Rúben Amorim, treinador do Sporting CP, é um admirador confesso de Gian Piero Gasperini e, talvez por isso, (quase) sempre alinhou no sistema tático predileto do italiano: o 3-4-3. Só que qualquer sistema no futebol está sujeito aos papéis de cada jogador e às suas movimentações, estando longe de representar um posicionamento rígido da equipa.
Por isso, já se sabia que ambas as equipas alinhariam dessa forma, mas também que o comportamento dos seus jogadores seria diferente e tal refletiu-se sobretudo na atuação dos centrais das duas formações.
A Atalanta BC teve um comportamento muito interessante na saída de bola – era feita a três, mas devido à descida no terreno de de Roon e de Éderson. Dos três centrais, só Djimsiti ficava na sua posição “natural”, enquanto Scalvini, pela direita, e Kolasinac, pela esquerda, voavam pelos flancos.
Isso confundiu desde o início as marcações do trio da frente sportinguista e permitiu que “La Dea” jogasse a seu bel-prazer no primeiro tempo.
A Atalanta chegava a ter três jogadores numa lateral (o central, o ala e um avançado, normalmente Lookman), procurando ter vantagem numérica e tranquilidade para trocar a bola nessa zona do terreno, donde, de resto, originaram ambos os golos dos italianos.
Note-se que, no primeiro golo, antes de Scalvini finalizar na pequena área, quando Zappacosta inicia a sua movimentação, o Sporting está a defender com uma linha de oito jogadores (!), o que demonstra o quão sufocada a equipa estava nesse momento. Já o segundo golo surge no espaço que Diomande desocupa, ao perseguir Lookman até à ala, permitindo Ruggeri invadi-lo e marcar à vontade.
Por contraste com os da Atalanta, os centrais do Sporting têm posicionamentos mais rígidos, o que, por vezes, se traduz por movimentos e tomadas de decisão mais previsíveis. O trio atacante da equipa bergamasca definiu com facilidade a sua tarefa nas marcações, o que permitiu aos italianos, na primeira parte, fazerem uma pressão alta e recuperarem assim a bola.
Respondendo à pergunta colocada pelo Bola na Rede na conferência de imprensa pós-jogo, Gasperini comentou a exibição da sua equipa na primeira parte: “Conseguimos fazer praticamente tudo. Conseguimos entrar bem com vários jogadores, marcámos golo com um defesa. Conseguimos desenvolver as nossas características, fazer troca de papéis e isto permitiu-nos criar situações de perigo”.
O posicionamento agressivo dos centrais da Atalanta podia deixar a equipa exposta a contra-ataques do Sporting, mas esta é uma equipa que só sofreu um golo nos últimos cinco jogos (o de Gyokeres, de penálti) e controlou muito bem as tentativas de ataque rápido dos leões.
No segundo tempo, o Sporting conquistou mais espaço e aqui destacou-se Gonçalo Inácio (provavelmente o melhor leão em campo), controlando o ritmo de jogo e ajudando a equipa a manter a pressão sobre o adversário.
Ainda assim, no cômputo geral, a exibição da Atalanta foi mais conseguida do que a do Sporting, que terá agora a oportunidade de corrigir os erros do jogo de ontem e vingar-se quando visitar Bérgamo.