Serviços mínimos chegam para vencer e pressionar águias | Sporting

    O Sporting venceu fora de portas o Santa Clara por 0-1, em partida a contar para a 29.ª jornada da Primeira Liga. O único golo da partida foi apontado por Geny Catamo à passagem do minuto 50. Face a este triunfo, os leões saltaram para a liderança provisória do campeonato, com um ponto de vantagem sobre o Benfica, que só no domingo mede forças com o Arouca.

    A margem de manobra vai apertando para os candidatos ao título, a apenas seis jornadas do fim do campeonato. Um empate, um mau resultado em Alvalade, frente ao SC Braga, num jogo em que esteve a ganhar até bem perto do minuto 90 e a consequente perda da liderança, pedia não só uma exibição sólida e afirmativa, mas sobretudo o embolsar dos três pontos por parte dos leões.

    Jogar bonito, com “nota artística” começa a interessar pouco, numa altura em que os detalhes poderão fazer a diferença nas contas finais. O Sporting reencontrava, por isso, em São Miguel, e pela terceira vez nesta temporada, o Santa Clara, equipa sensação da prova e que tinha imposto o primeiro desaire na prova aos campeões nacionais, na altura ainda com João Pereira no comando técnico dos verdes e brancos.

    No reino do leão, e depois de uma semana complicada – perda de liderança e com a notícia triste do falecimento do “mago” da prospeção leonina, o Senhor Formação, Aurélio Pereira – o regresso de Pedro Gonçalves aos convocados servia quase como uma espécie de “combustível” na busca pela vitória.

    Foi neste cenário que Rui Borges voltou a mexer no onze inicial, com Maxi Araújo e Iván Fresneda a saltarem para os corredores laterais, o que levou Geny Catamo a passar para o lado esquerdo do ataque. Por outro lado, essas modificações resultaram na perda da titularidade para Matheus Reis e Geovany Quenda.

    Nos bravos açorianos, Vasco Matos colocou Sidney Lima, Diogo Calila e Daniel Borges, mantendo o tradicional 3-4-3 (ou 5-3-2, no momento defensivo). Frederico Venâncio e João Costa saíram do onze para o banco, ao passo que Adriano Firmino saltou diretamente para a bancada, para cumprir suspensão por acumulação de amarelos. A surpresa surgia, assim, pelo facto de a equipa açoriana apresentar seis defesas e nenhum ponta de lança de raiz.

    Mas Vasco Matos surpreendeu. Colocou Diogo Calila na esquerda, Lucas Soares na direita e Matheus Pereira no miolo, ao lado de Daniel Borges e Pedro Ferreira. Poderia pensar-se que o objetivo seria criar uma linha de seis defesas quando sem bola, mas não. A estratégia passou por dar mais um elemento de pressão no miolo, sobrepovoando o corredor central.

    Ora, o Sporting teve muitas dificuldades para contrariar isto. A pressão açoriana foi muito bem conseguida, intensa, coesa e sempre com grande entreajuda, e os leões foram demonstrando claras dificuldade de ligação no último terço.

    Com Viktor Gyokeres muito bem “tapado” por Luís Rocha e seus ajudantes (nos últimos tempos, em Portugal, não me lembro de uma marcação individual tão boa ao sueco), a aposta passou quase sempre por explorar os alas com bolas longas, mas o vento forte que se foi sentindo nos Açores não ajudou a desenvolver essas tentativas.

    Complementando essa ideia, Luís Rocha continua a demonstrar, aos 38 anos, ser um “senhor” em campo. Se Gyokeres teve um jogo para esquecer (praticamente não conseguiu aparecer no jogo, embora os açorianos tenham sido duros em certas faltas), em muito se deve ao trabalho exímio do central açoriano ao nível de marcação ao sueco.

    Bem apoiado pelos colegas, foi o comandante de uma bela exibição defensiva da sua equipa, por mais que também continue a achar que a abordagem defensiva de Vasco Matos roça o “anti-futebol”, até porque tem jogadores que, do ponto de vista técnico-tático, poderiam constituir uma ideia e um modelo de jogo, no mínimo, diferente. E talvez seja por causa disso que não marcou nenhum golo aos chamados quatro primeiros classificados em casa.

    Voltando ao jogo, a jogar a favor do vento, só os remates de meia-distância colocaram o Sporting mais perto do perigo nos primeiros 45 minutos, opção que os leões demoraram a descortinar. Zeno Debast, num livre direto, Francisco Trincão e, já nos descontos, Geny Catamo, tentaram a sua sorte e não ficaram longe, numa primeira parte praticamente sem ações nas duas áreas. Faltou velocidade, faltaram ideias ao Sporting. E, já agora, leitura do que se estava a passar.

    No geral, era um jogo paupérrimo em termos de oportunidades de golo, além do habitual excessivo número de faltas, fazendo com que um jogo entre o atual campeão nacional e o atual quinto classificado da Liga, para o adepto comum, não tivesse grande interesse. Como se vende um produto destes?

