O absolutismo benfiquista ou quando o delírio se torna regra

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– são os mesmos que em tempos estrebuchavam com tudo o que dizia respeito ao Porto e às arbitragens mas que, agora, não notam qualquer anormalidade no facto de a Fundação Benfica ter ajudado a formar árbitros, numa acção clara de criação de uma nova hegemonia de bastidores disfarçada de obra de cariz social;

– são os mesmos que não demonstraram idêntica indignação quando Norton de Matos, treinador do União da Madeira e conhecido benfiquista, afirmou que “não é obrigatório pontuar na Luz”.

– são os mesmos que alimentam há várias semanas a conversa do papão Sportinguista: primeiro, os leões iam oferecer 200 mil euros para o V. Setúbal ganhar ao Benfica; depois, afinal era Heldon que estava prometido ao Rio Ave no caso de o clube travar as águias; de seguida, o bombardeamento intensivo acerca da Doyen antes da visita do Sporting ao Dragão. Contra o Marítimo, a areia para os olhos continua. No entanto, a única consequência menos clara destes jogos foi que André Horta, habitualmente titular do V. Setúbal, ficou de fora da convocatória para o jogo da Luz e, agora, foi comprado pelo Benfica. Nada mau para um clube tão impoluto e a quem soam os alarmes por o Marítimo ter poupado jogadores…

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O Benfica fala de ofertas do Sporting mas, para já, a única movimentação curiosa foi a contratação de André Horta pelas águias, dias depois de não ter sido convocado pelo V. Setúbal para a Luz
Fonte: Instagram de André Horta

A lista já vai longa, mas poderia continuar. Os benfiquistas que agora se insurgem contra o Marítimo são, no fundo, aqueles que passaram anos a apontar o dedo ao Porto mas que, como se tornou agora evidente, tudo o que queriam era roubar-lhes a hegemonia e montar um sistema semelhante, embora mais aperfeiçoado e com mais tentáculos. No mundo delirante desta estirpe peculiar de adeptos, oferecer jantares sem limite de preços a árbitros e respectivas famílias é perfeitamente aceitável, mas uma equipa querer poupar jogadores para defrontar o Benfica é uma vergonha. Só um clube que já se desabituou de ter de enfrentar a mais pequena contrariedade no futebol português é que lança suspeitas sobre a idoneidade de adversários que querem – pasme-se! – lutar pelos pontos em disputa. Isto revela, aliás, o que é o futebol em Portugal: quem quer ser competitivo é que é perseguido. Perante a majestade e o direito divino encarnados, tudo o que não seja vassalagem é encarado como um acto subversivo e que tem de ser rapidamente eliminado – quem sabe, até, com represálias para os corajosos, para que o atrevimento não se repita. Assim vai o desporto na era do absolutismo benfiquista.

Enquanto o inefável João Gabriel lança suspeitas sobre o Sporting falando em “jogo da mala”, o Benfica tem o caminho livre para poder condicionar o Marítimo à semelhança do que fez com o Rio Ave ou o V. Setúbal. E isso até seria bem mais realista do que ser o Sporting a fazê-lo, uma vez que o clube da Luz até tem uma vitória da Taça da Liga com que acenar. Acredito na seriedade dos atletas do Marítimo, mas na dos dirigentes benfiquistas é óbvio que não. Tentarão de tudo. De igual modo, não ponho as mãos no fogo relativamente à hipótese de o Benfica, tão puro, inocente e coerente, também não pensar em incentivar o V. Setúbal pela calada contra o Sporting, ao mesmo tempo que se tenta vitimizar perante os holofotes (recordo o cómico “contra tudo e contra todos” de Gomes da Silva, a que já se aludiu). No que toca a manipulação e mentira, verdade seja dita: o Sporting tem muito a aprender com o rival da Luz. Não é por acaso que os últimos cinco presidentes encarnados (Jorge de Brito, Manuel Damásio, Vale e Azevedo, Manuel Vilarinho e Luís Filipe Vieira) têm em comum o facto de já terem sido detidos pelas autoridades.

É também curioso, embora divertido e nada surpreendente, que os mesmos adeptos que têm sempre na boca a cassete do “calimeros”, prontos a classificar mecanicamente os Sportinguistas enquanto tal, venham agora chorar por antecipação em vésperas de uma ida à Madeira. E quem estaria por detrás da enorme afronta que é o Marítimo querer, como lhe compete, ser uma equipa séria e vender cara a derrota no próximo domingo? O Sporting, pois claro. Como se sabe, enquanto o Benfica definhava e por pouco não acabava, há apenas três anos, os leões amadureciam os mecanismos de controlo e domínio do futebol, promovendo o assalto ao poder. É por isso que, em Alvalade, há uns anos se criticavam ardentemente as arbitragens e agora impera o silêncio. Porque os leões sabem que têm o futebol nacional na mão e, dessa forma, deixou de ser conveniente falar muito. Ou se calhar é ao contrário, agora fiquei baralhado.

 

Foto de capa: site oficial do SL Benfica

Redação BnR
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