Este é um dos jogos que faz recordar o episódio da batalha entre os Filisteus e o povo de Israel. A história bíblica conta o embate entre um indefeso David e um todo poderoso Golias, em que o humano consegue vencer a figura mitológica apesar do seu tamanho gigantesco que impunha respeito. A verdade é que este embate explica na perfeição o que aconteceu na tarde de domingo de 7 de janeiro 2007.
Após eliminar o FC Serpa e SCU Torreense, quis o sorteio que o Atlético CP fosse visitar o terreno do FC Porto na Quarta Eliminatória da Taça de Portugal 2006/07. À partida, todos previam um triunfo confortável do detentor da “Prova Rainha” na altura, que não teria qualquer dificuldade em ultrapassar a formação de Alcântara. Mas o futebol tem algo de imprevisível…
Os comandados de Jesualdo Ferreira entraram com vontade de arrumar a questão da passagem o quanto antes e o central João Paulo aos três minutos ficou perto de fazer o 1-0 na sequência de um canto de Ricardo Quaresma. Os visitantes não se deixaram intimidar e responderam por Ricardo Aires que obrigou Vítor Baía a uma excelente intervenção.
O início da partida prometeu ser um bom espetáculo, mas o ritmo da mesma decresceu rapidamente e o encontro tornou-se desinteressante de ser acompanhado. Só à meia-hora de jogo é que os dragões fazem o seu primeiro remate à baliza: Paulo Assunção serve Bruno Moraes para um remate do “meio da rua” que é travado com uma boa defesa de Marco Gomes.
Antes do descanso, Bruno Moraes voltaria a estar perto de inaugurar o marcador, depois de ser isolado com um belo passe de Vieirinha, no frente-a-frente com o guardião do Atlético, fintou-o e no momento para atirar à baliza, atrapalhou-se e perdeu ângulo para rematar. O 0-0 não se alterou e os adeptos portistas começavam a ficar algo intranquilos.
O início da segunda parte foi idêntica ao da primeira: num livre batido por Quaresma, João Paulo volta a estar perto de marcar, com o poste a substituir Marco Gomes e a impedir o Atlético de sofrer golo. O Atlético ia fazendo os possíveis para complicar a vida do seu adversário, mas as suas tentativas não causavam qualquer perigo para Vítor Baía. O suspeito do costume João Paulo voltava à carga num canto e testa novamente a atenção de Marco Gomes. Já com a “artilharia pesada” em campo, foi Lisandro a tentar a sua sorte mas sem sucesso.
Eis então o minuto 59 em que a lenda de David contra Golias se transforma em realidade: lançamento para o Porto, Ibson recebe a bola, e face à pressão de dois adversários, acaba por perdê-la em zona proibida. A jogada prossegue, cruzamento para a área portista e com alguma confusão, a “redondinha” vai ter aos pés de David da Costa que quase deitado no chão bate Vítor Baía. Euforia do lado visitante que estava na frente do marcador, contrastando com o choque e perplexidade entre os jogadores do todo poderoso Porto. Iam ser trinta minutos de grande nervosismo… E viria a ser, certamente um dos jogos para recordar mais tarde.
A reação azul e branca não se fez esperar e surgiu dos pés de Lisandro López que atirou bastante ao lado da baliza na cara de Marco Gomes e num livre batido por Quaresma que foi desviado por um defesa do Atlético, mantendo assim a vantagem mínima. Já nos últimos minutos do jogo e com a formação de António Pereira resguardada no seu meio-campo defensivo, o árbitro decide assinalar uma grande penalidade a castigar uma falta sobre Bruno Moraes. Encarregado de fazer o golo do empate, Quaresma confirmou a tarde desinspirada do Porto e atira ao poste da baliza, o que permitiu ao Atlético celebrar uma vitória histórica naqueles típicos jogos em que aparece o ‘tomba gigantes’ da eliminatória.
A caminhada do Atlético CP continuaria até aos Quartos, quando acabou por ser afastado da prova pela Académica OAF com um golo de Cláudio Pitbull já ao cair do pano. Ironia do destino ou não, acabou por ser um David a derrotar um Golias e a confirmar que por vezes existem surpresas no Futebol, não havendo vitórias garantidas em qualquer que sejam os jogos.
ONZES INICIAIS E SUBSTITUIÇÕES
FC Porto: Vitor Baía, Jorge Fucile (Alan, 61’), Ricardo Costa, João Paulo, Marek Cech, Raúl Meireles, Ibson (Adriano, 67’), Paulo Assunção (Lisandro López, 46’), Ricardo Quaresma, Vieirinha e Bruno Moraes
Atlético CP: Marco Gomes, Nuno Rolão, Ricardo Aires, Rui Júnior, Pedro Pereira (Hugo Freire, 85’), Edmar Silva, Marco Bicho (Rui Varela, 83’), Simões, Lapinha (Gonçalo Pereira, 68’), Nuno Gaio e David da Costa
Artigo revisto por Diogo Teixeira