Cândido de Oliveira – 62 anos da sua morte

Cândido Fernandes Plácido de Oliveira é provavelmente a figura mais importante do século XX, no que ao futebol se refere. Nasceu em Fronteira, Portalegre, a 24 de setembro de 1896, e, após ficar órfão, entrou para a Casa Pia de Lisboa em 1905. Desde cedo que demonstrou capacidade para a prática desportiva e em 1914/15 começou a representar o SL Benfica até 1920, o ano em que fundou, juntamente com mais alguns colegas da instituição, o Casa Pia Atlético Clube.

De exemplo na seleção a agente PAX, contra a ditadura

Foi o capitão no primeiro jogo de sempre da seleção nacional a 18 de janeiro de 1921, em Madrid, numa derrota por 3×1 com a Espanha, arrumou cedo as chuteiras e abraçou a carreira de treinador em 1926, como selecionador nacional.

Também enveredando pelo jornalismo, inicialmente na “Stadium”, e passando por muitos outros jornais, Cândido de Oliveira trabalhou como inspetor geral nos CTT e tinha acesso privilegiado a informações ligadas à espionagem, em que Portugal era o centro, e, durante a II Guerra Mundial,  tornou-se agente de uma rede clandestina inglesa com o intuito de informar os aliados sobre os movimentos alemães em Portugal, e organizar grupos de resistência ativa e passiva em caso de invasão de Portugal pela Alemanha nazi.

O horror Tarrafal e o jornal “A Bola”

Detido em 1942 pela PVDE, foi deportado para o Tarrafal e viveu os horrores já muitas vezes conhecidos pela história, no entanto, e tendo em conta a sua dimensão sobre o público, viveu o Campo do lado de fora, não sendo obrigado a trabalhos forçados, o que lhe permitiu continuar com a rede por si montada.

Em janeiro de 1945 funda, com Ribeiro dos Reis e Vicente de Melo, o jornal “A Bola” após regressar do “campo de concentração” de Cabo Verde. Volta como treinador da seleção nacional e logo depois orienta o Sporting CP durante 3 épocas, nas quais consegue dois títulos nacionais ao serviço dos leões e orientou os célebres “Cinco Violinos”. Sai do clube de alvalade, porque não concorda com a não renovação do conhecido e goleador Fernando Peyroteo.

O primeiro lá fora e a paixão que o levou ao fim

Torna-se o primeiro treinador português a treinar no estrangeiro pelo CR Flamengo em 1950, no entanto, apenas fica no Brasil 6 meses e volta para Portugal para treinar a seleção, o FC Porto e a Académica OAF que fica conhecida a dada altura por praticar um futebol de alto nível, onde quem corria era a bola e não os jogadores, algo que se pode equiparar hoje ao tiki-taka de Guardiola no FC Barcelona.

Seguiu para a Suécia em 1958 para acompanhar, como jornalista do jornal “A Bola”, o campeonato do mundo de futebol, onde Pelé começou a brilhar aos olhos do mundo. A paixão ao futebol e ao jornalismo levam-no a ignorar as indicações de um médico, que o limitavam a ficar em casa durante uma semana, em pleno mundial, após queixas de uma gripe que contraiu por não poder levar toda a sua bagagem e, consequentemente, toda a sua roupa, na viagem de avião que apanhou após ir de carro de Portugal até França. A gripe evoluiu para uma pneumonia e a 23 de junho de 1958 morreu no hospital, em Estocolmo, com 61 anos.

A homenagem possível

O país inteiro comoveu-se, a Académica OAF em particular, o funeral passa pela sede do CA Casa Pia e termina no cemitério do Alto de São João, sempre acompanhado por uma multidão que lamentava a perda do verdadeiro mestre do desporto e do jornalismo.

A partir de 1981, a Federação Portuguesa de Futebol passa a atribuir à supertaça de futebol, prova que junta o vencedor do Campeonato Nacional com o vencedor da Taça de Portugal da época anterior, o seu nome – Supertaça Cândido de Oliveira.

Treinado por Cosme Damião, fundador do SL Benfica, primeiro capitão de sempre da Seleção Nacional, selecionador nacional e pioneiro em Portugal no desenvolvimento teórico sobre metodologias de treino e táticas na modalidade, jornalista e fundador do Clube Atlético Casa Pia e do jornal “A Bola”, lutador “silencioso” antifascista que esteve como preso político no horror do Tarrafal, Cândido de Oliveira foi, sem dúvida alguma, o autêntico homem do renascimento e desenvolvimento do futebol em Portugal, foi e é o Mestre do Futebol.

Artigo revisto por Joana Mendes

 

Bruno Alexandre Rodrigues
Bruno Alexandre Rodrigueshttp://www.bolanarede.pt
Desde cedo praticou futebol e o seu gosto pelo desporto foi crescendo. Licenciado em Educação Física e Desporto no ramo de Treino Desportivo e com Mestrado em Ensino da Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário, é, atualmente, Treinador de futebol de formação e Treinador Adjunto de futebol sénior. Pretende refletir sobre as situações que vivencia, em primeira pessoa e não só, no dia a dia da modalidade.                                                                                                                                                 O Bruno escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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