Dois sonhos em rota de colisão | Sporting x Vitória SC

    Sporting
    Primeira Liga, 30ª jornada: domingo, 21 de abril de 2024, 20:30.

    A ANTEVISÃO: O QUE FAZER QUANDO O SONHO DO TÍTULO E DA EUROPA SE CRUZAM?

    Uns dirão que os astros se alinharam para que tal fosse possível, outros dirão que a consequência do bom trabalho está à vista. Sporting e Vitória SC são duas das equipas da Primeira Liga que mais se têm excedido e jogam este domingo mais um passo determinante na luta por um sonho bem mais provável num lado que no outro.

    A vitória em Famalicão acertou o calendário e permitiu a Frederico Varandas dar a entrada para as faixas de campeão nacional. Não há muitas dúvidas de que, mais semana, menos semana, o Sporting sagrar-se-á campeão pela segunda vez na era Rúben Amorim. A menos que uma das maiores hecatombes do futebol nacional – senão a maior – desmorone sobre Alvalade, em maio os leões voltam a sair à rua. E, para tal, bastam sete pontos em 15 possíveis.

    A nível de futebol jogado, Rúben Amorim montou o melhor Sporting desde que, em março de 2020 – e uma semana antes de todos ficarmos fechados em casa – foi oficializado no clube verde e branco. Volvidos mais de quatro anos, a pergunta sem resposta que o técnico lançou para o ar tem uma resposta visível. São estes os resultados quando tudo corre bem.

    O Sporting de 2023/24 diferencia-se por ser uma equipa muito mais completa que em temporadas anteriores. A nível ofensivo consegue desequilibrar por fora, mas ganhou argumentos para desmontar defesas por dentro, evitando cair na tentação do cruzamento sem critério. Defensivamente, consegue jogar mais alto ou mais baixo com eficácia. Os leões são também mais capazes de controlar jogos com bola, mas também estão confortáveis se não a tiverem, resistindo ao ímpeto de se desmontarem numa pressão descontrolada.

    É também o ano em que Rúben Amorim conseguiu espremer ao fim o plantel do Sporting.  Há destaques claros que não serão olvidados e que traduzem na perfeição o crescimento coletivo do Sporting. Não há memória, em anos recentes, de um reforço tão impactante em Portugal como Viktor Gyokeres. Ataca defesas em profundidade, funciona como pivô e condiciona qualquer sistema defensivo. Dentro de área é uma ameaça constante e mesmo fora de campo contam-se pelos dedos os nomes que influenciaram tanto uma massa adepta. A máscara de Viktor Gyokeres é muito mais que uma celebração. Sem o mesmo mediatismo, mas com tamanho impacto no jogo do Sporting – desde o início – há quatro nomes que merecem uma ressalva. Na sociedade de nórdicos construída pelo departamento responsável pela abordagem ao mercado, Morten Hjulmand foi escolha certeira. Pensando nos 6 de Rúben Amorim – João Palhinha, Manuel Uguarte e agora o dinamarquês – nenhum conjugou tão bem a dimensão defensiva que oferece ao Sporting (posicionamento, desarme e abrangência sem bola) com um perfil ofensivo que permite maior desequilíbrio no passe longo à procura do extremo ou no passe vertical. Juntam-se ao dinamarquês Gonçalo Inácio que, apesar de uma fase menos assertiva – conjuga o perfil defensivo à capacidade de construção, quer no passe quer em condução, e Pedro Gonçalves, um falso cansado que cumpre a partir da esquerda ou como médio de chegada e que oferece números ao jogo dos leões. Por fim, e por ser um baluarte de tranquilidade e de segurança fundamental nos últimos jogos, é preciso falar de Sebastián Coates. Segurança é mesmo a palavra chave para falar da referência no controlo da linha defensiva, na defesa aérea da área e nos duelos com os avançados. A coordenação e qualidade do uruguaio chega onde todos os outros falham.

    Além destes, há muitos nomes de quem não se esperavam patamares tão altos no início da época e que se afirmaram como decisivos algures na temporada do Sporting. A lesão de Antonio Adán abriu espaço para a titularidade de Franco Israel. Ainda se notam algumas limitações no jogo de pés e na saída a cruzamentos, mas já valeu pontos fela agilidade entre os postes. Eduardo Quaresma apareceu para travar o FC Porto em Alvalade e desde então é mais um nome a acrescentar na linha defensiva. Está mais concentrado e seguro nos duelos, tem velocidade para jogar mais adiantado e recursos para sair em condução. Outro nome com um percurso semelhante – empréstimos sem rendimento e temporada sem expectativas – é Geny Catamo. Foi colocado a jogar como ala a pé trocado e colocou o Sporting com mão e meia no título ao marcar dois golos ao Benfica. Funciona como agitador no drible, aparece ao segundo poste para finalizar e ganhou preponderância também como lançador. O meio-campo está na posse de Daniel Bragança. Está 100% recuperado da grave lesão que o afastou da competição por um ano e, nos últimos jogos, assumiu um lugar no onze. Gere ritmos e pauta o jogo, oferece soluções em espaços curtos e é determinante no passe. Diferencia-se do anterior médio que já encantava quem o via jogar pela renovada intenção de chegar à área para definir e pelos timings no posicionamento defensivo e na pressão. Com lugar preponderante no onze está também Francisco Trincão. Apareceu na pior fase de Marcus Edwards e demonstrou que está bem a tempo de cumprir todo o potencial que lhe é reconhecido. Parte da meia direita e procura o corredor central para definir. É forte no drible curto, procura combinar com os colegas e consegue procurar a baliza. Sem um grande ponto alto na temporada, mas com uma regularidade evidente, Paulinho cresceu com Viktor Gyokeres e sem o peso de ser o homem-golo. Acrescenta golos ao ataque dos leões e continua a ter influência sem bola.

