SER CAMPEÃO NÃO É DESCULPA PARA COMPRAR CARO E VENDER BARATO
O Sporting CP foi campeão nacional muito pelas contratações que fez no início dessa mesma temporada. O acerto de Rúben Amorim nos reforços, assim como do scouting leonino, foi fundamental para o bom desempenho desportivo da equipa. Porém, vencer o Campeonato Nacional não pode ser um impedimento de críticas a ninguém. Neste artigo, pretendo indicar também o lado negativo dos negócios que a direção leonina tem vindo e poderá ainda vir a fazer.
Disse já em artigos anteriores que o treinador do Sporting CP mudou do dia para a noite o projeto do clube. Passou a aproveitar melhor os produtos vindos da academia, e exigiu contratações cirúrgicas e úteis, ao invés de querer jogadores apenas para ter mais opções. Ruben Amorim promoveu Gonçalo Inácio, Nuno Mendes, Matheus Nunes, Daniel Bragança e Tiago Tomás, e contratou atletas como Pedro Gonçalves, Nuno Santos, Tabata e Paulinho, que acrescentaram qualidade no setor ofensivo.
Ora, se por um lado a política de contratações do Sporting CP tem trazido jogadores de qualidade para o plantel, a nível financeiro as coisas têm sido algo diferentes. Para além de os valores dos passes dos atletas serem altíssimos, a direção leonina é apenas detentora de metade da quantia de uma futura transferência da maioria dos contratados. Pedro Gonçalves, Ugarte, Ruben Vinagre (caso a cláusula de compra seja ativa) e Tabata são alguns dos exemplos em que o Sporting CP partilha o passe dos jogadores com outros clubes.
Acredito que este fator se deva muito à aproximação da direção leonina com os esquemas de Jorge Mendes. Não é difícil reparar que os quatro jogadores que referi anteriormente vieram de clubes com ligações conhecidas com o agente: FC Famalicão, Wolverhampton Wanderers Football Club e Portimonense SC. Se, por um lado, uma boa ligação com a Gestifute pode atrair jogadores de qualidade à equipa leonina, por outro, pode prejudicar o clube financeiramente, pois este fica dependente do agente para negociar e encaixa menos dinheiro com a venda de ativos. Um exemplo que poderá confirmar o meu raciocínio é a possibilidade de Luís Maximiano se transferir para o Granada FC, clube com conhecidas ligações a Jorge Mendes. Provavelmente, o Sporting CP precisa de encaixar capital muito pelo dinheiro que tem gastado em reforços e precisa de recorrer ao agente – é a solução mais viável.
O facto de o Sporting CP ser campeão nacional não invalida que existam coisas a apontar à gestão que tem sido feita por Frederico Varandas. Preocupa-me a fraca capacidade de negociação da atual direção leonina, pois comprar caro e vender barato tem sido uma regra religiosa, algo que em plena crise pandémica é ainda mais gravoso. É também importante que o Sporting CP não se venda apenas para obter um ou outro jogador. Ficar refém de alguém para negociar não é positivo, pois, no final de contas, sabemos bem quem (não) fica a ganhar.
Artigo revisto por Andreia Custódio