Um leão embruxado

    Um pesadelo austríaco em dois actos

    É preciso ainda lembrar que em muitos destes casos o Sporting foi obrigado a jogar esses prolongamentos de forma verdadeiramente dramática, sendo emblemáticos os dois jogos a papel químico diante dos austríacos: Casino Salzburgo e Rapid Viena, quando os leões ganharam por 2-0 em casa e sofreram o 2-0 na Áustria já nos últimos instantes de ambas as partidas, sempre com falhas inacreditáveis do guarda-redes Costinha.

    Situação talvez ainda mais inexplicável foi a que aconteceu com o Grasshoppers e também com o Halmstads, uma vez que o Sporting, aí, acabou eliminado depois de vencer fora, por 2-1, perdendo em Alvalade pelo mesmo resultado e baqueando posteriormente no prolongamento (1-3 diante dos helvéticos; 2-3 diante dos suecos). E não podemos esquecer que o 1-2, que garantiu o prolongamento ao Halmstads, surgiu no último suspiro do tempo regulamentar e na sequência de mais um frango monumental, desta feita de Nélson.

    Menos dramáticas, por outro lado, foram as eliminações com Dínamo de Bucareste e Partizan, ainda que o duelo com o emblema de Belgrado tenha sido também algo cruel para os leões, que haviam perdido em casa por 3-1, mas que conseguiram, de forma heroica, inverter o resultado na capital sérvia. Posteriormente, lembre-se, o Sporting não resistiria no prolongamento, acabando vergado a um empate a três bolas, mas os adeptos com melhor memória lembrarão que Marius Niculae, nos últimos instantes do tempo regulamentar, desperdiçou com um remate ao poste aquele que podia ser o 4-1 do apuramento leonino.

    Este foi o protagonista da triste derrota de Gelsenkirchen Fonte: Sporting CP
    Este foi o protagonista da triste derrota de Gelsenkirchen
    Fonte: Sporting CP

    Últimos minutos tantas vezes cruéis

    No início do texto lembrei três ocasiões em que o Sporting foi feliz nos últimos suspiros de encontros europeus, mas uma vez mais há que reforçar que são muito mais os casos em que os verde-e-brancos sofreram verdadeiros baldes de água fria nesses momentos cruciais, isto numa epopeia de má memória.

    Em 1997/98, diante do Mónaco, em jogo da fase de grupos da Liga dos Campeões, o Sporting viu uma vantagem de 2-0 transformar-se num desaire por 3-2. Em comum com tantas histórias já descritas, foi o golo sofrido aos 90 minutos e a exibição infeliz do guarda-redes Tiago, que nem começou o jogo, mas que acabaria por entrar a meio do mesmo para substituir o lesionado Filip de Wilde. Nessa mesma fase de grupos, na deslocação à Bélgica para defrontar o Lierse, o Sporting haveria de dominar o jogo com clareza do primeiro ao último minuto, altura em que a magra vantagem de 1-0 se esfumou com um golo apontado por Huistra.

    Mas esta é uma história que continuou ao longo dos tempos: Manchester United (2007/08 – Fase de grupos da Liga dos Campeões – 1-2 sofrido nos descontos); Glasgow Rangers (2010/11 – 16/final da Taça UEFA – 2-2 sofrido nos descontos, isto depois do 1-1 obtido na Escócia); Maribor (2014/15 – Fase de Grupos da Liga dos Campeões – 1-1 sofrido nos descontos); Schalke 04 (2014/15 – Fase de Grupos da Liga dos Campeões – 3-4 sofrido nos descontos).

    Por esta viagem, portanto, percebe-se que o recente drama de Madrid é apenas mais um capítulo de tantos outros que têm acompanhado o Sporting nos seus últimos 27 anos de vida e que me levam a questionar se haverá algum clube na Europa com a mesma sucessão constante de “azares” que vêm minando os verde-e-brancos. É que para se construir um novo Sporting na UEFA também será preciso um pouco de sorte e, por mais que se mude de presidente, treinadores ou jogadores, a má sina vai-se eternizando…

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    Ricardo Figueiredo
    Ricardo Figueiredohttp://www.bolanarede.pt
    Sportinguista sofredor desde que se conhece, a verdade é que isso nunca garantiu grande facciosismo, sendo que não tem qualquer problema em criticar o seu clube quando é caso disso, às vezes até com maior afinco do que com os rivais. A principal paixão, aliás, sempre foi o futebol no seu contexto mais generalizado, acabando por ser sintomático que tenha começado a ler jornais desportivos logo que aprendeu a ler. Quanto ao ídolo de infância, esse será e corre o risco o de ser sempre o Krassimir Balakov, internacional búlgaro que lhe ofereceu a alcunha de “Bala” até hoje. Ricardo admite que ser jornalista desportivo foi um sonho de miúdo que conseguiu concretizar e o que mais o estimula na área passa pela análise de jogos e jogadores, nomeadamente os que ainda estão no futebol de formação ou naqueles campeonatos menos mediáticos e que pensa sempre que ninguém vê como o japonês, sul-coreano ou israelita..                                                                                                                                                 O Ricardo não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.