Despedir Roger Schmidt é a solução? | Benfica

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    “If you love football, you love Benfica”. Foi essa a célebre afirmação que Roger Schmidt enunciou na sua chegada a Lisboa, no verão de 2022, antes de ser apresentado como treinador dos encarnados.

    Uma frase que empolgou adeptos e estrutura pelo impacto positivo que teve de forma imediata, formando, desde o primeiro dia, uma forte ligação entre o treinador e o ambiente à sua volta. Positividade essa que se veio a confirmar ao longo da primeira época do técnico alemão na Luz, onde, à boleia de um futebol entusiasmante e de um ambiente saudável, o Benfica atingiu um patamar superior, quer a nível interno, quer a nível internacional.

    SL Benfica jogadores campeão
    Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

    O título de campeão nacional 2022/2023 fez esquecer todos os problemas que foram surgindo ao longo da época e, de forma natural, abriu um caminho de expectativas para o futuro encarnado. Agora, quase um ano depois, o futuro risonho que o mundo encarnado perspectivava, tornou-se num clima de instabilidade e frustração, colocando em causa, dia após dia, a permanência de Roger Schmidt na Luz.

    Posto isso, analisemos então qual é a melhor solução para o futuro do Benfica, se a permanência, ou, o despedimento de Roger Schmidt do comando técnico do clube.

    O alcançar dos objetivos

    No que diz respeito aos objetivos desportivos, e tendo em conta que a Supertaça é um troféu referente à temporada anterior, podemos perceber que o Benfica falhou a conquista de todos os troféus que disputou em 2024. O campeonato, onde os encarnados seguem a sete pontos do líder Sporting a quatro jornadas do fim, é já algo quase impossível de equacionar. A Liga dos Campeões, onde o Benfica havia chegado aos quartos de final em duas épocas consecutivas, foi um desastre marcado por exibições desonrosas que colmataram num terceiro lugar ainda assim afortunado, remetendo o clube para a Liga Europa. 

    Roger Schmidt
    Fonte: Luís Batista Ferreira / Bola na Rede

    Já na segunda prova europeia da UEFA, os encarnados beneficiaram de um caminho relativamente acessível, tendo pela sua frente, no trajeto até à final, Toulouse, Rangers, Marselha, e em caso de passagem deste último, a Atalanta. Um percurso que, apesar de bastante exequível, foi feito de uma forma pobre, arrasando assim as esperanças europeias em Marselha onde o inadiável deixou mesmo de ser adiado. Algo que o treinador do Benfica não sentiu necessidade de justificar, aclamando um compromisso total dos jogadores e da equipa técnica em todos os momentos.

    Nas restantes competições internas, o Benfica foi eliminado nas duas ocasiões nas meias-finais. Primeiramente, falhou o acesso à final da Taça da Liga ao perder com o Estoril nas grandes penalidades e, alguns meses depois, caiu aos pés dos rivais verdes e brancos na mesma fase, mas da Taça de Portugal.

    Ou seja, depois da crise de troféus aliviada por Roger Schmidt na temporada passada, o técnico remeteu novamente o clube para uma época sem qualquer conquista, um dado que não corresponde com a história, com os valores, ou com a vontade do clube.

    A construção e a gestão do plantel

    Revistos os objetivos não alcançados pelo técnico esta época, há que tentar perceber as razões pelas quais os mesmos não foram concretizados. Alguns dos factos mais gritantes nesse aspecto, são a má gestão e o mau planeamento do plantel por Roger Schmidt.

    Se na época passada a equipa do Benfica funcionava como um conjunto perfeitamente equilibrado, complementar e funcional, esta temporada o mesmo não se pôde registar. A equipa campeã havia sido montada perante uma ideia, um estilo de jogo imposto pelo treinador. Estilo esse que surtiu efeito e resultou numa superioridade tamanha dos encarnados em grande parte da temporada, elevando não só o nível da equipa, como também destacando individualmente os atletas.

    Álex Grimaldo
    Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

    O gegenpressing foi uma lufada de ar fresco para os ares da Luz em 2022, contudo, quando se pensava que o vento sopraria na mesma direção nesta temporada, a equipa montada por Roger Schmidt nunca correspondeu a qualquer tipo de ideologia. E, como é óbvio, uma equipa que não se rege por qualquer tipo de ideal ou critério ficará sempre mais distante de alcançar o sucesso.

    Se olharmos para todos os setores do terreno, podemos perceber que em nenhum deles existiu uma substituição direta de atletas que correspondessem às características exigidas por Schmidt durante a temporada anterior. Na defesa do Benfica, os laterais que outrora exerciam um papel fundamental no modelo utilizado, foram negligenciados esta temporada e usados como meras soluções para as posições, sem serem vistos como peças essenciais para a equipa. Desde Aursnes a Morato, passando por Jurasek e Carreras, pode perceber-se que o planeamento para as laterais encarnadas não foi feito da melhor maneira.

