No Europeu de Sub-17 houve um jogador que se destacou sem precisar de grandes holofotes. Falo do Rafael Quintas, médio de apenas 17 anos do Benfica. Não é daqueles que salta logo à vista, mas quem vê com atenção percebe rapidamente. Este miúdo percebe o jogo. Foi o melhor jogador da competição.
O futebol de Rafael Quintas é discreto, sim, mas incrivelmente eficaz. Joga simples, mas joga certo. Está sempre bem posicionado, como se tivesse um GPS interno que o avisa onde tem de estar antes da jogada acontecer. Não anda ali a correr feito louco, porque simplesmente não precisa. Sabe onde tem de se colocar, lê o jogo com uma calma rara e dá aquele equilíbrio ao meio-campo que tantas vezes passa despercebido.
Uma das coisas que mais impressiona é a forma como ele gere o ritmo. Sabe perfeitamente quando é para travar, quando é para acelerar, quando é para circular e quando é altura de meter uma bola mais vertical. Pensa o jogo antes de o executar. E isso, para um jogador tão novo, é meio caminho andado para voos maiores.
Joga sempre com a cabeça levantada. Está constantemente a espreitar os colegas, a medir os movimentos dos adversários e a procurar espaços. Não inventa passes só porque sim, escolhe bem, mete no tempo certo e, muitas vezes, quebra linhas com uma facilidade que parece natural.
E o que faz sem bola também não passa ao lado. Sabe quando recuar, quando pressionar, quando subir um pouco mais. Não é preso a uma posição fixa. Vai-se moldando ao jogo, consoante o que a equipa precisa. Isso não se ensina num treino, ou se tem essa leitura ou não se tem. E ele tem.

Fonte: Sofascore
Não é exuberante. Não é daqueles que pega na bola e vai para cima de três adversários. Mas está lá, em todo o lado. Liga o jogo, dá apoio e facilita a vida aos colegas. É daqueles jogadores que fazem a equipa fluir, mesmo sem estar no centro das atenções.
Além disso, tem uma postura dentro de campo que impressiona. Sereno, mas ativo. Quer bola, comunica, reposiciona-se. Nota-se que trata o jogo com respeito, e a bola com carinho. Isso diz muito sobre o jogador.
Pessoalmente, gostei bastante daquilo que vi do Rafael Quintas. Mostrou uma maturidade de jogo que não é normal para a idade que tem. Espero sinceramente que continue assim. Se mantiver esta linha de evolução, não me admirava nada se começasse a dar cartas no futebol sénior mais cedo do que o habitual. O Benfica tem aqui um diamante. Excelente leitura de jogo, calma, critério, utilidade. Não precisou de chamar à atenção para se destacar. Jogou com cabeça. E, no futebol, isso é meio caminho andando.