Portugal é um dos países que conta com um campeonato Sub-23, sendo que os clubes também têm a possibilidade de criar uma equipa B, sem que a mesma conte com a hipótese de alcançar o topo da pirâmide, isto é, a Primeira Liga.
Durante as últimas semanas debateu-se ao longo da Europa qual dos dois sistemas funciona melhor: a integração de escalões B’s e C’s na estrutura do desporto a nível nacional (modelo espanhol) ou a criação de uma liga exclusiva para as formações (modelo inglês). A verdade é que ambos os casos possuem vantagens e desvantagens e em Portugal isto é facilmente visível.
Antes de verificarmos a realidade, analisemos cada um dos modelos, nos países em que os mesmos têm mais força. O modelo espanhol beneficia de forma clara as instituições, deixando de lado a possibilidade de o campeonato se tornar mais forte. No caso de 2025/26, a Real Sociedad B retira uma vaga a um clube que poderia gerar mais competitividade na La Liga 2. Na Primera RFEF, são oito as equipas B presentes e que podem lutar por um lugar de subida às competições profissionais. Mesmo Real Madrid C, está na Segunda RFEF e até poderia sonhar com uma promoção, caso os B’s também fossem promovidos.
Neste caso, os clubes podem beneficiar de dois escalões (ou mais) na estrutura profissional de um país, o que leva ao desenvolvimento do atleta de uma forma mais segura, com a possibilidade de atuarem contra jogadores seniores, calejados de experiência, durante os primeiros anos de carreira, ou até mesmo quando ainda estão em idade não sénior. O atleta, após uma hipotética promoção à equipa A, conta com outro traquejo, sendo o salto para o futebol profissional muito mais fácil de se fazer.
Além disso, é um bom espaço de integração. A equipa B não tem obrigatoriamente de produzir resultados desportivos, ao contrário de outras instituições que podem estar no mesmo escalão, o que faz com que reforços jovens possam adaptar-se ao futebol nacional com menos pressão.
Aqui o grande inconveniente está relacionado com os emblemas que não contam com uma equipa B. Naturalmente, vão perder as suas jovens promessas para outros emblemas com maior facilidade, para além de contarem com um orçamento inferior aos B’s. Ninguém duvida que o orçamento do Real Madrid B, por exemplo, seja dos mais altos da Primera RFEF.
Há igualmente o risco de se ter uma divisão com poucos históricos e muitas equipas secundárias, o que não é do agrado ao adepto comum. É menos interessante para um aficionado assistir a uma partida onde um dos conjuntos não seja o principal.
Já o modelo inglês beneficia a estrutura das competições domésticas, já que cria uma liga à parte. Assim sendo, todos os campeonatos vão contar com instituições 100% independentes e com a meta final de chegar o mais alto possível.
Contudo, o desenvolvimento da hipotética promessa será obviamente distinto. No caso de Inglaterra, a passagem da Premier League 2 (o tal campeonato criado para jovens) para a Premier League é dura e há vários jogadores que não conseguem dar o salto, entrando numa roda de empréstimos (que beneficia certos emblemas), da qual pode ser complicado sair. Foram várias as carreiras que se perderam devido a este último ‘tramite’ de entrada no verdadeiro futebol sénior.
O adepto também não se interessa tanto por este escalão, já que o mesmo não traz a pressão que o futebol profissional consegue provocar.
Portugal oficializou o regresso das equipas B às provas profissionais em 2012/13, abrindo vagas na Segunda Liga, que foram ocupadas na altura por FC Porto, Benfica, Sporting, Vitória SC, Braga e Marítimo. Com esta mudança, foram várias as promessas portuguesas que conseguiram ter a oportunidade de integrar o futebol profissional ainda numa fase embrionária das suas carreiras.
Existem mais clubes com equipas B, que estão incluídas em outros estratos do futebol nacional, sendo alguns os casos de uma ligação entre instituições, que leva a que uma seja o clube mãe e o outro o satélite.
