Força da Tática: Os lobos que não gostam de ovelhas

    Dias depois de ter perdido em Cardiff, Nuno Espírito Santo (NES) enfrentava, no Molineux Stadium, o Chelsea FC de Sarri, um desafio especialmente difícil para Wolverhampton Wanderers FC, pela pressão inerente às cinco derrotas nos últimos seis jogos.

    Dando sequência ao já emocionante mês de Dezembro na Premier League, Raúl Jiménez e Diogo Jota marcaram os golos que permitiram ao Wolves vencer os Blues, a primeira vitória em quase dois meses (6 Outubro venceram o Crystal Palace FC).

    Arsenal FC, Manchester United FC, Chelsea FC e Manchester City FC, quatro leões na selva inglesa – e europeia – que não conseguiram vencer este Wolverhampton. O mesmo Wolverhampton que perdeu frente à frágil equipa de Neil Warnock (Cardiff City FC) e que foi derrotado em casa pelo Huddersfield Town AFC.

    Será que estes lobos não gostam de ovelhas? Só de leões?

    O momento do Wolverhampton

    Depois de terem sido a melhor equipa no Emirates Stadium, frente ao Arsenal FC, o Wolverhampton perdeu de forma surpreendente frente a Huddersfield e Cardiff. Surpreendente, pela diferença de qualidade – individual e coletiva – entre as equipas.

    No jogo frente ao Huddersfield, o Wolves sentiu muitas dificuldades em lidar com a superioridade numérica do meio campo de quatro homens do adversário, particularmente porque exigia de Hélder Costa e Ivan Cavaleiro missões defensivas, que os portugueses têm dificuldades em cumprir.

    No País de Gales, Neil Warnock abdicou do seu habitual 4-1-4-1 e mudou para um sistema de 3-1-4-2. A razão? Sobrecarregar o meio campo. Uma mudança de sistema que permitiu ao Cardiff dominar, através da superioridade numérica, o meio campo Moutinho-Neves.

    Para o jogo de ontem, NES tinha perfeitamente identificados os problemas dos últimos jogos, mas o facto de não poder contar com um dos seus melhores lobos – Rúben Neves – em nada ajudava a missão da alcateia.

    Vs Chelsea | Equipas

    Maurizio Sarri realizou várias alterações à sua equipa inicial, apesar de não mudar o seu sistema (4-3-3). Jorginho e David Luiz nem saíram do banco dos suplentes, enquanto que Kovačić e Pedro entraram no decorrer do jogo. Fabregas ocupou a posição de médio defensivo, com Kanté e Loftus-Cheek ao seu lado. Christensen fez companhia a Rudiger no centro da defesa. Na frente, Willian jogou sobre a direita com Morata na posição de ponta de lança.

    NES elegeu Saiss para fazer dupla com Moutinho no meio campo, um onze sem lugar para Hélder Costa, Ivan Cavaleiro e Traoré. Na frente, fazendo companhia a Jiménez, alinharam Jota e Gibbs-White. Curiosamente o homem mais adiantado não foi o mexicano, mas sim Gibbs-White. Apesar dos rumores, Bennett voltou a ser aposta ao lado de Coady e Boly na defesa (Dendoncker continua à espera). No papel de ala lateral, Rúben Vinagre (qual Cancelo a extremo esquerdo) e Doherty.

    Wolverhampton | Um agradável cheiro a Vinagre

    A lesão de Jony abriu espaço para Rúben Vinagre no onze inicial, o português que já vinha ameaçando o lugar de ala lateral esquerdo desde o início de época. Em Organização Defensiva, em resultado da preocupação do Wolves em proteger o corredor central, era exposto constantemente a situações 2vs1 quando o Chelsea FC rodava o centro de jogo. Azpilicueta/Willian recolhiam a bola dos centrais e avançavam no flanco, onde Vinagre não caía na tentação de ir pressionar a bola, aguenta a posição e tentava atrasar o Chelsea, até ter o apoio de Jota ou Saiss.