    Já no meio-campo, a utilização errada de Kokçu numa posição desfavorável ao próprio e à equipa, durante maior parte da temporada, negligenciou o uso de Florentino que, tal como na temporada passada, exerce um papel fulcral para o bom funcionamento do conjunto.

    No ataque, da mesma forma que nos outros setores, as lacunas sentidas prejudicaram em muito o rendimento do conjunto. Entre Arthur Cabral, Tengstedt, Marcos Leonardo, e Musa até, os golos marcados por todos em conjunto não chegam para alcançar a marca de Gonçalo Ramos na temporada passada. Um dado preocupante visto que o investimento financeiro do Benfica para a posição foi o mais forte dos últimos anos. Nenhum dos jogadores se insere propriamente na ideologia do treinador e o próprio não soube gerir isso da melhor forma, não adaptando verdadeiramente as características de cada um aos colegas e ao próprio jogo.

    Casper Tengstedt no jogo entre o Benfica e o Vizela
    Fonte: Carlos Silva/Bola na Rede

    Para além disso, a época fica também marcada pela incompetência de Roger Schmidt na gestão dos jogadores ao longo dos jogos do Benfica. Numa primeira instância a equipa inicial era rigorosamente idêntica partida atrás de partida, sem que existisse espaço para mudanças ou descanso. Pouco depois, a regularidade foi substituída por alterações experimentais em jogos decisivos que, de forma natural, não correram de feição. Por fim, numa fase mais avançada da temporada, Roger Schmidt viu-se obrigado a variar as equipas, face à exigência do calendário, definindo uma primeira e uma segunda linha no plantel, numa altura em que o ansioso desespero reinava o clima na Luz.

    Ainda assim, mesmo tendo isso em conta, a reação e adaptação às adversidades pontuais por parte de Roger Schmidt surgiu sempre de forma anémica em momentos que a equipa e o jogo requeriam ações cruciais. A eliminação em Marselha, por exemplo, reflete bem esse ponto.

    A relação com a massa adepta

    Quando os resultados dentro das quatro linhas não correspondem às expectativas dos adeptos do Benfica é essencial recuperar a confiança dos mesmos através de outras vertentes, nomeadamente a vertente comunicacional. Nesse aspecto, Roger Schmidt acaba por perder ainda mais o apoio dos sócios e simpatizantes.

    As declarações que se deveriam apresentar como necessárias e fundamentais em momentos de aperto são, para Roger Schmidt, declarações que mancham mais a sua imagem e que pioram o ambiente à sua volta. Quando um treinador não sente a necessidade de se justificar após sucessivas eliminações, e responde de forma afrontosa a protestos de caráter insatisfatório com a situação do clube, dificulta em muito a boa relação com a estrutura que o deve apoiar.

    Adeptos do Benfica
    Fonte: Carlos Silva/Bola na Rede

    Uma relação que começou tão forte, foi-se aos poucos desmoronando e enfrenta agora um dos seus períodos mais difíceis, de maior incógnita, incerteza e instabilidade.

    A possível redenção futura

    Apesar da temporada atual do Benfica não ter correspondido da maneira esperada, aquilo que pode manter o técnico alemão ao leme dos encarnados é a aposta na próxima temporada. Visto que o plantel pode vir a sofrer uma remodelação, e que até já conta com reforços (disponíveis desde janeiro), Roger Schmidt tem uma hipótese de voltar a colocar a equipa no seu melhor nível na próxima época.

    A primeira temporada foi tão impactante e repentina que passou a ideia que não foi necessário um período de adaptação ao futebol português, ainda assim, com esta segunda temporada mais complicada, Roger Schmidt teve a oportunidade para perceber melhor as condições impostas pelo futebol nacional, a constante exigência de um clube como o Benfica e o que isso representa, e a relação que precisa de manter com a massa adepta.

    Rui Costa Roger Schmidt
    Fonte: Carlos Silva/Bola na Rede

    A história ensina-nos que nem sempre a mudança de treinador é uma mais-valia para o clube, mesmo quando não se alcançam todos os objetivos. A continuidade e confiança num projeto a longo prazo é, normalmente, o caminho mais acertado a seguir. Para que isso seja possível, é necessária uma sintonia entre direção, treinador e massa adepta. Um entendimento que, geralmente, se encontra dentro das quatro linhas.

    Se o Benfica pretende renascer o projeto começado na temporada passada, não há ninguém melhor para o fazer se não Roger Schmidt. Caso contrário, um divórcio milionário entre as duas partes poderá demonstrar a vontade  interna de uma mudança de paradigma no clube da Luz.

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    Guilherme Terras Marques
    Guilherme Terras Marques
    Orgulhoso estudante da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, vê no futebol e na sua cultura uma paixão. É apenas mais um jovem ambicioso que sonha fazer do jornalismo desportivo a sua vida. Escreve com o novo acordo ortográfico