Mas, afinal, quem é Vítor Bruno? | FC Porto

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    O FC Porto prepara-se para uma grande revolução. Algo que não se via há décadas. Depois de 42 anos na presidência do clube, Jorge Nuno Pinto da Costa “deu lugar aos mais novos” e André Villas-Boas foi o senhor que seguiu na liderança do emblema ‘azul e branco’.

    Villas-Boas parece estar a querer cortar com o passado e está a arrumar a casa à sua maneira. Uma das mudanças já visíveis é na estrutura técnica da equipa principal de futebol.

    Vítor Bruno chegou a acordo com o FC Porto para as próximas duas épocas, substituindo Sérgio Conceição, com o acordo a ser formalizado na sexta-feira, no Estádio do Dragão.

    Vítor Bruno chegou a orientar os dragões a partir do banco em 17 jogos, face a diversas ausências de Sérgio Conceição por suspensão, com um saldo imbatível de 15 vitórias e dois empates – somou 13 pontos em 15 possíveis em cinco rondas da I Liga em 2023/24.

    O ex-adjunto emancipa-se agora a solo e será apresentado pelo FC Porto, terceiro classificado da última edição da I Liga, na sexta-feira, quatro dias depois de a SAD ‘azul e branca’ ter oficializado a saída de Sérgio Conceição, que rescindiu de forma unilateral o contrato rubricado por mais quatro épocas, até 2028.

    Mas afinal quem é Vítor Bruno? O ator secundário que se prepara para o protagonismo no banco do FC Porto.

    Vítor Bruno Clara Santos Motas Fernandes veio ao Mundo em Coimbra a 2 de dezembro de 1982, numa altura em que o pai, Vítor Manuel, era treinador-adjunto da Académica, clube que representara durante vários anos como jogador. Pouco depois arrancaria uma carreira como líder de equipas técnicas que o consagraria como um dos treinadores mais longevos e carismáticos do futebol português: entre a década de 1980 e os primeiros anos do século XXI acumulou 505 jogos na I Divisão. Vítor Bruno cresceu entre relvados e balneários a sonhar com um percurso como atleta.

    Durante 11 temporadas, escalou todas as etapas da formação da Académica de Coimbra. Estreou-se como sénior no Bidoeirense, da Associação de Futebol de Leiria, e representou outros seis clubes até pendurar as botas no Valonguense, em 2008. Tinha 26 anos e já vislumbrava outro caminho. Entretanto, formara-se em Ciências do Desporto e Educação Física pela Universidade de Coimbra. Às vivências junto do pai e à experiência como atleta em contextos de grande dificuldade aliava-se o conhecimento científico.

    Já depois de dar aulas, foi ao lado de Vítor Manuel que Vítor Bruno se estreou como membro de uma equipa técnica. Em 2009, mudou-se para Angola para trabalhar no Primeiro de Agosto. A aventura africana ainda incluiu uma passagem pelo U.S.M. Blidá, da Argélia, mas foi breve. Em 2009/10, Vítor Bruno estava na Naval 1º de Maio, com Augusto Inácio, técnico que acompanhou na temporada seguinte à frente do Leixões.

    Em 2011, mudou-se para Olhão, onde iniciou a colaboração com Sérgio Conceição. Olhanense (de 2012 a 2013), Académica (2013/14), Braga (2014/15), Vitória SC (2015/16), os franceses do Nantes (2016/17) e FC Porto (de 2017 a 2024).

    E foi quando assumiu interinamente o comando técnico dos dragões que Vítor Bruno despertou a atenção dos adeptos portistas. Apesar do saldo favorável, o que ficou na retina dos portistas foi como o treinador-adjunto se apresentava, em qualquer estação do ano que fosse, o técnico apresentava sempre a mesma indumentária: umas sapatilhas, um casaco e uns calções.

    E não era só dentro de campo que Vítor Bruno optava por uns calções invés das calças. Em 2021, numa cerimónia de renovação de contrato de Sérgio Conceição como treinador do FC Porto, toda a equipa técnica apresentou-se de calças à exceção de uma pessoa: Vítor Bruno, claro.

    Indumentárias à parte, o ex-adjunto de Conceição emancipa-se agora a solo e será apresentado pelo FC Porto, na sexta-feira.

    A opinião

    Canalizando energias para a minha opinião, o grau de exigência de Sérgio Conceição, que alguns apelidam de saudavelmente doentio, dinâmicas de trabalho que nem todos mostram ter pedalada para acompanhar, é o primeiro sinal de competência de Vítor Bruno. Desde sempre que o técnico de 41 anos, filho de Vítor Manuel, senhor do mesmo ofício, é adjunto de Sérgio Conceição, trajeto iniciado no Olhanense em 2012. Se fosse incompetente, a colaborar com alguém tão exigente rapidamente ficaria fora do prazo de validade.

