Todos nós temos um jogador que nos vem à memória cada vez que falamos do passado, em conversas com amigos ou debates futebolísticos de café. Sempre que falo sobre os “old days” do futebol, vêm sempre à baila nomes como Ronaldo, Pato ou Quaresma que, por algumas razões, nunca cumpriram na perfeição o potencial que tinham.
No entanto, na minha cabeça existe sempre um só nome, bem acima de todos os outros, que casava na perfeição todos os atributos que um avançado moderno devia ter: potência, técnica, rapidez, frieza, precisão e classe.
Nasceu no Brasil a 17 de fevereiro de 1982, numa das favelas mais perigosas do Rio, Adriano Leite Ribeiro, “Dídico” para muitos que o conheciam desde “moleque”, que espalhava o terror nos campos amadores da terra do Joga Bonito.
Começou a sua carreira profissional no Flamengo, e cedo se percebeu que Adriano era especial, que não era de todo igual aos outros, e que o Brasil rapidamente se iria tornar curto dada a sua tamanha qualidade.
A capital da moda, Milão, estava atenta a Adriano, e Massimo Moratti sabia que tinha de se antecipar a todos os outros colossos europeus na corrida pelo “novo Ronaldo”. O pé esquerdo fantástico, potente, habilidoso, é a ponta de um iceberg carregado de qualidade, irreverência e coragem para vingar no mundo do futebol.
A carreira de Adriano corria de feição, depois de dois empréstimos à Fiorentina e Parma, estava na hora de regressar à casa mãe, o Internazionale. E ele voltou, brilhou, encantou, tudo e todos, que paravam a olhar tremenda qualidade, fora do normal, completamente absurda.
Ainda hoje digo que, se não fossem os infortúnios da vida, Adriano era hoje o jogador brasileiro mais aclamado de todos os tempos, para que se perceba, estamos a falar de um Ronaldo aprimorado, de um animal feito a partir dos registos que o “Fenómeno” deixou, mas melhorado, a um nível altíssimo, como se fosse um jogador aditivado.
A vida pregou uma partida ao Imperador, alcunha que ganhou quando conquistou o trono do futebol mundial e o amor dos adeptos do futebol de antigamente, ao tirar-lhe o seu pai, o seu grande apoio, uma parte de si que, ao partir, retirou a vontade e o foco a Adriano, que nunca mais foi o mesmo.
Muitos tentaram ajudar o Imperador, Zanetti, por exemplo, já admitiu muitas vezes que uma das suas maiores derrotas na carreira foi não ter tirado Adriano da depressão, pergunto-me o que teria sido, do que falaríamos hoje, de certeza que não era de Ronaldinho, Ronaldo ou Neymar, mas sim do astro das favelas, que tinha o que ninguém mais tinha, elevado a um nível estratosférico.
São muitas as saudades que tenho de Adriano e do seu poderio enquanto jogador, aquela camisola 10 do Inter, larga, vestida num corpo alto, forte, um pesadelo para os defesas contrários que não tinham como contrariar a garra do fenómeno. Lembro-me muito bem de tudo, e nunca me vou esquecer de Adriano, mas também sei igualmente que o mundo do futebol não se vai esquecer.
Adriano era tudo, e veio do nada, subiu a pulso e caiu a pique pelas mágoas da vida, mas deixou uma herança linda para todos nós, o seu perfume em campo, a sua magia com as chuteiras nos pés, e a simplicidade de um menino da favela.
Depois de 427 jogos e 202 golos, ficam as memórias do Imperador que não conseguiu ser Rei dos relvados mundiais, mas que conquistou um lugar no coração de todos nós, e foi, de longe, o melhor jogador que vi jogar no Internazionale.
Para sempre Adriano, o eterno Imperador.