    Sou sincero: ao intervalo, sentia que falta rasgo e outro tipo de desequilíbrios nas alas leoninas, pelo que, na minha opinião, até faria sentido Geovany Quenda e Conrad Harder terem entrado para os lugares de Iván Fresneda e Geny Catamo, respetivamente.

    Mas por e para isso é que é Rui Borges o treinador do Sporting. O técnico natural de Mirandela confiaria nos mesmos para iniciar a segunda parte e aqueles primeiros minutos dar-lhe-iam razão. Fresneda arriscou mais, Trincão baixou para procurar a ligação que sempre faltou na primeira parte. O Sporting era mais rápido e mais intenso.

    O Santa Clara, também com direito a acreditar, subiu linhas. E num dos únicos erros defensivos dos açorianos, o Sporting aproveitou. Fresneda recuperou a meio-campo, deixando, desde logo, o Santa Clara completamente desequilibrado, e o Sporting finalmente com espaço para progredir. Trincão, de pé direito, realizou um passe perfeito para a arrancada de Geny na meia direita, com o moçambicano a ler bem a saída de Gabriel Batista para finalizar com sucesso e inaugurar o marcador em São Miguel.

    O 0-1 mostrou que o Sporting pode confiar mais no seu ataque posicional. A nível ofensivo, os leões são muito mais do que o que têm demonstrado nos últimos jogos. Excelente movimento, também, de Gyokeres a arrastar marcações para Geny aparecer em zona de finalização.

    Seriam os melhores momentos do Sporting, estes 15 minutos iniciais da etapa complementar. A diferença entre ter Trincão a baixar e a abrir para ligar, bem como a definir bem e com espaço para o jogo ofensivo do Sporting é brutal. Não é que a equipa tenha melhorado assim tanto na segunda parte, mas foi o suficiente para encontrar o Geny duas/três vezes na profundidade com perigo.

    Mais confortáveis na partida, os leões até chegaram a voltar a festejar por volta do minuto 70, por Diomande, na sequência de um grande cruzamento, de livre, de Debast, mas o lance acabou invalidado por fora de jogo de 13 centímetros.

    Já agora, quanto a Debast, está feito um “senhor médio”. Além de ser importante no equilíbrio do miolo ao lado de Hjulmand, vai crescendo cada vez mais com bola, tanto ao nível do passe, onde foi desequilibrador, como na criação através da meia distância, ainda que lhe falte, na minha ótica, maior chegada à área contrária.

    Os bravos açorianos ganhavam, assim, nova vida para a ponta final, mas o Sporting foi maduro o suficiente do ponto de vista defensivo para travar as abstratas e pouco perigosas investidas insulares.

    O jogo, com o passar dos minutos, tornar-se-ia mais confuso, com o Sporting, como em outros jogos, a não conseguir controlar o adversário, mais uma vez com dificuldades em manter uma posse consistente. Os últimos minutos, já com Pote em campo, de volta aos relvados cinco meses depois, seriam de algum sufoco, ainda que sem verdadeiro perigo da equipa da casa, pelo que os leões seguraram mesmo a vitória pela margem mínima.

    Os ânimos exaltados logo após o apito final retratam bem a importância desta vitória para a equipa de Rui Borges, não sem sofrimento. Mas, pelo menos, de menos para mais.

    No entanto, continuo a achar que Rui Borges se tornou quase que um interino glorificado. Uma filosofia simplista e até refrescante tornou-se negativa, a roçar o ignorante. Uma adaptação tirou-lhe toda a personalidade que teve impacto, com ou sem condicionantes. Parece-me que está a gerir um clube de ambições maiores da mesma forma que geriu passados clubes de obrigações menores, com todo o respeito pelos mesmos, claro.

    No primeiro terço da época, diria que só por milagre o Sporting seria campeão. Neste momento, mas apenas e só se continuar com este tipo de exibições a serviços mínimos, digo que só por milagre o Sporting será campeão.

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    Raul Saraiva
    Raul Saraiva
    Jovem entusiasta e curioso, o Raúl tem 18 anos e está prestes a ingressar na Universidade. O seu objetivo é fazer jornalismo, de preferência desportivo, até porque a sua paixão pelo desporto é infindável e inigualável. Desde pequeno que o desporto faz parte da sua vida. Adora ver, falar e escrever sobre futebol, nunca fugindo às táticas envolvidas no mesmo. O desporto-rei é, assim, a sua grande paixão e o seu refúgio para escapulir nos momentos em que a sua grave doença se faz sentir. Ainda assim, também se interessa bastante por NBA, futsal, hóquei em patins, andebol, voleibol e ténis. Acredita que se aprende diariamente e que, por isso, o desporto pode ser diferente. Escreve com acordo ortográfico.

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