5 clubes com o melhor mercado em Portugal

O mercado de transferências da época de verão 2025/26 em Portugal encerrou há duas semanas, sendo tempo para as primeiras análises. Quanto aos balanços, far-se-ão mais tarde.

Vivendo Portugal num contexto desportivo marcado pela crescente importância da sustentabilidade financeira dos clubes e pela valorização dos ativos futebolísticos, a dimensão dos investimentos já não é (só por si) suficiente para o alcance de resultados. A eficiência e a eficácia na gestão das operações desportivas e financeiras, são fundamentais para o curto, médio e longo prazo de uma equipa. O futebol português e a Primeira Liga em concreto, não podem fugir dessa realidade.

A avaliação deste mercado de verão para os clubes portugueses deve assentar, por isto, não apenas nos milhões gastos ou encaixados em transferências, mas sobretudo no equilíbrio entre o investimento realizado, as receitas obtidas e o valor atual dos plantéis. Com base nestes três critérios (gastos, receitas e valorização dos ativos) apresenta-se o top dos cinco clubes que protagonizaram as mais bem-sucedidas operações no mercado português durante este defeso.

5.

Famalicão Jogadores
Fonte: FC Famalicão

Famalicão – Volta a surpreender, mas desta vez no mercado de verão também. Com onze entradas e sete saídas, os famalicenses são o único conjunto deste top com mais entradas.

Para um clube da sua dimensão, o investimento realizado foi bastante elevado. Após uma época interessante (sétimo lugar em 2024/25), as receitas com vendas foram modestas, resultando num plantel com valor de mercado razoável. Apesar do desequilíbrio financeiro, foi um bom mercado em termos de reforço do plantel.

Chegaram com destaque a Famalicão neste verão, Roméo Beney (extremo promissor por 2,5 milhões ao FC Basel), Marcos Peña (médio combativo por dois milhões ao Almería), Gustavo Garcia (lateral ofensivo por dois milhões ao Palmeiras, após uma boa época no CD Nacional) e sobretudo a aquisição definitiva de Léo Realpe (central físico de perfil agressivo por três milhões ao Red Bull Bragantino).

Entre os chamados “outsiders”, o Famalicão foi quem mais se destacou no mercado, ficando acima de clubes como Vitória Sport Clube e Moreirense FC tanto nos gastos como no valor do plantel. Investiu 13,30 milhões de euros, mas obteve apenas 3,75 milhões em vendas, o que resultou num saldo negativo de quase 10 milhões. Ainda assim, o plantel atual está avaliado em 53,92 milhões de euros. Um balanço que resulta numa valorização significativa.

Para um clube de pequena dimensão, foi um mercado positivo no plano desportivo, embora mais arriscado financeiramente. Trata-se, portanto, de um esforço considerável, mas com retorno financeiro mais limitado. Um processo que só terá um desfecho positivo se os resultados no campo corresponderem. Até agora a imagem é muito positiva, fica para ver se a consistência se manterá regularmente.

4. 

Pau Victor no jogo do Braga com o Lincold Red Imps
Fonte: Edmilson Monteiro/Bola na Rede

Braga – Manter o nível e procurar o crescimento, com vista a resultados frutíferos. Esta continua a ser a estratégia dos “Guerreiros do Minho”. Com nove entradas e 13 saídas, o conjunto agora liderado por Carlos Vicens (também novo na Pedreira) terá muitos novos elementos para integrar e fazer resultar em termos coletivos.

O saldo fica positivo e o clube conseguiu reforçar-se sem grandes gastos. O valor do plantel é mais modesto, mas está alinhado com a realidade do clube. Foi um mercado conduzido com inteligência e sustentabilidade, refletindo uma gestão consciente do seu contexto e das suas necessidades. 

Chegaram com destaque a Braga neste verão, Gustaf Lagerbielke (um central de posicionamento sólido por 2,6 milhões ao Celtic, após uma época relevante de empréstimo ao FC Twente), Fran Navarro (adquirido a título definitivo ao FC Porto por 2,7 milhões), mas mais nomeadamente Mario Dorgeles (extremo ágil por onze milhões ao Nordsjaelland) e Pau Victor (avançado promissor por 14 milhões ao Barcelona). Aquisições caras e sonantes, mas compensadas pela venda do extremo Roger Fernandes (por 32 milhões ao Al-Ittihad Jeddah).

