Carta Aberta a: Bruma

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    Caro Bruma,

    Vou direto ao assunto: quando me perguntam, digo sempre que desejo o pior para a tua carreira. Que sejas sempre suplente, daqueles que passam mais tempo a aquecer do que a jogar. Que continues esse teu percurso descendente (que já começaste apesar de só teres 21 anos) e que termine com uma participação num reality show a dar saltos para a água. Que sejas uma eterna promessa adiada e mais um exemplo vivo de como a ganância e a falta de escrúpulos podem destruir uma carreira.

    É isso que digo sempre. O problema é que, depois, durante o jogo, dou por mim a torcer um bocadinho por ti. Só nesta última semana já me causaste dois momentos de embaraço. Primeiro no Santiago Bernabéu, quando puxaste a bola para o pé direito e a meteste lá bem no ângulo da baliza, e, depois, quando fizeste o golo de primeira ao Rayo Vallecano. É que, em ambos os casos, até saltei da cadeira a festejar o golo! Claro que olhei logo em redor para ver se alguém tinha reparado, enquanto sentia um misto de vergonha e revolta por não te conseguir odiar a 100% (como faço tão competentemente com outras maçãs podres que saíram de Alcochete).

    O teu caso parece ser diferente dos outros, caro Bruma. Talvez porque deixou a sensação de que nem te apercebeste bem do que se passou. Lembro-me de que, quando já estavas de saída para a Turquia, continuavas a dizer que gostavas muito do Sporting e que esperavas voltar um dia, como uma criança que não sabe a gravidade do que acabou de fazer. Ainda ontem o meu filho de um ano e meio partiu uma jarra cá em casa. A jarra havia sido da minha avó, esteve muitos anos em casa da minha mãe e estava agora em minha casa, até que, ontem, sucumbiu tragicamente às mãos do pequeno diabrete que estou a criar. Ralhei veementemente perante o seu olhar atónito e, assim que me calei, ele respondeu com uma das poucas palavras que sabe dizer: “Owá!”; e começou a bater palminhas. Ora, experimentem lá tentar ficar zangados durante muito tempo perante tal reação. É impossível.

    Os adeptos do Sporting CP sempre te trataram bem, Bruma Fonte: Sporting CP
    Os adeptos do Sporting CP sempre te trataram bem, Bruma
    Fonte: Sporting CP

    Por favor, Bruma, não contes à minha mulher que estou, ainda que levemente, a comparar-te ao meu filho, mas as palavras que utilizas sempre que falas do Sporting revelam também uma incrível ingenuidade e falta de consciência sobre o que se passou. Em junho de 2014 dizias ao Correio da Manhã que fizeste “sempre questão de que o Sporting não saísse prejudicado”, em junho de 2015 dizias à Antena 1 que o Sporting é o clube do teu coração e, em novembro, dizias ao A Bola que estavas muito orgulhoso por ver o Sporting em primeiro lugar. Ages como uma criança que não percebe a gravidade do que fez. E, provavelmente, não percebeste mesmo.

    Isso leva-me à segunda razão que faz com que não consiga odiar-te plenamente: Catió Baldé e Bebiano. A ideia que tenho é de que foste (e continuas a ser) mais vítima do que culpado. Um professor, de quem não recordo o nome, disse que a única razão por que gostava de conhecer os pais dos seus alunos era porque isso o ajudava a perdoar os filhos. Ora, ter conhecido Catió Baldé e Bebiano, definitivamente, ajuda-me a perdoar-te, caro Bruma. “Livrando-te” deles, estou certo de que serias recebido de braços abertos pela maior parte dos sportinguistas. E, em Alvalade, não serias apenas mais um como és por aí. Vê lá que, quando jogaste contra o Barcelona, o twitter do clube catalão trocou o teu nome por “Niebla”!

    Vá, Bruma, pensa lá na tua vida. Quando saíste do Sporting, em 2013, dizias que ainda acreditavas que podias ir ao Mundial do Brasil em 2014. No entanto, em 2015, nem sequer conseguiste ir ao Europeu de sub-21. Já fizeste muito pelo encarregado Baldé e pelo advogado Bebiano, é bom que comeces a pensar em fazer algo pela tua carreira. Caso contrário, lá terei eu de te desejar um 2016 com muito tempo sentado no banco e uma carreira de fazer inveja ao Fábio Paim.

    Foto de Capa: Galatasaray SK

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    Eduardo Botelho
    Eduardo Botelhohttp://www.bolanarede.pt
    Se os passes de letra existissem literalmente, o Eduardo talvez tivesse dado jogador de futebol. Assim, limita-se às reviengas literárias. A viver em Barcelona, tem vista privilegiada para a melhor liga do mundo.                                                                                                                                                 O Eduardo escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.