Sporting CP 1-2 FC Porto: Samba, o clássico de Carnaval

    A CRÓNICA: MELHOR, MAS AINDA NÃO ESTÁ PERFEITO

    A ignorância não é uma sentença, nem uma condição inultrapassável” (palavras do Prémio Nobel da Literatura 2021, Abdulrazak Gurnah, em entrevista ao Expresso). Superar os erros do passado não implica esquecê-los, pois é preciso que prevaleçam na memória para não voltarem a ser cometidos.

    Baixem-se as armas, mas aponte-se às balizas. Grite-se, não como insulto ou atitude provocatória, mas como impulso natural da alegria do golo. Brindemos os adeptos não com quezílias, mas com a magia que vai nos pés de quem tão bem sabe dar destinos à bola que tanto gostamos de ver a rolar.

    O futebol não são as escaramuças, é o golo de bandeira do Sarabia, a assistência de calcanhar do Taremi e as defesas espalhafatosas do Marchesín e do Adán.

    Com todo o risco que fazer analogias envolvendo estes dois clubes e desportos de combate tem, virtude dos acontecimentos recentes, Sporting CP e FC Porto jogaram em Alvalade o primeiro round da meia-final da Taça de Portugal. O clima foi tenso, mas um clássico não se joga com as pulsações em baixo, embora nem tudo justifique a fuga ao domínio da razão.

    Como tal, ainda se verificaram comportamentos que excedem o mero uso das capacidades futebolísticas que a cada equipa correspondem para ferir o adversário. Também fora do campo, parte dos adeptos afetos ao Sporting CP escolheram a incorreção como forma de estar e, em várias situações, atiraram artefactos pirotécnicos e bolas de golfe para o relvado.

    Sporting CP FC Porto
    Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

    No que ao jogo diz respeito, dizer que quando os impulsos da fome atacam os tubarões e não lhes resta mais alimento do que os seus semelhantes, estes tendem a investir uns contra os outros. Felizes ficam os peixes mais pequenos que veem a sobrevivência assegurada.

    Tenho um amigo do CD Tondela e o precipitado já me falou em irmos ver a final da Taça de Portugal. Só que o rapaz, para além de precipitado, é esquecido e a primeira deslembrança que o assolou foi a de que tem que ultrapassar o CD Mafra na outra meia-final. Funcionam assim os sonhos: as dificuldades são o que nos dista mais deles, mas, também, o que os torna mais apetecíveis. Do lado mafrense, o otimismo deve estar igual.

    Sporting CP e FC Porto tinham na meia-final o palco para mostrarem que são os predadores que restam na competição. Os leões foram os primeiros a atacar com intenção. Na primeira parte, Matheus Nunes, Sarabia e Porro deram os principais sinais de perigo, mesmo que os dragões guardassem para si a maior parte da posse de bola.

    A disrupção do artista torna a obra em algo nunca visto. Sarabia fez o que não tinha sido feito e ainda deu brilhantismo ao remate com que abriu o marcador.

    Não durou muito a euforia leonina. Evanilson ganhou um penálti que deixou para Taremi bater e, depois, foi o próprio que fez o gosto ao pé, colocando o FC Porto na frente.

    Rúben Amorim tentou com Slimani e Paulinho em simultâneo relançar o jogo. O efeito revelou-se nulo, sendo que, até ao fim, nem o FC Porto conseguiu dilatar a vantagem, nem o Sporting CP chegar ao empate, mesmo que Marchesín tenha sido obrigado a fazer uma intervenção digna do aplauso personalizado de Sérgio Conceição.

    Com dois golos na casa do rival, os dragões partem para o segundo jogo com o tesouro de que não querem abrir mão. A final já tem um bocadinho de azul, mas falta o branco. Embora não tenham acontecido atitudes como as do clássico anterior, ainda há coisas que o calor do jogo não pode fazer esquecer.

    A FIGURA

    Evanilson – aproveitou o espaço entre a linha média e a linha defensiva para ser solução em apoios frontais. A ajuda que deu à cambalhota no marcador foi preciosa. Em tempo de Carnaval, samba o brasileiro.