O SC Braga volta a demonstrar que sabe competir também no trabalho fora das quatro linhas para chegar aos resultados. Investiu cerca de 28,57 milhões de euros, obteve 41,90 milhões em receitas e fechou o mercado com um saldo positivo superior a 13 milhões. O plantel, atualmente avaliado em 135,80 milhões de euros, foi reforçado com critério, com jogadores promissores e mantendo o equilíbrio entre a ambição europeia e a responsabilidade financeira.

Embora com alguma escassez de nomes de peso, à excepção de João Moutinho, Zalazar, Paulo Oliveira e ainda mais nos extremos, onde apenas Ricardo Horta é um nome sonante. Foi, no geral, um mercado marcado por uma valorização significativa e um saldo positivo, adequado à dimensão e aos objetivos do clube. Algo que acaba por ser um exemplo de gestão sustentável. 

3. 

Richard Ríos Benfica
Fonte: Carlos Silva/Bola na Rede

Benfica – Para as águias foi um mercado recheado de milhões, principalmente de aquisições. Com dez entradas e 22 saídas, existiu alguma limpeza no plantel e o acrescento de alguns nomes de peso e qualidade.

Chegaram com destaque à Luz neste verão, Franjo Ivanovic (avançado potente por 22,8 milhões ao Union St. Gilloise), Dodi Lukebakio (extremo versátil por 20 milhões ao Sevilla FC, já perto do fim do mercado), Amar Dedic (lateral dinâmico por dez milhões ao Red Bull Salzburg), Samuel Dahl (aquisição defintiva do lateral-esquerdo ofensivo à AS Roma por nove milhões) e mais nomeadamente Richard Ríos (médio intenso por 27 milhões ao Palmeiras). Além dos empréstimos pagos de Georgiy Sudakov (por 6,75 milhões ao Shakhtar Donetsk) e Enzo Barrenechea (três milhões ao Aston Villa) e aquisição de Rafael Obrador (por cinco milhões ao Real Madrid). Com valores dignos de registo, saíram da Luz Kerem Aktürkoğlu (22,5 milhões para o Fenerbahçe), Álvaro Carreras (50 milhões para o Real Madrid) e Casper Tengstedt (seis milhões para o Feyenoord).

O Benfica fez o maior investimento entre todos os clubes, mas teve um retorno inferior ao valor nas suas vendas. Apesar de o valor de mercado do plantel se manter elevado, já não está entre os dois mais valiosos do futebol português. A qualidade do plantel foi mantida e talvez mais alta em algumas posições (nomeadamente no meio-campo), mas acaba por não ser o mercado mais eficiente.

Os encarnados investiram, de longe, a maior quantia neste mercado, com cerca de 104,55 milhões de euros em reforços. No entanto, as vendas totalizaram apenas 85,75 milhões, resultando num saldo negativo de cerca de 21 milhões. Mesmo assim, o Benfica continua a contar com um plantel muito valioso, avaliado em 378,60 milhões de euros, tendo reforçado várias posições-chave, embora ainda com algum défice nos extremos (ausência de nomes sonantes além de Lukebakio). Ainda assim, face ao investimento realizado, esperava-se mais retorno financeiro em algumas transferências e também um retorno desportivo mais equilibrado.

Será o centro das atenções várias veses ao longo desta época, no sentido de se verificar se tal investimento corresponderá a resultados e exibições. Foi, portanto, um mercado ambicioso, mas talvez pudesse ser mais eficiente, ou seja, um grande investimento, porém menos rentável do que o dos rivais diretos.

2. 

Victor Froholdt FC Porto
Fonte: Paulo Ladeira / Bola na Rede

FC Porto – Para o emblema azul e branco foi um grande mercado, conforme prometido pelo Presidente do clube, André Villas-Boas. Com onze entradas e catorze saídas, o FC Porto reforçou-se praticamente em todos os setores do campo e subiu assim o valor de mercado do plantel.

O FC Porto fez um investimento relativamente equilibrado, com gastos praticamente compensados pelas vendas, resultando num saldo quase nulo (1,6 milhões). No entanto, conseguiu reforçar muito bem a equipa, que agora está avaliada em quase 400 milhões de euros, demonstrando que o investimento teve retorno em qualidade. Foi um mercado sólido e com capacidade voltar a competir em todas as frentes. 

