📲 Segue o Bola na Rede nos canais oficiais:

Carta Aberta aos: adeptos de futebol

- Advertisement -

cartaaberta

Lembro-me de começar a ver futebol com o meu pai. Os jogos, tal como actualmente, decorriam maioritariamente à hora de jantar, dificultando a sua visualização, uma vez que a minha mãe não gostava de que a televisão fizesse parte do espaço e tempo dedicado às refeições. Era a única hora do dia em que estávamos todos juntos, dizia ela. No entanto, quando se tratava da transmissão de partidas importantes, era aberta a excepção e recorríamos à tábua de passar a ferro para que esta fizesse de suporte para a televisão que transportávamos da sala para a cozinha – devo dizer que ficava com um sorriso de orelha a orelha enquanto a minha mãe resmungava devido à desarrumação (“Fio p’ra cá, fio p’ra lá…”).

Por vezes, debatia-me ainda com outro problema: o jogo que eu queria ver não passava em canal aberto. Nessas ocasiões, comia o mais rapidamente possível para me dirigir ao café mais próximo de casa, na companhia do meu pai. Não vos sei dizer o porquê deste fascínio pelo desporto-rei, mas a verdade é que os meus olhos brilhavam e eu sentia-me cativada pelo ambiente envolvente, pelos cânticos dos adeptos, pelos jogadores, pelas tácticas, pelas fintas, pelas jogadas, pelos golos.

Confesso que tenho saudades deste tempo. Não por hoje, mais crescida, ter outras responsabilidades, mas pelo facto de, ao ser uma criança, ter a ingenuidade como minha melhor amiga. Diz-se que quando somos mais pequenos temos a capacidade de apreciar as coisas na sua forma mais pura, livre de estereótipos e imune à dificuldade e complexidade que é a vida em sociedade com claros objectivos financeiros. Acho que era desta forma que eu perspectivava o futebol. Limitava-me a observar os lances de génio que eram criados jogo após jogo pelos principais intervenientes no relvado e as conversas com aqueles que me rodeavam focavam-se no quão bem ou mal tinha jogado determinada equipa.

Hoje, mais crescida, sinto que me encontro mergulhada num mundo futebolístico em que o futebol em si perdeu prioridade. As discussões entre adeptos de futebol sobre o jogo propriamente dito são sufocadas por debates sobre fundos financeiros, valores de transferências, direitos de exclusividade televisiva, corrupções, casos de arbitragem, guerras entre presidentes, treinadores e jogadores. Se não concordam, parem para pensar: quando falam com os vossos amigos, familiares ou colegas, quais são os argumentos que utilizam para tentar justificar que o vosso clube é melhor?

O meu Benfica nunca me desilude. Dos três grandes, foi aquele que fez o melhor acordo com a NOS e isso demonstra a sua grandeza!

– Até te podes gabar desse feito mas é o meu Sporting quem continua no topo com o Jorge Jesus como treinador. Lembras-te dele?

– Sim, lembro-me dele. E do Carrillo, tu lembras-te?

– Ah, esse traidor… Muito pouco trabalhador. Trocou a equipa que é prejudicada todas as semanas para assinar por um clube que só com colinho consegue títulos.

– Muda o disco. Quantos penáltis vão pedir no próximo jogo?

Não sejam escravos dos interesses políticos e económicos. Não tratem o futebol como se de uma empresa fordista se tratasse. A corrupção – em todos os sectores da sociedade – vai sempre existir, tal como as batalhas fora do relvado. Cabe-nos a nós, como verdadeiros amantes de futebol, parar de alimentar, através das nossas palavras, as máquinas capitalistas sobre as quais nunca conseguiremos exercer nenhum controlo. Apoiem o clube que amam pelo espectáculo que ele produz dentro das quatro linhas e não por aquilo que consegue junto dos empresários ou dos meios televisivos. Sempre que possível juntem a família, aprendam os cânticos e encham os estádios. Discutam sobre se a melhor táctica é o 4x3x3 ou o 4x4x2, questionem-se acerca do motivo que conduz à eficácia da equipa catalã e comentem os rasgos individuais do Cristiano Ronaldo. Façam com que o futebol volte a ser a festa que vocês observavam quando eram crianças. Façam com que as crianças continuem a querer ver televisão à hora de jantar, mesmo que a mãe não concorde.

Foto de Capa: maisfutebol

Rita Latas
Rita Latashttp://www.bolanarede.pt
Atualmente a trabalhar na Sport TV, Rita Latas está no mundo do jornalismo desportivo há sete anos. O futebol foi a modalidade que a levou a ingressar na área, depois de 13 anos como jogadora federada

Subscreve!

Artigos Populares

Benfica já tomou decisão em relação ao futuro de Carole Costa

O Benfica já decidiu e vai apresentar renovação do contrato a Carole Costa. A defesa portuguesa está a cumprir a sexta época ao serviço das águias.

Iñaki Williams: «Para mim, jogar na Arábia é uma m****»

Iñaki Williams manifestou o seu desagrado pelo facto da Supertaça de Espanha voltar a ser disputada na Arábia Saudita.

Boston Celtics batem Utah Jazz com Neemias Queta em bom plano e Derrick White como MVP

Os Boston Celtics venceram os Utah Jazz fora de casa por 129-111, em mais um jogo de NBA. Neemias Queta foi utilizado e voltou a corresponder.

Yassir Zabiri desperta interesse em Itália

A Atalanta está interessada na contratação de Yassir Zabiri. O avançado marroquino tem-se destacado no Famalicão.

PUB

Mais Artigos Populares

Alverca acerta empréstimo de médio para o Athletic do Brasil

Gian Cabezas está na porta de saída do Alverca. O médio colombiano de 22 anos está a caminho do Athletic, que é treinado por Rui Duarte.

Luis de la Fuente aborda opções ofensivas da Espanha e destaca Samu Aghehowa: «Estamos muito contentes com o que temos»

Luis de la Fuente concedeu uma entrevista em que abordou a fase final do Mundial 2026 e a possível lista de convocados da Espanha.

Vítor Carvalho tem interessados em Itália e no Brasil: Braga já definiu preço para transferir o médio brasileiro

O Torino está interessado na contratação de Vítor Carvalho. O médio brasileiro pode deixar o Braga a troco de cinco ou seis milhões de euros.