    Com a eliminação da Taça de Portugal a meio da semana, o Vitória SC fica com o campeonato por jogar e com um sonho bem mais complicado de alcançar. Ter a possibilidade de, a cinco jornadas do fim, sonhar com o terceiro lugar é já um vislumbre de paraíso numa temporada que tinha tudo para figurar nos socalcos do inferno.

    Moreno, João Aroso (de forma interina), Paulo Turra e, finalmente, Álvaro Pacheco. O sonho vimaranense é terminar numa posição numeral inferior – ou igual, se excetuarmos o técnico interino – ao número de timoneiros que foram guiando o barco por águas mais ou menos turbulentas. Entre erros e acertos, boas ou más decisões, ter o técnico da boina como líder é o casamento perfeito.

    Ao futebol positivo de Álvaro Pacheco, que raramente abdica de ter a bola e de procurar a baliza, o técnico junta o carisma que é exigido em Guimarães. O primeiro passo para o sucesso foi alcançado com uma escolha consciente, capaz de adequar os jogadores às suas funções prediletas e de tirar o melhor rendimento dos principais destaques que, tal como em Alvalade, se dividem por setores do terreno.

    A grande diferença entre os dois trabalhos – além do tempo de casa e, naturalmente, da qualidade e número de opções disponíveis – está na necessidade do Vitória SC se readaptar ao longo da temporada. O mercado de janeiro (prolongado até fevereiro face às contingências sul-americanas) foi madrasto para o clube que viu sair Dani Silva, opção para o meio-campo, e André Silva, homónimo de Jota no que a apelidos diz respeito e complemento perfeito à agressividade do português. O clube soube reinventar-se, mas são ausências notadas, principalmente a do avançado brasileiro.

    Ainda assim, e evitando falar nas várias ausências que marcarão esta partida, o Vitória SC tem destaques óbvios da temporada. Num setor defensivo com baixas ainda mais declaradas, Tomás Ribeiro assumirá papel de destaque. Não é o mais exuberante dos defesas centrais, mas é, por outro lado, o mais seguro ou, pelo menos, o menos propício a erros absurdos. No meio-campo e face à impossibilidade de escolher apenas um nome, Tomás Handel e Tiago Silva merecem todos os louros. O primeiro é o mais talhado para as primeiras fases de construção, mas ganhou dimensão no seu jogo. As lesões impediram uma afirmação mais instantânea, mas com 23 anos está a tempo de dar o salto. Joga como um pêndulo, direcionando ataques e fazendo a equipa aproximar-se da baliza. Beneficia de ter um perfil como o de Tiago Silva ao lado. O português, que já jogou em posições mais avançadas, é, na prática, um médio com preponderância em todas as áreas do campo. Coloca-se perto da saída de bola para ser acionado como opção, transporta a bola e pisa a área para finalizar. Por fim, e destaque inequívoco da temporada vimaranense, Jota Silva está a ter a temporada de afirmação. Não é o jogador mais perfumado ou requintado, mas cumpre todos os propósitos de um avançado. É agressivo nas desmarcações de rutura e no ataque à profundidade, constituindo-se como uma ameaça a linhas subidas e cria perigo com pouco. Não precisa de um lance perfeito para visar a baliza e tem instinto goleador. Posiciona-se dentro de área e remata com facilidade. Ataca segundas bolas e situações de cruzamento para marcar diferenças.

    Fora destes nomes – e sabendo que muitos deles não serão destacados por serem ausências prováveis – há jogadores que merecem destaque. Desde logo a baliza onde Bruno Varela e Charles Silva têm marcado diferenças. Não são guarda-redes com um carimbo que torne previsível um salto para outro patamar, mas oferecem soluções, principalmente entre os postes. Nuno Santos, que assumirá um papel de destaque na reta final da temporada, é o mais criativo dos médios vimaranenses. Gosta de ter a bola no pé, ultrapassa adversários no drible e define com qualidade. Há caminhos apertados em que se pode meter. Por fim, e ainda a procurar o seu espaço, Kaio César tem mostrado pormenores de qualidade. É um avançado com um impacto no jogo coletivo mais forte que Nélson Oliveira. Procura descair para um dos corredores, preferencialmente o direito para jogar a pé trocado, procura ameaçar com dribles e consegue ligar com os colegas. O futuro do brasileiro tem tudo para ser risonho.

