Liverpool FC e Crystal Palace FC mediram forças em Anfield no último sábado, a contar para a 23ª jornada de Premier League. Os três pontos acabaram por ficar em Liverpool, mas a grande réplica dos londrinos ainda levou muitos a pensar que Roy Hodgson ia voltar a ter um impacto direto na corrida ao título depois de, no final de dezembro, ter ido ao Etihad derrotar Guardiola. Assim, Salah (por duas vezes), Firmino e Mané marcaram os golos que permitiram a Klopp manter a distância para o Manchester City FC, no topo da tabela.
Equipas
Parece que Klopp abdicou do seu 4-3-3, que vinha a utilizar praticamente desde a sua chegada a Liverpool, em detrimento do 4-2-3-1. Frente ao Palace, Fabinho e Henderson alinharam lado a lado para formar o duplo pivô, na proteção à linha defensiva, que viu Milner como lateral-direito, Dijk e Matip no centro da defesa e Robertson sobre a esquerda. Na frente, Firmino jogou nas costas de Salah, com Mané pela direita e Keita pela esquerda.
Hodgson, como era expectável, apresentou um bloco baixo em 4-5-1, com a linha defensiva muito estreita entre si, não concedendo praticamente nenhum espaço entre os jogadores. Essa linha de quatro homens era formada por Wan-Bissaka (à direita), Tomkins, Sakho e Aanholt (na esquerda). Na frente destes quatro homens, protegendo-os, uma linha de cinco jogadores com Zaha (à esquerda), Kouyaté, Milivojevic, McArthur e Townsend (na direita). Na frente, Ayew.
Roy Hodgson | Saber andar de autocarro
Sim, podemos dizer que estacionou o autocarro no relvado de Anfield, mas eu prefiro afirmar que utilizou da forma mais eficaz possível as armas (jogadores) que tinha à sua disposição para romper a estratégia do seu adversário, sem nunca abdicar de agredir o Liverpool.
Em baixo, vemos o quão compacto era o bloco defensivo do Palace. Linha defensiva próxima da linha média e jogadores da mesma linha a uma distância tão curta quanto possível para evitar que o Liverpool conseguisse jogar entre linhas. Assim, os Reds eram forçados a jogar no exterior do bloco, com os laterais (a amarelo) bem abertos em largura.
Este posicionamento de Milner e Robertson significava que Zaha e Townsend (a azul) estavam mais próximos da baliza de Alisson do que os laterais Reds, ou seja, em posições muito favoráveis para atacar o espaço nas costas dos laterais do Liverpool nos momentos de transição.
Se Zaha, em desvantagem, é a dor de cabeça que é, imagine-se com vantagem frente a Milner, que, em resultado do que expliquei nas últimas linhas, encarava a estrela do Palace muitas vezes em situações de isolamento. Como ficou visível no primeiro golo:
Fonte: NBCSN
Liverpool | Paciência (e sorte) de campeão?
Os 70.6% de posse de bola podem ser muito enganadores e ter várias interpretações. Algumas pessoas dão muito valor, outras nem tanto, contudo, parece-me consensual que para se ter sucesso com esta quantidade de posse de bola, é vital ter paciência.
Na primeira parte, a bola andou entre as botas de Matip, Van Dijk, Fabinho, Henderson e ocasionalmente ia para os corredores, até aos pés de Robertson e Milner. Firmino, Mané e Salah não conseguiam ter bola nas suas zonas (entre linhas e entre corredores) e nem as típicas rotações posicionais estavam a ter efeito – o bloco adversário continuava coeso e compacto. Assim, como vemos em baixo, Firmino baixava, na tentativa de ajudar na penetração do bloco londrino, procurando também bolas diagonais para os laterais – em largura – e tentado colocar dúvidas aos jogadores adversários: “Mantemo-nos compactos horizontalmente e deixamos um homem livre nos corredores?”, ou “Abrimos um pouco mais para lidar com essa ameaça e arriscamos “levar” com uma bola entre linhas?”
O Palace optou quase sempre por se manter compacto e conceder esse espaço nos corredores, ficando vulnerável a mudanças diagonais do ângulo do ataque para o homem livre, que era o lateral do lado oposto. Como aconteceu no terceiro golo:
Fonte: NBCSN
Lá está, equipa compacta e coesa, mas sem pressão na bola é muito perigoso.
O sonho do título continua bem vivo em Liverpool.
Foto de capa: Liverpool FC