A primeira jornada da segunda volta do campeonato proporcionou três resultados diferentes entre os três grandes, sendo difícil atribuir o título de maior surpresa ao empate caseiro do Sporting com o Tondela ou à derrota do FC Porto em Guimarães. Desses resultados que conclusões extrair no que diz respeito à corrida ao título?
- A única que se pode invocar para já com total segurança é que o vencedor dessa corrida está longe de estar decidido.
- Outra ainda que se pode extrair é que não há ainda nenhum favorito declarado; a classificação e a distância pontual entre as equipas têm oscilado consoante o momento de cada uma, tendo assistido, em apenas três jornadas, a alterações significativas na classificação.
Façamos então a avaliação da força de cada uma das candidaturas pela perspectiva que o momento nos possibilita.
– O FC Porto cai para terceiro lugar e será essa a posição que a sua candidatura terá caso não seja muito feliz no processo de escolha do sucessor de Lopetegui. Como se viu nos últimos jogos é uma equipa cuja perda começou na contestação que estava a ser sujeito o treinador e que agora se estabelece pela orfandade de identidade. Neste momento o seu futebol não é azul nem branco, apenas cinzento. Contudo não está ainda arredado do título porque, apesar dos erros cometidos na formação no plantel, este contém valor suficiente para melhorar substancialmente a sua competitividade. Não no actual contexto, obviamente, em que os jogadores, sem confiança, se exibem muito abaixo daquilo de que são capazes. Além do treinador parece-me também ser necessário resolver o problema da insuficiência de Aboubakar e talvez ainda um central de perfil diferente dos que agora possui. Parece-me pois que o FC Porto precisa quase de um jackpot.
– O SL Benfica está agora a apenas dois pontos do comando, estando muitos furos acima daquilo de que parecia ser capaz há um par de meses atrás, quando três derrotas consecutivas com o maior rival e ex-treinador quase fizeram faltar a luz. O futebol exibido está longe de ser o mais elegante e agradável à vista, mas os resultados estão a aparecer em catadupa, com a equipa a alardear confiança. A qualidade dos seus executantes na frente de ataque garante quase sempre golos, sendo de assinalar que recuperou pontos quando se registava a ausência dos seus melhores jogadores (Gaitán e Sálvio), que em breve estarão de volta. Acresce ainda a ausência do seu capitão Luisão, tido como fundamental na manobra defensiva da equipa.
– Por último o primeiro, o Sporting. O jogo com o Tondela foi até agora o que me deixou mais perplexo. Compreendi o empate com o Boavista, sob o prisma da procura de um novo equilíbrio que a ausência de Carrillo inevitavelmente teria de suscitar. Compreendi a derrota com o U. Madeira à luz de algum facilitismo e de acidente de percurso em que o futebol é fértil. Mas aquela primeira parte com o Tondela… Não tenho lugar onde a encaixar. Ainda por cima sem autocarro, se bem que com muita pressão, com a qual os jogadores quase nunca souberam lidar. Este acumulado de desilusões com as equipas aparentemente mais fracas do campeonato levaram-nos pontos suficientes que, associados aos que se perderam em casa com o Paços de Ferreira, dariam para acomodar nada mais nada menos que três desaires, nove pontos, portanto. Que jeito nos dariam para disputar as últimas jornadas do campeonato? Pois…
A ilação a retirar remete-me ao ponto de partida deste campeonato: o Sporting é o menos favorito dos três candidatos ao título. Mas tem sido o que melhor futebol tem exibido, a sua proposta de jogo é a mais sedutora e a que melhor rentabiliza o valor dos jogadores que o técnico tem à disposição. Mas não há sistemas perfeitos e, como se viu agora com o Tondela, o modelo de Jesus tem riscos que são ainda mais elevados numa equipa que ainda precisa de crescer na compreensão total do que a ideia de jogo do seu técnico exige. Só por ingenuidade se pode pensar que sofrer dois golos com o Tondela em lançamentos em profundidade foi meramente casual.
Foto de Capa: Sporting CP