Os emails não revelados: Raphinha critica duramente José Peseiro

    Caro mister,

    Peço desculpa desde já por estar a contactá-lo desta forma. Talvez não seja a melhor, mas parece-me a forma de me fazer notar, já que nos treinos me tem parecido que não estou a conseguir fazê-lo. Ou serão os seus olhos que estão apontados para outros locais?

    Faz já alguns meses que soube que iria jogar neste enorme clube. A alegria e o orgulho foram imensos. Sei que o investimento foi também bastante considerável, o que aumentou não só as minhas expectativas, mas também a minha responsabilidade. De qualquer forma, a confiança de que aqui iria vingar é igual à que sinto sempre que vou “para cima” de um adversário. A minha força mental e a minha qualidade davam-me a certeza que iria valer cada cêntimo investido.

    Ironia do destino: fui treinado por si no Vitória SC no final da época passada e vim reencontrá-lo aqui. Acreditei que esta coincidência seria benéfica para mim, até porque tinha sido um gosto trabalhar consigo no Vitória. Infelizmente parece que me enganei.

    Fui contratado por um Presidente e um treinador que já aqui não estão, e talvez isso me tenha colocado nas últimas posições da grelha de partida. No entanto, não duvido em algum momento ter a capacidade suficiente que me levará até aos lugares cimeiros desta “corrida”, assim o mister confie em mim.

    Confesso que as minhas expectativas tocavam o céu. Quem faz 15 golos numa só época a jogar a extremo numa equipa que não luta pelo título e que nem sequer à Europa chega? Será que isso não é justificativo de vir com o ego no pico e com uma confiança para dar e vender? A única questão é que eu não vou vendê-la e muito menos dá-la. Só espero é que ela não me seja ‘roubada’ pela falta de crença que o mister me tem demonstrado.

    Semana após semana tenho percebido que não faço e dificilmente irei fazer parte das suas escolhas iniciais. A lengalenga do “terás de esperar o teu momento” ou “a tua hora chegará”, para mim, não cola. Desculpe a sinceridade! Diz-se que os jogadores não devem falar sobre as opções técnicas de quem os “comanda”; eu discordo, porque, no fundo, acabaremos por o fazer. Se não for consigo será com outros membros do balneário e isso só prejudica o grupo.

    Raphinha desconfia que ‘não contará’ para José Peseiro
    Fonte: Sporting CP

    Por isso, pergunto-lhe muito abertamente: Conta comigo para ser um jogador importante? Vou ter de esperar por um abaixamento de forma do Nani? Do Acuña? De um outro extremo que se diz ainda estar para chegar? Eu não vim só para jogar jogos das Taças. Se é para aguardar serenamente por tantas condicionantes, então desde já lhe digo que prefiro que mo diga na cara e me emprestem. Se sete milhões para si não significam um investimento num jogador que pode ser uma real mais-valia, então estamos conversados.

    O Acuña irá ocupar a minha posição? É essa a sua ideia? Só consigo entendê-la se porventura precisar, em simultâneo, de um defesa esquerdo e de um médio esquerdo que seja quase defesa, talvez para “omitir” os desequilíbrios desse flanco, e não, não são provocados por mim porque eu jogo cada vez menos, mas antes por alguém que joga naquele lado do terreno de jogo e que não poucas vezes “trama” a equipa. Desculpe, de novo, a sinceridade.

    Dito isto, e esperando realmente que não leve a mal as minhas palavras, digo-lhe somente para deixar de ter medo e arriscar. De arriscar também na nossa forma de jogar. Nós, os jogadores, precisamos de sentir que no banco está alguém sem medo. Sem medo de assumir escolhas ousadas. Sem medo de se atrever a surpreender o nosso adversário. Sem medo de um sorriso sincero ou de dar um ‘raspanete’ daqueles que só os grandes treinadores conseguem verdadeiramente transmitir. Sem medo de ser feliz.

    Vou pois terminar, mister. Desculpe uma vez mais se fui ousado ou inoportuno. Espero que não entenda estas palavras dessa forma.

    E, já agora, experimente a apostar em mim duas ou três vezes consecutivas no onze titular, e depois verá. Aí, se realmente o decepcionar, serei o primeiro a assumir a minha culpa, e entenderei o banco de suplentes como um prémio merecido. Até lá, esse mesmo banco irá causar-me náuseas que temo não poderem ser combatidas em 10 ou 15 minutos semanais.

    Cumprimentos,

    Raphael Dias Belloli.

    Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.

     

    Foto de Capa: Sporting CP

    artigo revisto por: Ana Ferreira

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    Tiago Ferreira
    Tiago Ferreirahttp://www.bolanarede.pt
    O Tiago é um apaixonado pela vida, pelas pessoas e também por tudo o que rodeia o desporto em geral e o futebol em particular. Assim, tenta expressar as suas emoções e vivências da melhor forma que julga conseguir fazê-lo: por palavras escritas.                                                                                                                                                 O Tiago não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.