Paris 2024, Basquetebol #6: «Show» da Equipa de Sonho e a obra perfeita de Chef Curry

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    A equipa masculina de basquetebol dos Estados Unidos é a crónica favorita ao ouro olímpico. Não há nenhuma equipa que consiga juntar uma equipa com tanto talento e com tantos recursos e isso faz com que a equipa norte-americana tenha sempre a obrigação de vir banhada de ouro de qualquer edição dos Jogos Olímpicos.

    Algo que não seja isso, é considerado um fracasso pela imprensa norte-americana e um escândalo mundial. Cada vez mais as equipas europeias (também destaco a ascensão recente do Canadá e da Austrália com vários jogadores que jogam na NBA), estão a diminuir o fosso que havia entre a sua equipa e os Estados Unidos e agora já não é um passeio no parque para os americanos.

    No Mundial 2023, os Estados Unidos resolveram menosprezar os adversários e com uma postura arrogante, decidiram jogar com um plantel de jovens promessas e talentos emergentes convencidos de que acabariam por ganhar e ficaram num modesto quarto lugar.

    Os jogadores mais dominadores da NBA nos últimos anos são de origem europeia. 

    Consciente de que a competitividade estava a aumentar, LeBron James (um dos melhores jogadores de todos os tempos e um dos líderes do basquetebol norte-americano) decidiu contactar pessoalmente muitos dos jogadores para poder formar a melhor equipa possível e não haver espaço a surpresas na sua última participação olímpica.

    Além disso, a Team USA decidiu nomear para a equipa técnica três dos melhores treinadores da NBA dos últimos anos: como treinador principal Steve Kerr (quatro vezes campeão com os Golden State Warriors), tendo Ty Lue (treinador dos Los Angeles Clippers e já campeão da NBA) e Erik Spoelstra (treinador dos Miami Heat e igualmente campeão da NBA) como seus assistentes.

    Com um plantel recheado de All-Stars como LeBron James, Steph Curry, Kevin Durant, Anthony Davis e com jovens já consagrados como Devin Booker e Jayson Tatum mais a adição de Joel Embiid (que optou por jogar pelos Estados Unidos em detrimento da França), formavam uma equipa de sonho e um dos melhores plantéis que os Estados Unidos já levaram a um torneio olímpico.

    A fase de grupos foi jogada em Lille. Integrados no grupo C juntamente com Sérvia, Sudão do Sul e Porto Rico, o primeiro jogo do grupo era aquele que aparentemente seria o mais complicado. A Sérvia é uma equipa muito física e tem nas suas filas um tal de Nikola Jokić, já três vezes MVP da NBA e considerado por muitos o melhor jogador do mundo.

    O que se viu em court foi uma clara mensagem de força da equipa dos Estados Unidos, suportados num enorme Kevin Durant (cuja condição física foi a maior preocupação e o tema principal quando se falava na equipa norte-americana) que fez uma monstruosa primeira parte com 21 pontos e 100% de percentagem de lançamento (com cinco triplos pelo meio) em apenas nove (!) minutos de jogo. KD estava de volta e os EUA agradeciam.

    Jokić e os seus companheiros não tiveram resposta para a equipa norte-americana e perderam o jogo de forma inequívoca por uns claros 110-84.

    O segundo jogo do grupo foi contra a surpreendente e entusiasmante equipa do Sudão do Sul, uma equipa a quem os Estados Unidos tinham ganho por apenas um ponto num jogo prévio de preparação apenas uns dias antes deste torneio olímpico.

    Apesar da vitória categórica contra a Sérvia, a imprensa norte-americana ficou perplexa com o fato da estrela dos Bolton Celtics Jayson Tatum não ter jogado sequer um minuto nesse jogo e questionaram diretamente Steve Kerr, que admitiu de forma irónica que ele se sentia um idiota por não conceder minutos a um dos melhores jogadores do mundo.

    No jogo seguinte e cedendo à pressão feroz da imprensa, Tatum fez parte do cinco inicial.

    Foi mais um jogo controlado do princípio ao fim pelos Estados Unidos, que ao intervalo já ganhavam por 19 (!) pontos de diferença. Na segunda parte, apenas geriram o resultado a seu bel-prazer, dando tempo de jogo a todos os jogadores, menos a Joel Embiid e conseguindo dar descanso aos seus jogadores-chave, como LeBron James e Steph Curry, que apenas anotou 3 pontos. O resultado final foram uns esclarecedores 103-86.

    Tatum não foi minimamente decisivo, tendo anotado apenas 4 pontos em 17 minutos de jogo, dando razão à decisão inicial de Steve Kerr o colocar no banco de suplentes e não o considerar essencial para a equipa.

