque são os que me interessam e cujo comportamento me pode preocupar, devo dizer que ainda não consegui perceber se a relação com o clube está num nível de amor exacerbado ou já passou a ódio ilimitado (incompreensível).
Digo isto porque é difícil entender que seja amor lançar tochas para o relvado no momento exacto e para o local específico em que um jogador do “seu” clube está a desenrolar uma jogada de ataque rápido. O mesmo acontece quando se lançam dezenas ou centenas do mesmo tipo de material para junto da baliza onde o “nosso” guarda-redes está a trabalhar.
E podem até dizer que aquilo não são “petardos” e que não magoam os jogadores, e que é apenas para festejar e tornar as coreografias mais atraentes visualmente, mas nesse caso o efeito não seria o mesmo sem que tivessem de fazer arremessos para onde se está a jogar futebol que é, no fundo, o que todos foram ali ver? Se calhar nem todos.
Qual será o tipo de concentração no jogo que um jogador consegue ter, sabendo que uns indivíduos que estão a pouco metros pode, de repente, lançar algo que os pode magoar? Não deve dar para estar totalmente focado, com certeza. Mas vão dizer que eles são profissionais e têm de ter a capacidade de aguentar e abstrair-se do que ambiente externo.
Aos que pensam assim, gostava de fazer com eles a experiência de, nos seus locais de trabalho, quando estivessem a tentar cumprir as suas tarefas, houvesse alguém a atirar “bolas de papel”, “borrachas” contra ele, e uma vez ou outra lhes mandasse um “calduço” para os “motivar”. E quanto ao “absterem-se” do ambiente externo, para que serviriam então os adeptos? Porque se não serve de nada o que vem das bancadas, porque usam a desculpa de que lá estão para apoiar a equipa?
O clube gasta milhares com o comportamento de adeptos que depois vêm criticar as finanças e gestão de quem dirige. Esses vêm também dizer que quem está na direção está a ganhar mais dinheiro que o que se gasta com as multas pagas pelo comportamento desses adeptos, mas isso é apenas justificar um mau comportamento com outro, tentando validar um erro apenas porque outros também o fazem. E no fim quem sai prejudicado é o clube.
Enquanto se andarem a justificar e a tentar tornar erros como aceitáveis apenas porque não são os únicos, vai criar-se um ciclo vicioso sem saída. Alguém precisa quebrar esse ciclo, e os sócios e adeptos que são os que mais amam o clube, devem assumir essa responsabilidade. Até porque só assim se terá credibilidade para criticar os erros dos outros.

Eu sei que a grande generalidade dos adeptos vai aos jogos apenas para se divertir, distrair e aproveitar um bom jogo de futebol do seu clube, dos seus jogadores, mas depois o comportamento de poucos poderá gerar castigo para muitos. E eu sou apologista disso mesmo.
Quando não é possível identificar dois ou três que vivem apenas para prejudicar, só mesmo castigando o todo será possível isolar os “arruaceiros”. Porque há sempre quem conheça os poucos que têm esse tipo de comportamento, e só quando a generalidade do grupo se sentir injustiçado por algo que não fez, mas sabe quem fez, terá a atitude de denunciar, ou pelo menos isolar e excluir que não segue as regras e não respeita todos os restantes elementos.
Os castigos monetários não estão a resultar, até porque não são os adeptos que pagam, e muito menos os malcomportados, portanto, só mesmo com jogos à porta fechada se pode começar a isolar essas facções. Se não dá para restringir o acesso aos que não sabem ver futebol, restringe-se a todos. Acaba o futebol? Não, até porque a pandemia mostrou-nos que não. Fica apenas mais triste, principalmente para os adeptos que gostam de ir ao estádio apoiar a sua equipa.