O Passado Também Chuta: Rui Manuel Trindade Jordão

Sempre foi homem diferenciado no talento que impunha em cada intervenção, senhor de classe como só os grandes a têm;  Um dos únicos que olhou o futebol como arte e o tratou como tal, nunca se expondo demasiado na expressão do seu estilo e da sua personalidade. Aos 37 anos, 1989 contava-se no calendário, decidiu pendurar as chuteiras e pegar nos pincéis, afastando-se totalmente dos relvados e de todo o fenómeno.

A sua relação com o SL Benfica é de eterna consideração de parte a parte, de valorização do homem e da sua conduta enquanto atleta da instituição: sempre se portou à altura dos pergaminhos encarnados e, dentro do campo, destacou-se como um dos melhores avançados de sempre do futebol português e o real sucessor de Eusébio: as duras lesões e terrível aventura em Saragoça impediram ainda mais o engrandecimento do mito. O argentino Arrua não suportou partilhar o protagonismo e tratou de escorraçar o luso-angolano, dando origem ao pedido de ajuda enviado ao fim de uma época (33 jogos, 14 golos) para Lisboa.

É esta sucessão de acontecimentos que dá origem a mais um tiro nos pés da direcção de Ferreira Queimado e Romão Martins, director à época para o futebol profissional: da capital portuguesa foi enviado como resposta um rotundo «Não» e o Sporting, no coração de Jordão desde tenra idade, aproveitou a oportunidade. Tudo isto depois de se ter rejeitado o regresso pronto de Eusébio da Silva Ferreira, que ao ouvir que a direcção do Benfica lhe queria oferecer um contrato… à experiência, não tolera a ofensa e assina com o Beira-Mar.

Jordão assina com o Benfica em 1970, vindo do Sporting Benguela e valendo aos seus cofres a quantia de 30 contos. Passa uma época ás ordens de Ângelo Martins, bi-campeão europeu, na equipa de júniores, onde o seu rendimento fantástico o leva rapidamente à equipa de reservas e, um ano depois, aos AA, em jogo a contar para a Taça de Honra da AF Lisboa contra o rival predilecto – 2-1 e um golo da sua autoria.

Dez dias depois, Jimmy Hagan estreia-o nas competições europeias numa vitória com o Innsbruck (0-4) na Aústria. Foi com naturalidade que, aproveitando a expectativa à sua volta, aproveitou o tempo de jogo cada vez maior para avançar na sua evolução como futebolista e na estatística do golo, até se estrear como guardião da Bola de Prata, em 1975/76, quando faz 30 golos em 28 jogos.

Foi no Euro 84 que se afirmou em contexto internacional, onde fez dupla incrível com Chalana
Fonte: UEFA

Até esta altura, Rui Jordão era um dos adorados do Terceiro Anel, fazendo parte do melhor plantel de sempre, onde era um dos constituintes da melhor linha avançada que a Luz já presenciou – havia no plantel, além dele, Simões, Eusébio, Artur Jorge, Vítor Baptista e Néné – e o papel de sucessor da Pantera Negra era uma realidade, onde só a imaginação nos pode dar uma ideia do que teria sido a sua permanência na Luz durante toda a carreira: vê-lo no outro lado da segunda circular foi uma facada demasiado grande para massa adepta, que nunca perdoou a direcção pelo sucedido.

Em cinco temporadas de vermelho, ganhou quatro campeonatos e uma Taça mas mais que os títulos conquistados, ficou sempre a imagem de um homem íntegro e merecedor de toda a reverência que lhe prestavam os fiéis seguidores benfiquistas.

Guardam-se as memórias de um homem que sempre se destacou por perceber, em primeiro lugar, que o exagero das emoções no jogo eram caminho para outros e que a irracionalidade era coisa apenas para dentro de campo. Nunca se apaixonou verdadeiramente pelo fenómeno e assim fugiu para as telas, que se tornaram demasiado pequenas para o seu gigantesco talento, que lhe permitiu ser também uma lenda na pintura.

Até já, Senhor Rui.

Foto de Capa: SL Benfica

artigo revisto por: Ana Ferreira

Pedro Cantoneiro
Pedro Cantoneirohttp://www.bolanarede.pt
Adepto da discussão futebolística pós-refeição e da cultura de esplanada, de opinião que o futebol é a arte suprema.

Subscreve!

Artigos Populares

Besiktas coloca Kokçu e Jurásek no banco para jogo decisivo da Europa League

O Besiktas já revelou o 11 titular contra o Shakhtar Donetsk para um jogo decisivo da Europa League. Orkun Kokçu e Jurásek no banco.

Mikel Arteta aborda estreia de Viktor Gyokeres após derrota do Arsenal

Viktor Gyokeres estreou-se esta quinta-feira pelo Arsenal. Mike Arteta, treinador dos Gunners, falou sobre a entrada do avançado.

Max Verstappen confirma continuidade na Red Bull: «É hora de parar com os rumores»

Max Verstappen vai continuar na Red Bull para a temporada 2026. Piloto neerlandês afasta rumores da Mercedes e confirma permanência.

Já há onzes oficiais para o Santa Clara x Varazdin da Conference League

Já são conhecidos os onzes iniciais para o Santa Clara x Varazdin, da segunda-mão da segunda pré-eliminatória da Conference League.

PUB

Mais Artigos Populares

Diogo Dalot destaca continuidade de Bruno Fernandes e elogia Ruben Amorim: «Ele é muito bom a extrair o melhor de cada jogador»

Diogo Dalot falou após o triunfo do Manchester United frente ao Bournemouth, numa partida referente à Premier League Summer Series.

Atenção, Benfica: Anis Hadj Moussa renova com o Feyenoord até 2030

O Feyenoord anunciou a renovação do contrato com Anis Hadj Moussa. O avançado argelino estava na mira do Benfica.

Franjo Ivanovic explica decisão de rumar ao Benfica: «É um clube muito grande»

Franjo Ivanovic é o mais recente reforço do Benfica. Avançado croata já deu a primeira entrevista com a camisola encarnada.