    Fonte: Sport TV

    Esta imagem, serve para ilustrar o bom acompanhamento que Vinagre fazia aos ataques à profundidade pelo Chelsea, mas principalmente o comportamento questionável de Boly. Inteligente a reconhecer os estímulos para pressionar, para depois encurtar rapidamente. Bolas altas, ou passes demasiado longos, têm a particularidade de terem uma trajetória previsível, logo, são excelentes estímulos para a equipa que está a defender pressionar, assim mesmo que não intercepta a bola, não dá espaço, nem tempo ao recetor do passe. Vemos em baixo com o passe sai “feio” dos pés de Rudiger, e Vinagre reconhece este estímulo para pressionar. Deixou espaço nas suas costas? Sim, mas Azpilicueta não consegue aceder a esse espaço pela rapidez com que Vinagre reconhece este estímulo.


    Fonte:Sport TV

    Ofensivamente, o Wolverhampton cheirava a Vinagre a 100%. Parece que está a jogar na rua, pela forma rebelde com que “vai para cima”, sem medo, coloca a sua qualidade individual ao serviço da equipa no último terço. Aqui, sem respeito pelo capitão dos Blues, a fazê-lo bailar.


    Fonte: Sport TV

    Vinagre “casa” bem com Jota, já que o camisola 18 gosta dos espaços interiores e procura os espaços entre o defesa central e o lateral direito do adversário, criando uma separação entre ambos. Separação, que dá a o corredor lateral a Vinagre para situações de 1vs1.

    Depois do golo de Loftus-Cheek, NES subiu Vinagre ainda mais no corredor esquerdo, com o português a atuar quase como extremo esquerdo. Este posicionamento, fez o Wolverhampton mais perigoso, na medida em que fixava a linha defensiva do Chelsea mais atrás. Moutinho e Coady começavam a fazer uso da sua brutal capacidade de passe de média/longa distância para começar as jogadas do lado direito e rapidamente, com recurso a essa capacidade, procurar Vinagre no lado contrário.


    Fonte: Sport TV

    Saiss, no início de construção do Wolves, flutuava para o corredor esquerdo, junto a Boly, precisamente para Vinagre ocupar a posição de extremo esquerdo, dando também cobertura e controlo às posições transições ofensivas do Chelsea.

    Vemos isso aqui, Saiss junto ao corredor esquerdo:


    Fonte: Sport TV

    Finalmente, como também podemos ver em cima, a colocação de Jiménez sobre o lado direito, e não no centro do ataque. Precisamente para tirar partido dos cruzamentos de Vinagre no lado esquerdo, aparecendo no segundo poste para finalizar ou servir companheiros como Diogo Jota, que têm o condão de fazer muitos golos deste tipo de situações, segundas bolas, espaços curtos ou finalizações ao primeiro toque.

    Gibbs-White também procurava tirar partido do “trabalho” de Jiménez, chegando tarde á grande área, explorando a entrada. Vemos também a importância de Saiss, para controlar (Aqui matar) os possíveis contra-ataques do Chelsea FC.


    Fonte: Sport TV

    Considerações Finais

    Apesar de não ser o objetivo de este artigo, por isso não falei, o Chelsea está a revelar vários problemas que falarei em um próximo artigo. Assim que o Wolverhampton chegou a vantagem conseguiu colocar em prática o momento do jogo onde é mais forte, Organização Defensiva, e levou os três pontos.

    Apesar da vitória, questiono-me sobre a capacidade de Boly e Bennett em levar a equipa para o nível seguinte ou talvez esteja eu a julgar mal pela paixão que tenho por Coady. Mesmo marcando na própria baliza e não tendo feito o melhor jogo da sua vida ontem, está vários degraus acima dos dois companheiros da linha de três.

    O lobo não gosta de ovelhas, é evidente, mas para sobreviver têm de alterar essa situação e ir às compras no Natal.

    Foto de capa: Wolverhampton Wanderers FC

    Revisto por: Jorge Neves

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    João Mateus
    João Mateushttp://www.bolanarede.pt
    A probabilidade de o Robben cortar sempre para a esquerda quando vinha para dentro é a mesma de ele estar sempre a pensar em Futebol. Com grandes sonhos na bagagem, está a concluir o Mestrado em Engenharia e Gestão Industrial, pela Uni-Nova e procura partilhar a forma como vê o jogo com todos os que partilham a sua paixão.                                                                                                                                                 O João escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.