Os três pilares do novo Sporting

O Sexto Violino

É com grande alegria que escrevo a crónica desta semana: o Sporting está de volta ao lugar que merece. Ainda que o nosso bom momento seja sobretudo fruto da coesão da equipa e não de exibições individuais, hoje falarei em três figuras que, para mim, são os maiores sustentáculos deste novo Sporting: Leonardo Jardim, Fredy Montero e William Carvalho. Centrar-me-ei sobretudo no último jogo, mas também naquilo que cada um destes intervenientes já fez desde o início da época.

Não me canso de dizer que o treinador tem feito um trabalho quase irrepreensível e que ainda ganha mais valor se olharmos para o que era o Sporting antes de ele chegar. Contra o Paços, gostei de ver que não achou necessário colocar de início Slimani com Montero, mantendo-se fiel aos seus princípios de jogo. É verdade que o argelino merece mais minutos (ontem teve mais alguns), mas o abandono do 4-3-3 poderia levantar vários problemas: os jogadores iriam demorar algum tempo a adaptar-se, o meio-campo poderia ficar mais desequilibrado e esta alteração táctica implicaria tirar Montero da posição onde tem rendido mais, uma vez que recuaria ligeiramente. Imaginando que o Sporting, a jogar em 4-4-2, está empatado a 20 minutos do fim, o treinador não tem grandes opções para colocar em campo de forma a forçar o golo. O 4-3-3, por seu lado, garante que a equipa tem um plano B pronto a ser usado se necessário. A entrada de Slimani desmonta a defesa e obriga os adversários a reposicionarem-se, ao mesmo tempo que garante uma maior presença física na área. A própria equipa parece crescer e ganhar novo ânimo quando o argelino salta do banco. Se as coisas têm resultado assim, não vejo por que há-de mudar-se, até porque não é garantido que passemos a jogar melhor caso abandonemos o 4-3-3. Quanto ao resto, agradou-me a mudança de atitude da equipa depois do intervalo (acredito que tenha tido o dedo de Jardim) e gostei, mais uma vez, do discurso adoptado após o apito final. O nosso treinador é um perfeccionista que prepara todas as situações de jogo ao pormenor. Isso nota-se nas bolas paradas (que cada vez mais são um factor decisivo no futebol moderno, como ontem se viu), na estabilidade que a nossa defesa ganhou, no rigor táctico das movimentações dos jogadores, etc. O Leonardo Jardim é o treinador que outros gostavam de ter ido buscar, mas ele é nosso. E foi a melhor contratação do Sporting, não só deste ano, mas desde há muito tempo.

Já o Montero, sendo o avançado da equipa, é também o rosto mais visível do renascimento do Sporting. É ele o responsável pela conclusão das jogadas e para já tem-no feito com distinção. Após o seu início fulgurante temi que os sportinguistas começassem a ficar mal habituados e interroguei-me sobre qual seria a reacção dos adeptos se ele estivesse alguns jogos sem marcar. Quando essa altura chegou, os meus receios pareceram confirmar-se: já se iam ouvindo algumas críticas tímidas à sua falta de golos, mesmo vindas de adeptos do Sporting. Ontem, porém, o colombiano respondeu com mais dois tentos e mostrou que a sua veia goleadora não acabou, como aliás era de prever. Se os guarda-redes e os defesas não estão todos os jogos sem sofrer golos, por que razão há-de se exigir a um avançado que marque em todas as partidas? Além disso, o seu contributo em campo estende-se às jogadas que cria e aos espaços que abre, o que faz dele um elemento importantíssimo na manobra atacante mesmo quando não marca. O segundo golo do Sporting tem, aliás, origem num duelo decisivo ganho de cabeça pelo Montero.

Três figuras incontornáveis do novo Sporting / Fontes: prognosticosfutebol.net ; spor.haberler ; supersport
Três figuras incontornáveis do novo Sporting / Fontes: prognosticosfutebol.net ; spor.haberler ; supersport

Por último, William Carvalho. Vir elogiá-lo é constatar o óbvio, mas a enorme qualidade da sua exibição de ontem obriga-me a isso. O nosso número 14 é seguro no passe, sereno como um “trintão”, tem uma visão de jogo muito acima da média (ainda que haja quem diga que só joga para o lado…) e uma capacidade de desarme tremenda sem precisar de recorrer à falta, aliada à sua facilidade em desenvencilhar-se dos adversários e colocar a bola redondinha nos pés dos colegas mesmo quando parece que tem o lance perdido. Tudo isto somado a uma atitude discreta, a um discurso bem articulado e a uma confiança em si próprio que se nota à distância. Assim como se nota, atrevo-me a dizer, um grande apreço pelo Sporting – desde a história da sua vinda para o clube, recusando o assédio do Benfica, até ao facto de já ter dito várias vezes que está no clube onde sempre quis jogar. Parece ter, à semelhança do Eric Dier, uma atitude simples e desassombrada perante o futebol e a vida que é pouco comum em alguém com esta idade e menos ainda quando se trata de vedetas da bola. Até o pormenor de ter voltado aos estudos para completar o 12º ano mostra que não se deixa levar pela sua grande popularidade repentina e que não despreza o valor da educação, estando já a preparar a sua vida pós-futebol. O William tem atitudes de vencedor nato e perfil de líder, tanto dentro como fora do campo, e tem sido a meu ver a melhor individualidade de uma equipa que vale sobretudo pelo colectivo. Por tudo isto, se mantiver este nível, ou muito me engano ou ficará por cá pouco tempo, uma vez que a Europa do futebol não anda a dormir – e uma boa prova disso é que, pese embora todas as campanhas feitas pelos media para inflacionarem Gaitáns, Salvios, Rodrigos, Andrés Gomes e Enzos Pérez, eles continuam todos no Benfica. Os melhores não precisam de promoção, porque é a própria realidade que se encarrega disso.

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