Para qualquer observador externo, é clara a conturbação que impera para os lados menos luminosos do SL Benfica. O clube vem de duas épocas calamitosas a nível desportivo e comprometedoras para a vertente financeira, que já não aparenta ser tão “saudável” quanto a anterior narrativa fazia crer.
Pelo meio, as eleições de 2020 deram continuidade à presidência de Luís Filipe Vieira, sem colocarem cobro à divisão da massa associativa e adepta, e sem calarem a crescente oposição ao líder imposto das águias.
Contudo, o desnorte prossegue, refletido como a lua nas águas do Mondego em todos os aspetos da vida do clube: no mercado de transferências (pelo menos, até ao momento), na ausência dos prometidos anúncios de parcerias, na necessidade de contenção financeira após o boom de dinheiro (mal) gasto do verão passado, na continuidade “lógica” – nas palavras de Vieira – de Jorge Jesus, na alienação dos sócios, no vazio democrático, na completa carência de comunicação de dentro para fora…
Ninguém de fora do restrito seio da “estrutura” parece saber ao certo (nem com o mais ínfimo grau de convicção) como – e se! – está a ser preparada a próxima época e o futuro a médio-longo prazo do clube. Aliás, não é bem assim. Tal como não se prepara um jogo, prepara-se, sim, a equipa que o vai enfrentar, tal como não se prepara uma guerra, prepara-se, sim, o exército que a vai enfrentar, também não se prepara um futuro, prepara-se, sim, quem o vai enfrentar.
Por mais previsões acertadas, um jogo, uma guerra e, sobretudo, um futuro, encerram sempre em si um grau de indefinição e imprevisibilidade que os tornam “impreparáveis” (não existe, mas devia). Será, então, melhor falar na preparação do clube para o futuro do que na preparação do futuro do clube.
É aqui que, de rompante, se insurge com altivez a (dupla) indagação: «o SL Benfica está já ou está a ser preparado para o futuro, carregue ele o que carregar consigo? O SL Benfica está já ou a está a ser dotado de “armas e munições” (que depois devem ser melhor guardadas do que as de Tancos) que lhe permitam enfrentar o futuro de cabeça erguida e sem medo?»
De forma alguma! Isto é, pelo menos de forma aparente. Infelizmente, são mesmo apenas e só aparências que são apresentadas aos sócios e adeptos do clube. As respostas continuam por ser dadas e as questões vão acumulando-se, surgindo em catadupa nas mentes individuais e na mente coletiva dos benfiquistas.
E vai crescendo o nervoso que, de tão crescido, já nem é miudinho. E o futuro vai transformando-se vertiginosa e impiedosamente em presente. E eu, na minha qualidade de benfiquista, confesso que me sinto arrebatado e esmagado por ele…
Artigo revisto por Joana Mendes