A lição de Rúben Amorim a um mestre que sempre teve dificuldades em reconhecer foi a machadada final no reinado de Jorge Jesus no SL Benfica.
Pelas circunstâncias da vitória leonina, pela carga dramática que o resultado tomou e pela definita certeza de que a nova fornada portuguesa de treinadores reclama total emancipação da geração anterior (e daqui nasce curiosa e repetitiva ocorrência que insiste em marcar a última década), os treinadores mais dominadores do campeonato em fases sequenciais primaram pela juventude e pela falta de experiência tão reclamada pelos teóricos como primordial para se ter sucesso no “manhoso” campeonato português.
Errado, como comprovaram os números e os títulos de André Villas-Boas, Vítor Pereira, Bruno Lage ou Rúben Amorim. Todos eles quase estreantes nas lides de comandante duma equipa sénior de elite antes de varrerem os opositores.
A melhor época de sempre protagonizada pelo FC Porto é obra dos dois primeiros, projecto que levou a duas invencibilidades totais em três anos; Lage pegou nos seus meninos do Seixal para terraplanar uma Liga Portuguesa e fazer 35 vitórias nos primeiros 37 jogos, até chegar a hecatombe emocional. Amorim, não satisfeito, repete a fórmula, “remasteriza-a” e faz do Sporting CP campeão 19 anos depois e qualificado milionário ao fim de 13. Nada mau, hein?
Jorge Jesus, por seu turno, teve que esperar por uma oportunidade do mesmo género até aos 55 anos. Herdando o Benfica quase por estrear em termos táticos (mas farto do trabalho «invisível» de Quique Flores) conseguiu operar choque competitivo que elevou as Águias e as colocou num patamar sonhado desde os anos 90.
O primeiro ano (2009/10) foi uma lua de mel impensável rapidamente estragada pela segunda temporada imersiva num banho de realidade que ainda hoje perdura no traumatizado subconsciente encarnado: 5-0, 1-2, 1-3 para a Taça, queda perante o SC Braga nas meias-finais da Liga Europa, depois duma Champions League catastrófica (imaginar que o único bom apontamento, o 4-3 contra o Olympique Lyonnais, não seriam três pontos caso o jogo durasse mais cinco minutos), e a certeza da falência dum sistema de 4-4-2 losango ao alto nível – ocorre então a primeira metamorfose tática de Jesus, que incorpora um imberbe Axel Witsel para emparelhar com Javi Garcia na intermediária.