Eu anexo observações sem interesse | Sporting CP

    Estou farto de ler/escutar a palavra “anexar” e o resto da sua interminável árvore genealógica. “A Rússia anunciou ontem a anexação de quatro territórios ucranianos”. “A minha casa é pequena, mas tem um anexo onde posso guardar toda a tralha”. “O voucher dos 125€ que o governo ofereceu para combater a inflação surge anexado à fatura da energia”. “Bom dia, pai! Segue, em anexo, o documento que anexa as minhas notas finais. Sem mais assunto e com os melhores cumprimentos”. (Entretanto, para os que utilizaram – e utilizam – a técnica anterior, esperem um anexar de algo que não mimo ou beijocas).

    “Juntar” ou “agregar” exalam menos bafio autoritário. Imaginem a vida se o professor de educação física dos tempos de escola, antes da realização da sequência de ginástica artística, bradasse “anexem imediatamente porque eu só vou explicar isto uma vez!”. O Grupo de Acção Cultural (GAC) declarou melodicamente que a cantiga era uma arma, mas nunca canalizou a atenção para a palavra “anexar”. Caso contrário, tinham escrito algo do género: “A palavra anexar é um míssil/ E eu não sabia/ Tudo depende do canhão/ E da pontaria/ Tudo depende da raiva/ E da alegria/ A palavra anexar é um míssil/ de longa distância”.

    No mundo onde a bola atravessa meridianos e paralelos, o vocábulo que não é redondo – porque a boca não está preenchida – marca igualmente presença. Durante os mercados de transferências, as equipas com poder económico elevado e o PSG passam a pente fino todos os jogadores que possuem a habilidade para movimentar as duas pernas na posse de um esférico. Outro requisito é, através do balanço de um dos membros inferiores, ser capaz de projetar a bola não mais de dez metros. A meu ver, a pessoa que ocupa o cargo de ministro das contratações nestes clubes é shopaholic.

    Ugarte
    Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

    Recentemente, Manuel Ugarte foi associado ao Paris Saint-Germain FC. Face ao bom começo de época, o médio-defensivo tem despertado o interesse de vários clubes estrangeiros. As conversações já se fizeram sentir entre os responsáveis do Sporting CP e o senhor da adição das compras. Os leões detêm apenas metade do passe do internacional uruguaio e contam em adquirir mais 30% (10% a cada 30 jogos realizados). Em síntese, o negócio renderá ao FC Famalicão, anterior clube do centrocampista, um total de 12,5 milhões de euros.

    Primeira observação anexada a esta baderna. Manuel Ugarte é um dos jogadores mais influentes do plantel leonino e um ativo a partir do qual o Sporting CP poderá retirar dividendos de fato e gravata. Para a idade, a qualidade do médio espanta qualquer aficionado pelo desporto dada a maturidade exibida dentro das quatro linhas: impressiona a reação nos momentos em que a equipa não tem bola e impressiona ainda mais a reação à perda da posse; nos confrontos individuais, nunca dá um lance por perdido e raramente o perde; índice de agressividade controlado face à posição que ocupa no terreno (geralmente, a seis); com bola, o camisola 15 não compromete, arrisca quase sempre bem, cria espaços, traz consigo as linhas de passe e entende os mais variados momentos do jogo.

    Fonte: Carlos Silva /Bola na Rede

    Segunda observação anexada a esta baderna: Na teoria – com a contratação e com Danilo, Carlos Soler, Verrati, Vitinha e Fabián Ruiz a ocupar todos os espaços ínfimos – Manuel Ugarte devia participar apenas em jogos das taças internas. Mesmo com a saída de qualquer um dos mencionados: caso tal se verificasse, rapidamente outro médio de envergadura distinta entrava no radar do emblema francês e escancarava as portas do Parc des Princes primeiro do que o uruguaio. No meu entender, a anexação do médio leonino é símile ao capricho típico de uma criança que quer um carrinho verde porque a sua retina ainda não fixou o mesmo objeto em tons de azul e amarelo.

    Terceira observação anexada a esta baderna: Rúben Amorim identificou – sem muitos rodriguinhos – o estatuto de Manuel Ugarte e a preponderância que o médio tinha na equipa. Ao que tudo indica, a SAD interpretou da mesma forma. Contudo, as equipas grandes diferem das equipas gigantes num aspeto: para as primeiras, vender é primordial para a sobrevivência e o bom funcionamento. E, a esse tópico que parece ser do tamanho de uma formiga, anexa-se uma consternação e uma mágoa associada.

    Quarta observação anexada a esta baderna: Os adeptos do Sporting CP não mostram interesse no interesse mostrado pelo querido Ugarte. Por isso, não queiram ver – de novo – os adeptos do Sporting CP com anexos de raiva, ansiedade e tristeza.

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    Romão Rodrigues
    Romão Rodrigueshttp://www.bolanarede.pt
    Em primeira mão, a informação que considera útil: cruza pensamentos, cabeceia análises sobre futebol e tenta marcar opiniões sobre o universo que o rege. Depois, o que considera acessório: Romão Rodrigues, estudante universitário e apaixonado pelas Letras.                                                                                                                                                 O Romão escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.