    O FORA DE JOGO

    Sporting CP FC Porto
    Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

    Nuno Santos – foi o primeiro preterido por Rúben Amorim. Acabou apanhado pela indefinição quando teve oportunidade de chegar ao último terço. Mérito ao bom trabalho defensivo de Bruno Costa que o ofuscou.

    ANÁLISE TÁTICA – SPORTING CP

    A fórmula Paulinho/Slimani não resultou na Madeira. Rúben Amorim voltou atrás e recuperou o 3-4-3. Na vez de Slimani, entrou Nuno Santos o que obrigou à reconfiguração da frente de ataque.

    Em processo ofensivo, o Sporting CP alargou ao máximo a equipa, preenchendo os três corredores do campo. Os próprios extremos, Nuno Santos e Sarabia, jogaram muito perto da linha lateral.

    A equipa verde e branca teve problemas em controlar o corredor central. O bom trabalho de pressão dos três homens da frente não era acompanhado pelos médios, que viam o espaço das suas costas ameaçado.

    Devido a esta situação, o Sporting CP começou cada vez mais a apostar na organização defensiva. A partir daí, não perdia tempo para sair em ataque rápido.

    11 INICIAL E PONTUAÇÕES

    Antonio Adán (7)

    Pedro Porro (6)

    Luís Neto (5)

    Sebastián Coates (5)

    Gonçalo Inácio (5)

    Matheus Reis (5)

    Manuel Ugarte (5)

    Matheus Nunes (5)

    Pablo Sarabia (6)

    Nuno Santos (4)

    Paulinho (5)

    SUBS UTILIZADOS

    Marcus Edwards (6)

    Islam Slimani (4)

    Daniel Bragança (-)

    ANÁLISE TÁTICA – FC PORTO

    O FC Porto lançou Bruno Costa como lateral-direito para conter as investidas do Sporting CP pela esquerda e limitar Matheus Reis, mas foi com João Mário, quando entrou que o flanco foi mais bem aproveitado. Mesmo em 4-3-3, de modo a controlar a largura, Uribe encaixou entre os dois centrais a defender, permitindo alongar a linha defensiva.

    Com bola, assim que Ugarte e Matheus Nunes saíam a pressionar Uribe e Grujic, Vitinha (terceiro médio) e Evanilson (ponta-de-lança que executou vários movimentos em apoio), tinham espaço para explorar entre linhas, pois a linha defensiva dos leões não se atrevia a subir mais pela ameaça de Taremi no ataque à profundidade.

    A pressão média/alta dos dragões foi executada de fora para dentro. Na mente de Sérgio Conceição estaria a ideia de, uma vez que tinha muitos homens no corredor central, recuperar e estar em condições de transitar ofensivamente com mais perigo.

    11 INICIAL E PONTUAÇÕES

    Agustín Marchesín (7)

    Bruno Costa (6)

    Chancel Mbemba (8)

    Pepe (6)

    Zaidu (6)

    Matheus Uribe (7)

    Marko Grujic (6)

    Vitinha (6)

    Fábio Vieira (7)

    Mehdi Taremi (6)

    Evanilson (8)

    SUBS UTILIZADOS

    Pepê (5)

    Otávio (5)

    João Mário (6)

    Toni Martínez (-)

    Fábio Cardoso (-)

    BnR NA CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

    SPORTING CP

    O Bola na Rede foi impedido de colocar questões ao treinador do Sporting CP, Rúben Amorim.

    FC PORTO

    O Bola na Rede foi impedido de colocar questões ao treinador do FC Porto, Sérgio Conceição.

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    Francisco Grácio Martins
    Francisco Grácio Martinshttp://www.bolanarede.pt
    Em criança, recreava-se com a bola nos pés. Hoje, escreve sobre quem realmente faz magia com ela. Detém um incessante gosto por ouvir os protagonistas e uma grande curiosidade pelas histórias que contam. É licenciado em Jornalismo e Comunicação pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e frequenta o Mestrado em Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social.