    Sete temporadas nos dragões, a trabalhar diariamente como braço direito do treinador mais vitorioso da história do FC Porto, agora que os adjuntos há muito deixaram de servir só para carregar cones e coletes ou fazerem uma perninha nos treinos se faltarem peças, são cartão de visita importante que André Villas-Boas deverá ter lido enquanto recolhia informações de fontes seguras do Olival.

    Com o regresso de Jorge Costa no papel de responsável pelo futebol profissional, qualquer que seja o eleito para substituir Sérgio Conceição terá a vida facilitada por razões óbvias. O processo que eventualmente redundará na chegada de Vítor Bruno, a perceção que o balneário tenha da lisura do novo líder em relação ao anterior, se houve ou não traição, determinará se será ou não bem aceite. É no julgamento desse tribunal — Francisco Conceição estará longe de ser o único juiz… — que se jogará parte fundamental da época. E André Villas-Boas está obrigado a ter isso em conta…

    O resto, se haverá evolução na continuidade ou rotura com o passado na forma de jogar, é talvez o problema mais simples de resolver em período tão complexo dos azuis e brancos. E nunca será por falta de conhecimento dos méritos e limitações do plantel que Vítor Bruno falhará.

    Em março de 2020, ao ser apresentado como treinador do Sporting, confrontado sobre os perigos da opção pelos leões, Rúben Amorim devolveu a bola com questão que continua a ecoar como música nos ouvidos dos sportinguistas: «As pessoas perguntam: “E se corre mal?’ E eu pergunto: ‘E se corre bem?’» É verdade que Vítor Bruno não tem a experiência de Amorim à data, mas também não custará €10 milhões.

    Em suma, com uma exceção (Sir Bobby Robson), não me recordo de alguma vez o FC Porto ter contratado um treinador consagrado em termos europeus. Além disso, nos últimos 20 anos, Co Adriaanse e Julen Lopetegui foram os únicos estrangeiros a orientar os dragões. E, tal como Vítor Bruno assume o banco do FC Porto após várias épocas a trabalhar nos azuis e brancos, também Nuno Espírito Santo e Sérgio Conceição, como jogadores, Luís Castro, como técnico da equipa B, e Vítor Pereira, igualmente como adjunto, tornaram-se treinadores na sequência de experiências anteriores no clube. Resta saber quem integrará a nova equipa técnica, dado que a maioria do staff que estava com Sérgio Conceição saiu simultaneamente com o antigo internacional português.

    Para finalizar, acresce que o facto de o clube estar numa situação de rutura financeira também jamais permitiria enveredar por esse caminho. Dito isto, compreendo bem a escolha: foi, durante muitos anos, o adjunto principal de um dos melhores treinadores portugueses da atualidade, permite uma transição tranquila de um treinador muito carismático, conhece bem a casa e o plantel, comunica de forma superior, revela ler muito bem o jogo e, por fim, já está habituado à pressão deste grande clube. É claro que os adeptos esperavam um outro nome e as expectativas estão mais baixas, mas isso pode até não ser mau.

    Quando foi distinguido com o Prémio Carreira pela Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra, em março de 2024, Vítor Bruno escreveu que no futebol “apenas sobrevivem os apaixonados que vivem a causa de forma intensa e dedicada”. Aposta de André Villas-Boas para começar um novo ciclo à frente da equipa principal do FC Porto, terá a oportunidade de desempenhar um papel diferente no meio a que pertence desde sempre. A paixão e a ambição acredito que permanecerão intactas.

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    Jovem entusiasta e curioso, o Raúl tem 18 anos e está prestes a ingressar na Universidade. O seu objetivo é fazer jornalismo, de preferência desportivo, até porque a sua paixão pelo desporto é infindável e inigualável. Desde pequeno que o desporto faz parte da sua vida. Adora ver, falar e escrever sobre futebol, nunca fugindo às táticas envolvidas no mesmo. O desporto-rei é, assim, a sua grande paixão e o seu refúgio para escapulir nos momentos em que a sua grave doença se faz sentir. Ainda assim, também se interessa bastante por NBA, futsal, hóquei em patins, andebol, voleibol e ténis. Acredita que se aprende diariamente e que, por isso, o desporto pode ser diferente. Escreve com acordo ortográfico.