A Liga Revelação acabou por surgir em 2018, com a intenção de ser a tal Premier League 2, composta por vários conjuntos Sub-23. Tal como no exemplo dos B’s, ter Sub-23 não é obrigatório, mas neste caso somente instituições que façam parte da Primeira e Segunda Ligas podem obter licença para disputar a prova.
Portugal (e mais recentemente a Itália, com AC Milan, Juventus ou Atalanta) não escolheu um dos lados desta temática e foi o melhor que lhe aconteceu. Embora parecidos, os B’s e os Sub-23 não são escalões exatamente iguais e há clubes que beneficiam mais de um dos formatos.
No caso de equipas que lutam pelo título e pelo acesso às competições continentais, ter uma equipa B faz muito mais sentido, se a mesma estiver integrada nos três primeiros escalões do futebol nacional. Um jogador consegue um maior desenvolvimento se for inserido num nível de alta competição. Sporting e Benfica têm as suas promessas que estão mais próximas de ascender à formação principal na equipa B, sendo esse o verdadeiro último patamar. Os Sub-23 são muito úteis, mas numa fase anterior, de maneira a jogarem contra atletas mais velhos, mas sem a obrigação de lutar pela vitória em todos os jogos.
Já a Liga Revelação (que também serve de montra) é muito mais interessante para os conjuntos com objetivos mais humildes, que não têm uma equipa B ou se a que possuem está no fundo da pirâmide do futebol nacional. É uma competição que permite o desenvolvimento de jovens promessas sem tanta pressão, mas que conta com um nível competitivo suficiente para chamar à atenção.
O caso do FC Porto ilustra na perfeição a opção por uma equipa B e não por uma de Sub-23. Os dragões têm o seu escalão secundário na Segunda Liga, que é o máximo que pode alcançar. Este patamar é o ideal para o desenvolvimento final das suas pérolas, descartando o investimento numa equipa na Liga Revelação, que não lhe traria tantos resultados.
Porém, se o FC Porto B fizesse parte do Campeonato de Portugal ou das divisões da AF Porto, é certo que os azuis e brancos veriam os Sub-23 como um escalão a ser criado com a máxima urgência, já que a Liga Revelação conta com uma maior exigência que as provas referidas anteriormente.
Portugal consegue assim o melhor dos dois mundos e o jogador luso fica a ganhar com o lote de ofertas ao qual é apresentado, tal como o estrangeiro, que vê a sua integração ao futebol nacional facilitada. Contudo, o que se pode discutir é o teto máximo das equipas B no que diz respeito às competições internas. Atualmente, podem participar até à Segunda Liga, onde o Sporting B curiosamente é líder. Em 2025/26, são três os conjuntos B’s no segundo escalão (Sporting, Benfica e FC Porto), dois na Liga 3 (Braga e Vitória SC) e dois no Campeonato de Portugal (Chaves e Alverca).
Tendo em conta o nível do futebol português, faz sentido que o paradigma se mantenha assim, já que não existem muitos emblemas com a ambição de colocar a sua equipa B na Segunda Liga, não se prevendo uma mudança neste ponto. Uma proibição da presença dos B’s nos campeonatos profissionais poderia facilitar o regresso de históricos como Académica ou Belenenses, mas todos os clubes podem atingir tal meta, depende somente dos próprios projetos, dos objetivos e cumprimento dos mesmos.
A estrutura do futebol português nunca será 100% aprovada e vão surgir várias propostas de mudanças nos próximos anos, como é habitual. Porém, neste ponto o acerto foi total, dando liberdade às instituições de definirem o melhor plano para o desenvolvimento da sua cantera e dos talentos.
Os resultados estão à vista, com Portugal a conseguir colocar cada vez mais jogadores em campeonatos de topo e as seleções de base a alcançarem resultados cada vez mais elevados, além de terem cada vez mais audiência. Tudo isto é fruto da competitividade à qual os atletas estão expostos, quer seja na Liga Revelação, quer seja nos restantes campeonatos da estrutura.