Paulinho Gama, o leão no meio dos mancos

O andar do Sporting Clube de Portugal, com o urgir do tempo e as inúmeras circunstâncias mais do que uma vez citadas, quer por mim, quer pelos meus camaradas de redação, sofreu consequências nefastas. Pior! O problema é crónico, a doença entranhou-se nos músculos. As muletas são dispensáveis. Os andarilhos estão enferrujados – eu tinha mais qualquer coisa a acrescentar, útil, ia aflorar conceitos da Biologia, atrofia dos músculos, adaptação evolutiva, seleção natural e Charles Darwin, mas a construção da frase é impossibilitada pela nulidade de conhecimento nesse campo de batalha. Portanto, numa última tentativa, pretendo dizer que mancamos em direção à paragem definitiva. Entra à balda o roupeiro do clube. Não me interprete mal, “Paulinho” Gama não padece do que em cima está descrito.

Aliás, é injusto colocar o maior ícone – da atualidade, pelo menos – no mesmo lote que figuras que não merecem o apreço dos seus adeptos. Na minha modesta opinião, Paulinho é a pessoa com mais capacidade de locomoção, com menor atrofia muscular e com uma resistência inigualável para suportar maratonas de treinadores e cúpulas dirigentes. Admiro a sua coragem: deixar acercar-se de falta de profissionalismo gritante, do esventrar constante do ADN leonino e das políticas do reerguer só para “inglês ver” é amor ao clube e masoquismo, simultaneamente.

Atracou em Alvalade com 16 anos de idade, atualmente possui 51. As operações matemáticas destinam-se a vós, leitores. Contudo, algo se denota com relativa facilidade: a maior parte da sua existência foi vivida e celebrada de leão ao peito. Caso se edificasse um reality-show em torno dos roupeiros das 18 equipas que ocupam a sua posição na Primeira Liga, Paulinho era o mais vigiado do país, o mais conhecido fora da casa e o que, saído da mesma, iria marcar mais presenças nas discotecas e danceterias de Portugal.

Paulinho tornou-se uma figura e um exemplo no clube leonino
Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

Mesmo quem não fazia a mais pequena ideia de tal personagem, foi condecorado com a sua intemporalidade. Nas redes sociais, deflagraram e continuam a deflagrar tiradas humorísticas com menção ao respetivo em qualquer assunto que ao clube diga particular respeito. Nem sempre abundam em qualidade como se intensificam em quantidade, mas isso “são outros quinhentos”. O foco principal é a incapacidade visível que possui numa das pernas. Aviva-me a memória o lance da década, aquela perdida do Bryan Ruiz diante do SL Benfica. E a piada, naturalmente, fez-se sozinha…

Em diversas ocasiões, li, vi e ouvi vários depoimentos não só de antigos jogadores, treinadores, dirigentes, como também da casta recente a elogiar, a exaltar, a dignificar Paulinho. E é merecido. Ao contrário de muitos que pisaram a terra sagrada, quem dá o exemplo é o roupeiro do clube. Não existiu, até à data, ninguém que fosse capaz de apontar uma crítica ao seu trabalho, uma vírgula a seu respeito pelo clube e um acento à sua genuinidade. Não pode existir maior demonstração de profissionalismo, maior juramento ao lema da instituição que se representa, maior compilação de juras de amor. As lágrimas são sentidas, não de réptil. Os sorrisos são sinceros, não pálidos.

Dizer orgulhosamente que se é roupeiro de uma empresa é gratificante e ouvir tal invetiva como adepto é delicioso, mas sentir a veracidade da coisa é impagável. “Matar ou morrer”, no sentido figurado. Para o Paulinho, o Sporting é tudo. Para o Sporting, Paulinho é essencial à sua sobrevivência. O exemplo provém dele. É uma definição assertiva do tal “sportinguismo” sinalizado por João Benedito, numa célebre flash-interview. Resumindo, conclui-se que Paulinho é Sporting e que Sporting não é Sporting sem Paulinho. As aulas de Filosofia, algum dia, iriam reclamar de utilidade.

Atualmente, o Paulinho sofre com o que observa no seu clube. E, de forma a colmatar a dor sentida, efetuo uma analogia a um excerto de “Autopsicografia”, no qual o revejo.

“E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração.”

Artigo revisto por Inês Vieira Brandão

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