    No último jogo da fase de grupos e já apurados para os quartos-de-final como primeiro lugar do grupo, o jogo contra Porto Rico era uma espécie de jogo de preparação para as fases finais do torneio onde tudo se decidia e a qualidade dos adversários seria superior à defrontada até aquele momento.

    Tatum foi novamente titular e mereceu a confiança de Steve Kerr, acabando com um duplo-duplo de 10 pontos e 10 ressaltos, mas ainda muito longe do protagonismo que tem nos Celtics.

    A equipa entrou demasiado confiante e perdeu o primeiro período por quatro pontos (25-29). Insatisfeito com o que estava a ver em court, Steve Kerr resolveu rodar a equipa e simplesmente arrasou a equipa porto-riquenha no segundo período, contando com o contributo essencial de Anthony Edwards, que terminou o jogo com 26 pontos. 

    Ao intervalo, os Estados Unidos já ganhavam por 19 (!) pontos de diferença depois de um início dubitativo, o que é bem revelador do poderio desta equipa norte-americana.

    O jogo finalizou com uns expressivos 104-83.

    Nos quartos-de-final e já a serem jogados em Paris, os Estados Unidos defrontaram o Brasil, uma das equipas que se tinha apurado à última da hora como um dos terceiros melhores classificados depois de uma excelente exibição contra o Japão, com uma extraordinária exibição da sua estrela Bruno Caboclo, com 33 pontos e 18 ressaltos.

    Mas a equipa brasileira sabia que os Estados Unidos era um Evereste quase impossível de subir e foi isso que se verificou desde muito cedo no jogo.

    Contrariamente ao jogo com Porto Rico, os Estados Unidos começaram o jogo concentradíssimos, defensivamente implicados e conseguiram bloquear as maiores armas da equipa brasileira, chegando ao intervalo a ganhar por uma diferença impressionante de 27(!) pontos.

    Com seis jogadores com mais de dez pontos (o jogo terminou com uns expressivos 122-87), foi um jogo bastante fluído, tranquilo e uma clara demonstração de força para o seu próximo rival nas meias-finais: a Sérvia. 

    Tendo ganho confortavelmente no jogo da fase de grupos contra a equipa de Jokić, os Estados Unidos entraram bastante adormecidos e acusaram muito a dimensão física do jogo da Sérvia e o jogo exterior dos sérvios, muito eficazes na linha de três pontos, tendo havido uma altura em que tinham mais de 60% de percentagem de triplos convertidos.

    Os sérvios fizeram os ajustamentos necessários e têm jogadores com uma grande inteligência basquetebolística e muito talento, como o gigante Jokić mas também muito bem secundado por Bogdanovic e Micic.

    O primeiro período foi demonstrativo de que este seria o primeiro adversário a causar sérios apuros à equipa norte-americana, que tem um grande plantel mas que coletivamente é vulnerável e sofre quando o jogo começa a ser decidido na luta das tabelas.

    A equipa sérvia fez uma exibição quase perfeita, anulando o jogo exterior dos Estados Unidos, forçando os seus jogadores a vários turnovers e apenas alguns triplos de Steph Curry faziam com que a diferença no resultado não fosse maior do que aquela que se verificava ao intervalo (43-54).

    No terceiro período, a Sérvia continuou a exibir-se a alto nível e os Estados Unidos não conseguiam encontrar soluções para reduzir a distância pontual. Íamos para o quarto e decisivo período com 13 pontos de diferença (63-76) e era bem possível que se desse a maior surpresa deste torneio olímpico. 

    Os Estados Unidos estavam bem próximos de serem derrotados e de não poderem lutar pela quinta medalha de ouro consecutiva. Tinham apenas 10 minutos para evitar o “fracasso”.

    Beneficiando das quatro faltas de Jokić (a uma falta da sua exclusão e que limitou consideravelmente o seu jogo, que é bastante físico e por isso muito propenso ao contacto) e do desacerto dos sérvios, os Estados Unidos começaram a conseguir recuperar a desvantagem no resultado, assentes num grande comportamento defensivo de LeBron, de Embiid e de Booker a trabalharem arduamente para contrariar os lançamentos da equipa sérvia e pressionarem Jokić, o motor desta equipa em todos os departamentos.

    Também é de destacar os pontos absolutamente cruciais de Kevin Durant mas principalmente a primeira grande exibição de Steph Curry, que acabou com 36 pontos e 8 triplos convertidos.

    A três minutos do fim, o jogo estava empatado e o momentum era totalmente da Dream Team. Os sérvios tinham feito uma exibição quase perfeita, dominaram o jogo por mais de três períodos, mereciam ter ganho, mas tinham agora os Estados Unidos claramente por cima e acabaram por sucumbir e a acusar o desgaste pois vinham de ganhar à Austrália num jogo resolvido no prolongamento apenas.