Chegaram com destaque ao Dragão neste verão, Alberto Costa (lateral direito ambicioso por 15 milhões à Juventus), Borja Sainz (extremo técnico por 13,3 milhões ao Norwich City), Nehuén Pérez (aquisição definitivo do defesa central à Udinese por 13,3 milhões), Jan Bednarek (central experiente e líder por 7,5 milhões ao Southampton) e mais nomeadamente Victor Froholdt (jovem médio completo por 20 milhões ao FC Kobenhavn). Além das entradas a custo zero de Luuk de Jong (avançado ao PSV) e João Costa (guarda-redes ao Estrela da Amadora) e outros nomes como Dominik Prpić (defesa central por 4,5 milhões ao Hadjuk Split), Pablo Rosario (médio ao Nice por 3,75 milhões) e Jakub Kiwior (empréstimo vindo do Arsenal FC por dois milhões). Entre as principais vendas estão Francisco Conceição (32 milhões à Juventus), Otávio Ataíde (17 milhões ao Paris FC), João Mário (12,6 milhões à Juventus) e Gonçalo Borges (dez milhões ao Feyenoord).

Os dragões investiram 80,47 milhões de euros, quase totalmente compensados pelos 78,87 milhões recebidos. O mais importante é que o valor de mercado do plantel subiu para 393,60 milhões de euros, o segundo mais alto entre os clubes portugueses, evidenciando a qualidade real dos reforços. Além de ter mantido jogadores importantes como Diogo Costa e Rodrigo Mora. Em resumo, o FC Porto fez um mercado que trouxe reforço de qualidade ao plantel, com um saldo financeiro praticamente equilibrado. Notou-se claramente o (prometido) “efeito AVB” neste mercado de verão.

1.  

Giorgi Kochorashvili Sporting
Fonte: Carlos Silva/Bola na Rede

Sporting – Embora com menos notoriedade nos reforços do que os rivais, os leões no geral acabam por sai por cima em mais que uma frente. Com sete entradas e onze saídas, o Sporting manteve o equilíbrio do plantel e reforçou posições chave, terminando com um elenco cheio de boas opções.

O Sporting realizou um mercado muito eficiente. Apesar de ter vendido alguns dos jogadores importantes (nomeadamente o avançado sueco), conseguiu manter o valor de mercado do plantel muito elevado. O clube lucrou quase 38 milhões de euros e terminou com o plantel mais valioso de todos — uma excelente gestão desportiva e financeira. Um mercado que só não fica perfeito devido ao infeliz episódio da não transferência de Jota Silva (vindo do Nottingham Forest), por atraso administrativo. 

Em destaque, chegaram a Alvalade neste verão Fotis Ioannidis (avançado versátil por 22 milhões ao Panathinaikos), Giorgi Kochorashvili (médio “box-to-box” por 5,5 milhões ao Levante), Rui Silva (aquisição definitiva do guarda-redes por 4,5 milhões por 4,5 milhões), Georgios Vagiannidis (lateral direito rápido por 12 milhões ao Panathinaikos) e sobretudo Luis Suárez (avançado móvel e goleador por 22,16 milhões ao Almería). Um investimento ainda assim bastante forte que foi altamente compensado pelas vendas de Viktor Gyökeres (65,76 milhões ao Arsenal FC),  Conrad Harder (24 milhões ao RB Leipzig) e Marcus Edwards (dez milhões ao Burnley).

Foi o clube português que melhor equilibrou a gestão financeira com a valorização desportiva. Com receitas de 108,30 milhões de euros e gastos de apenas 70,39 milhões, o Sporting fechou o mercado com um saldo positivo de quase 38 milhões, o que acaba por ser um feito notável, especialmente por manter o plantel mais valioso do futebol português, avaliado em 455,50 milhões de euros.

Embora tenha perdido uma das peças mais relevantes, manteve outras (Morten Hjulmand, Francisco Trincão ou Gonçalo Inácio) reforçou-se com critério e aumentou a profundidade do elenco. Um mercado exemplar. Os leões conseguiram o melhor de dois mundos: equilíbrio financeiro e manutenção do plantel mais valioso.

Jorge Afonso
Jorge Afonso
O Jorge apaixonou-se pelo futebol num dérbi em Alvalade e nunca mais largou. Licenciado em Comunicação Social e mestre em Ciência Política, vive entre estatísticas, memórias épicas e o encanto de equipas como o Barça de Guardiola ou a França de Zidane.

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