O modelo de impunidade transversal a qualquer modalidade

    Sempre escrevi e continuarei a escrever que não é porque o outro erra ou faz algo fora das leis impostas que nos legítima a fazer o mesmo. Não pode servir de desculpa para os nossos erros o facto de já alguém o ter feito antes sem qualquer problema ou punição.

    E aqui pouco importa quem foi que começou primeiro porque não somos nenhumas crianças, apesar de muitas vezes parecermos.

    Dito isto, nunca poderei aceitar que os nossos jogadores, de qualquer modalidade, agridam outro apenas porque anteriormente algum dos nossos adversários o fez. Uma acção tantas vezes repetida e permitida passa uma imagem de normalidade para a sociedade que depois a decalca para as suas acções do dia-a-dia (Não sei se ouviram a notícia do aumento de criminalidade juvenil), e se alguém deve dar o primeiro passo para melhorar isto, que sejam os nossos jogadores com bons exemplos em campo.

    Também não posso aceitar hipocrisia. Não posso aceitar que se façam comunicados sobre um jogo em que houve agressões de parte a parte e se tente passar a imagem de que apenas os adversários tiveram comportamento incorreto. E aqui estou a recriminar tanto o comunicado do Sporting como do adversário. Dizer que a impunidade apenas existe para o outro lado da barricada quando as acções foram iguais e os “castigos” (ou a falta deles) também, só demonstra má fé e pouca vontade de querer mudar o rumo das coisas. No fundo querem continuar a fazer parte do problema e não da solução.

    Acho, no entanto, que no meio disto tudo há uma classe que está a passar por entre os pingos da chuva sem qualquer palavra crítica. Falo efectivamente dos árbitros, que não souberam segurar o jogo, não castigaram quem deviam no momento próprio, o que deu aos jogadores a ideia que poderiam fazer o que quisessem.

    Isto não desculpa os jogadores que devem saber jogar limpo, sem se deixarem ir no jogo de quem parte sempre do princípio que vale tudo para desequilibrar o jogo a seu favor. Porque os jogadores deveriam utilizar a sua inteligência apenas para delinear as melhores jogadas, tomar as melhores decisões para chegar ao golo ou à vitória, em vez de a aproveitar para contornar as leis, simular, enganar, e tentar desvirtuar a essência do jogo que é ganhar apenas pelo mérito de jogar melhor que o adversário.

    Todos os intervenientes estiveram mal. Ninguém tem desculpa. Veremos agora quem é competente e honesto o suficiente para assumir o erro, e ajudar a encontrar soluções para que não se volte a repetir. E nesse aspecto, ainda só um interveniente assumiu o erro e veio a publico pedir desculpa pelo acto irreflectido, dirigindo-se directamente ao adversário agredido. Para além desse apenas vi desculpas, tentativas de desviar atenções para o “outro”, varrer para debaixo do tapete.

    VERGONHOSO NO PAVILHÃO DA LUZ!

    DUPLA AGRESSÃO, primeiro de Ordonez e a seguir de Pedro Henriques.

    Nenhum dos dois levou cartão 😂😂 pic.twitter.com/bth12LYMDa

    — Sporting CP Adeptos (@Sporting_CPAdep) June 4, 2022

    Enquanto assim for ninguém mudará nada, seja qual for a modalidade. Mas o jogo de Hóquei em patins que gerou todos estes incidentes abriu pelo menos a hipótese de debate e a possibilidade de se melhorarem vários aspectos no comportamento dos intervenientes e na forma de mediar situações futuras semelhantes de uma forma mais eficaz e eficiente.

    Se a oportunidade irá ser aproveitada só o futuro dirá, mas a ver pelas reacções, ficaremos na mesma, sem se assumirem erros próprios. E enquanto não se assumirem os defeitos nunca se terá a capacidade de os corrigir. Mas o povo gosta é disto. A culpa é do vermelho, azul, verde. Nunca é nossa.

    Um jogador do Sporting já assumiu a sua cota parte. Quem lhe seguirá o exemplo? Alguém? Duvido.

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    Nuno Almeida
    Nuno Almeidahttp://www.bolanarede.pt
    Nascido no seio de uma família adepta de um clube rival, criou ligação ao Sporting através de amigos. Ainda que de um meio rural, onde era muito difícil ver jogos ao vivo do clube de coração, e em tempos de menos pujança futebolística, a vontade de ser Sporting foi crescendo, passando a defender com garras e dentes o Sporting Clube de Portugal.