    Começaram a ter menos critério no lançamento, Jokić não conseguiu ser tão eficaz como no resto do encontro, os triplos de Bogdanovic e Micic começaram a não cair e os Estados Unidos colocaram-se pela primeira vez na frente do marcador (87-86) com um grande triplo do inevitável Curry.

    Os sérvios tentaram reagir mas nunca mais conseguiram recuperar no marcador e um jogo épico (provavelmente um dos melhores que já vi) terminou com uns apertados 95-91 a favor dos americanos.

    Apesar do grande susto, Curry salvou a equipa norte-americana e os Estados Unidos estavam apurados para a final olímpica.

    A final olímpica foi uma reedição da final de Tóquio mas do lado francês, havia um novo fator: Victor Wembanyama, o rookie do ano na NBA. Um miúdo de apenas 20 anos com 2.24m mas com uma agilidade inigualável. 

    Movimenta-se bastante bem para alguém da sua altura, passa bem, é muito inteligente e ainda tem uma grande capacidade marcadora, para além de ser um monstro das tabelas, tomando partido da sua elevada estatura.

    Com um apoio esmagador nas bancadas da Defense Arena, a França não se deixou intimidar por estar a jogar contra os Estados Unidos e suportado num grande Wembanyama e em Yabusele (um dos grandes jogadores deste torneio olímpico), a França conseguiu terminar o primeiro período a apenas cinco pontos de distância e limitando os Estados Unidos a marcar 20 pontos.

    No segundo período, os triplos de Curry começaram a entrar e LeBron James entrou em cena. Apesar disso, a França conseguiu ir para o intervalo a perder por apenas oito pontos de diferença (49-41). Estava tudo ainda por decidir e havia esperança do lado francês.

    O seu objetivo era conseguir que o jogo estivesse com menos de dez pontos de diferença e estavam a conseguir o que pretendiam. Uns Estados Unidos que voltaram a ser erráticos, a tomar más decisões e a França a aproximar-se cada vez mais no marcador.

    As bancadas estavam ao rubro e previa-se um final eletrizante, à semelhança do jogo com a Sérvia.

    O terceiro período terminou com a magra vantagem de seis pontos (72–66) para os americanos e eles sabiam que iriam ter que demonstrar a sua melhor versão para aguentar a reação da equipa francesa, que conseguiu reduzir para três pontos de diferença (82-79).

    O ouro olímpico estava a uma posse de bola de distância e os franceses acreditavam cada vez mais que podiam entrar na história sendo uma das equipas que conseguiriam derrotar a super equipa dos Estados Unidos num torneio olímpico.

    Wembanyama mostrava todo o seu caráter e talento e levava a sua equipa a sonhar. Até que apareceu Chef Curry, um dos jogadores mais decisivos da história do basquetebol. Inequivocamente o melhor atirador de todos os tempos e um daqueles jogadores que é letal nos minutos finais de um jogo.

    Curry praticamente sozinho despedaçou os corações dos gauleses, marcando triplo atrás de triplo, marcando 12 pontos num espaço de menos de dois (!) minutos. Memorável exibição do base dos Warriors, que assegurava o que lhe faltava numa carreira lendária: o ouro olímpico.

    O último triplo marcado por Curry só ele o consegue fazer. Marcado por dois jogadores franceses, conseguiu arranjar espaço para executar um lançamento perfeito e ainda teve o desplante de mandar os franceses dormir (Night-Night disse Curry).

    Um jogador inigualável. Um dos melhores de todos os tempos e um jogador que mudou o jogo de basquetebol, mantinha a Dream Team no topo do basquetebol mundial.

    Uns impressionantes 60 pontos entre meias-finais e final (com uns descomunais 17 triplos) foram cruciais para que os Estados Unidos conseguissem sair de Paris banhados a ouro.

    Claro que o contributo de King James foi essencial. Booker, Edwards, Davis, Holiday também. Durant (também entra na história com a sua quarta medalha de ouro) foi decisivo nas alturas mais importantes mas sem Chef Curry, não seriam campeões olímpicos, daí a minha estranheza em ver o LeBron ser considerado o MVP do torneio.

    Não houve jogador mais decisivo que Curry quando mais importava. Foi ele que resgatou a equipa do abismo contra a Sérvia e de estar perto disso contra a França.

    Antes desta época da NBA começar, Curry disse que não aceitava que lhe dissessem que já tinha ganho tudo. Nunca tinha jogado uns Jogos Olímpicos e faltava-lhe o ouro olímpico para considerar que já não havia mais nada para ganhar.

    A sua obra perfeita não poderia ter melhor cenário do que a cidade mágica de Paris.  Los Angeles é já a seguir a a pressão estará toda do lado dos Estados Unidos novamente. 

    O cerco está a apertar mas a Dream Team voltou a demonstrar que o trono do basquetebol ainda lhes pertence.

    Quem os irá desafiar daqui a quatro anos?

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