Jogo Interior #23 – O “telefutebol” no momento em que vivemos

    Hoje na rubrica de “Jogo Interior” falamo-vos de “telefutebol” e perguntam-nos vocês o que é que é isto. Dadas as circunstâncias em que nos encontramos e aquilo que, de momento enfrentamos, assim como em tantas outras áreas profissionais, no futebol todos os campeonatos estão cancelados. Desde o futebol de formação ao futebol profissional que todos os treinos estão cancelados, sem data de reinício à vista.

    Uma vez que o futebol, assim como qualquer outra prática desportiva ou qualquer tipo de atividade física, contribui para o bem estar físico, psicológico e emocional de quem nele está envolvido, e os seus praticantes estão privados de o exercer na sua normalidade, na sua essência, na conquista do prazer inerente à sua prática, na socialização que tanto nos é proibida nos dias que correm, E BEM, devem existir alternativas.

    Sendo assim, cabe às instituições, aos treinadores, aos profissionais do exercício criarem as soluções de forma a reduzirem ao máximo aquilo que o tempo leva. No que corresponde ao aspeto físico, enuncio dois dos princípios do treino: o princípio da continuidade e o princípio da reversibilidade. O primeiro reconhece que o treino se estrutura como um processo distribuído ao longo de todo o ano e durante vários anos, o que garante a acumulação dos efeitos desportivos. O princípio da reversibilidade consiste na ideia de “tudo o que se ganha, também é possível perder”, ou seja, os efeitos benéficos provocados pelo exercício de treino são transitórios e reversíveis e, na ausência de estímulo físico, ao longo do tempo, vão sendo perdidos.

    Através destes dois princípios do treino, torna-se possível e claro perceber que nesta fase em que não existem competições nem treinos, muita da condição física, e não só, adquirida ao longo dos meses já ultrapassados se vai perder. Daí ser importante esta análise no nosso artigo de Jogo Interior de hoje. Vamos tentar perceber como é que os clubes estão a fazer face às adversidades. Ao longo destas semanas, foram várias as formas de ultrapassar o problema.

    No que diz respeito ao futebol de formação, assistem-se todos os dias a várias “manifestações” de novas formas de estar, de resolver, ou de, pelo menos, atenuar o problema que passam pela criação de oportunidades de prática individual, de pequenas brincadeiras, de alguns tipos de exercícios que são possíveis de realizar em qualquer sala de estar, jardim ou quarto, que estimulam as crianças e os jovens para algumas das noções criadas em treino. A criação de desafios nas redes sociais, de vídeos conjuntos em que todos estão em prática, de salas online de exercício físico, abre esta janela de oportunidade de “fugir” às impossibilidades do momento que vivemos.

    E no futebol sénior? Parte apenas da autonomia dos jogadores e de algumas sugestões dos treinadores? Acredito que, no nível amador, as soluções não passam além disso e, a necessidade de estar em segurança nas condições existentes, prevalece sobre os objetivos físicos. Mas existe a continuidade possível.

    No futebol profissional de alto rendimento em que as ferramentas disponíveis e a capacidade económica permitem ir mais além, a história conta-se de outra maneira. Exemplo disso é o CR Flamengo de Jorge Jesus que está a utilizar uma plataforma que permite enviar as sessões de treino e avaliar o impacto que estas provocam nos atletas, a Coach ID.

    Os atletas já receberam os equipamentos para continuarem a treinar em casa
    Fonte: CR Flamengo

    Cada jogador será “convocado” através de uma aplicação da plataforma para a sessão de treino criada pelo staff técnico da equipa brasileira e no final desta deverão classificar o treino de acordo com a intensidade percebida. Na manhã seguinte, receberá uma notificação para classificar o bem estar desse dia ao nível de algumas variáveis que o influenciam. A Associação Académica de Coimbra também está a utilizar esta aplicação e acredito que muitos outros clubes tirem proveito dela, assim como de muitas outras aplicações e formas de dar a continuidade possível aos efeitos do treino.

    Sem dúvida que a capacidade financeira dos clubes mais poderosos permite este tipo de controlo do treino, mas não é por isso que não se conseguem obter benefícios equivalentes noutros níveis do futebol, do basquetebol, do rugby, da formação ou do mais amador do futebol sénior. A autonomia, a vontade de continuar, a procura pelo prazer e tranquilidade da prática de exercício físico são determinantes para que neste momento tão difícil das nossas vidas, possamos encontrar e atingir o bem estar físico, mas acima de tudo, o psicológico e emocional. O Jogo Interior dos últimos tempos faz-se no conforto dos nossos lares. Fica em casa, mas atenção, o corpo não está de férias. Cuida-te.

    Artigo revisto por Inês Vieira Brandão

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    Bruno Alexandre Rodrigues
    Bruno Alexandre Rodrigueshttp://www.bolanarede.pt
    Desde cedo praticou futebol e o seu gosto pelo desporto foi crescendo. Licenciado em Educação Física e Desporto no ramo de Treino Desportivo e com Mestrado em Ensino da Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário, é, atualmente, Treinador de futebol de formação e Treinador Adjunto de futebol sénior. Pretende refletir sobre as situações que vivencia, em primeira pessoa e não só, no dia a dia da modalidade.                                                                                                                                                 O Bruno escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.