    Fora de campo estarão algumas das referências das equipas. O Sporting não poderá contar com Ricardo Esgaio nem com Ousmane Diomande depois de verem o quinto cartão amarelo na última jornada. Antonio Adán e Matheus Reis, lesionado de última hora, estão fora e Geny Catamo só regressou aos treinos na vésoera, o que abre espaço a mudanças nos corredores. Nuno Santos e Iván Fresneda – tem uma palavra a dizer sobre o seu futuro – podem ser opção. Mais contrariedades no lado do Vitória SC que tem também dois jogadores de fora por acumulação de cartões amarelos: Jorge Fernandes e Bruno Gaspar, muitos furos acima do que mostrou de verde e branco. À lesão grave de Telmo Arcanjo juntou-se o importante João Mendes, que não voltará a pisar o retângulo verde nos próximos meses e o lado esquerdo tem muitas dúvidas. Ricardo Mangas está ainda a recuperar de lesão e Afonso Freitas, que estava em dúvida, foi confirmado por Álvaro Pacheco.

    10 DADOS RÁPIDOS

    1. O Sporting lidera a Primeira Liga com 77 pontos conquistados em 29 jornadas e luta pela conquista do título.
    2. O Vitória SC ocupa o quinto lugar com 57 pontos no mesmo número de jornadas.
    3. Esta jornada, e face aos resultados de Arouca e Moreirense, o Vitória SC já garantiu um lugar no top-5 da Primeira Liga e, consequentemente, a presença nas competições europeias na próxima temporada.
    4. Quatro é o número perfeito para falar de treinadores. Rúben Amorim está no Sporting há quatro anos e o Vitória SC já teve quatro treinadores principais na ficha de jogo esta temporada.
    5. O Vitória SC venceu o Sporting na primeira volta: 3-2 em Guimarães.
    6. Em Alvalade o leão reina nos jogos contra o Vitória SC: são 64 vitórias, 12 empates e apenas sete derrotas em 83 jogos.
    7. Na última temporada o Sporting venceu o Vitória SC por 3-0 no encontro da Primeira Liga realizado em Alvalade.
    8. 3-0 é mesmo o resultado mais comum dos jogos entre os dois clubes no reino do leão. Já se registou em 12 ocasiões.
    9. Desde 2010 (2-3) que o Vitória SC não vence o Sporting em Alvalade. Nos 12 jogos desde então são dez vitórias e apenas dois empates.
    10. Cláudio Pereira será o árbitro da partida.

    JOGADORES A TER EM CONTA

    Pedro Gonçalves a celebrar golo pelo Sporting
    Fonte: Carlos Silva/Bola na Rede

    Pedro Gonçalves (Sporting): Já não dá para falar em Pedro Gonçalves como o eterno cansado que aparece a resolver nos momentos-chave ou no jogador desaparecido que se faz presente por uma ou duas pinceladas. O português é cada vez mais multidimensional e a esta capacidade de ser determinante tem conseguido aliar cada vez mais uma maior influência em todos os momentos do jogo. Seja na altura de criar, onde apresenta recursos técnicos e criativos, seja na altura de defender, com agressividade e posicionamentos  e movimentações cada vez mais inteligentes, Pedro Gonçalves é destaque do Sporting.

    Kaio César Vitória SC
    Fonte: Paulo Ladeira / Bola na Rede

    Kaio César (Vitória SC): Está longe de ser o jogador mais mediático ou influente do Vitória SC, mas tem mostrado muita qualidade. Pode ser titular numa dupla mais móvel com Jota Silva, ou sair do banco para procurar mudar o rumo do jogo, mas o relvado de Alvalade deverá dar por ele. Mesmo partindo de dentro, procura receber por fora, sob a meia direita, e acionar o pé esquerdo em conduções criativas. Sem Bruno Gaspar, com quem tem revelado entendimento, e num jogo em que a transição deve ser fundamental para o Vitória SC ameaçar, o brasileiro quer mostrar-se.

    XI´s PROVÁVEIS

    Sporting: Franco Israel; Iván Fresneda, Jeremiah St. Juste, Sebastián Coates, Gonçalo Inácio, Nuno Santos; Morten Hjulmand, Daniel Bragança; Francisco Trincão, Pedro Gonçalves, Viktor Gyokeres.

    Treinador: Rúben Amorim

    «Sinto o grupo bastante calmo, bastante tranquilo, muito focado naquilo que tem de fazer. Já toda a gente aqui tem experiência deste momento. Diria que é uma ansiedade boa, porque é importante tê-la. Se não a tivéssemos, era sinal de que estávamos a pensar muito mais à frente».

    Vitória SC: Bruno Varela; Miguel Maga, Manu Silva, Toni Borevkovic, Tomás Ribeiro, Afonso Freitas; Tomás Handel, Tiago Silva, Nuno Santos; Jota Silva, Kaio César.

    Treinador: Álvaro Pacheco

    «Vamos ter de ser uma equipa muito criteriosa defensivamente, nunca permitir muitos espaços, entender os timings de saltar à pressão. Há uma coisa fundamental, temos de ser capazes de ganhar os duelos individuais porque haverá muitos duelos individuais».

    PREVISÃO DE RESULTADO: Sporting 3-0 Vitória SC

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