8 de Junho de 2009. A data em que Kaká, um dos extraterrestres do futebol, foi levado de volta para o seu planeta. Ninguém sabe bem porquê, mas todos conhecem o culpado. Foi o Real Madrid, interessado em formar uma nova equipa de galácticos, que o fez desaparecer. Kaká nunca mais voltou.
A 8 de Junho de 2009, o planeta futebol deixou de ter Kaká e passou a ter Ricardo Leite. A mesma pessoa, mas um jogador diferente. Um igual aos outros. Faltava-lhe a paixão genuína pelo jogo, a diversão por fintar um adversário, a emoção de fazer a bola abanar a rede e ir festejar com os adeptos. O Ricardo, por muita técnica que pudesse ter, não tinha o mais importante. Não era o Kaká que todos conheciam e que, inesperadamente e sem uma explicação racional, perdeu o génio que tinha dentro de si.
O Kaká a que estávamos habituados entrou para a galeria de notáveis do AC Milan. San Siro vestia-se de gala só para o ver jogar, tal como fazia nos tempos de Gullit, Rijkaard e Van Basten. E Kaká retribuía, semana após semana, com golos e poemas de futebol. É impossível esquecer a exibição do outro mundo que fez em Old Trafford nas meias-finais da Liga dos Campeões 06/07. Ou o golo monumental que marcou à Argentina, em que correu 80 metros com Messi no seu encalço. O prémio de melhor jogador do mundo, ganho em 2007, elevou-o ao patamar que merecia. É este Kaká que vou recordar daqui a uns anos, mesmo que a minha memória me queira atraiçoar e fazer com que me lembre apenas do brasileiro vestido de branco (e até assim teve momentos de génio).
De Kaká sempre pudemos esperar tudo e nada; nada porque era de tal forma imprevisível que era impossível adivinhar o que iria sair dos seus pés, e tudo porque, fosse o que fosse, seria pura magia. Juntando a classe futebolística à postura exemplar fora dos relvados, demonstrando uma simplicidade e uma humildade fascinantes, difícil – eu diria mesmo impossível – é não admirar um jogador como Kaká. Um extraterrestre que aterrou em San Siro e que, entre 2003 e 2009 (esqueçamos o que se sucedeu daqui em diante), fez coisas que o comum dos mortais não seria capaz de fazer. E depois partiu, sem avisar. Deixou saudades.