Os movimentos e contramovimentos que permitem ao Gil Vicente movimentar-se na tabela

Há várias equipas cuja posição na tabela classificativa não traduz o volume ofensivo e a qualidade de jogo. Gil Vicente e Estoril Praia são duas delas e, semana após semana, provam que praticam um futebol que merece mais pontos. As falhas defensivas alinhadas a uma falta de sorte que se vai verificando aqui e ali impedem-no, mas os galos e os canários mostram que a melhor maneira para libertar os talentos é, ao contrário do que possa ser ensinado no jardim zoológico, não colocá-los dentro de gaiolas.

A estratégia do Gil Vicente foi mais bem montada e eficaz e ajuda a explicar a superioridade no plano tático, em campo e no resultado. A longo prazo quem é melhor acaba por vencer mais vezes. Vítor Campelos está privado há algumas semanas e, depois de exibições melhores e outras piores, conseguiu engendrar um sistema no qual os atacantes móveis se beneficiaram.

Principalmente a partir da meia direita (e para aproveitar as maiores dificuldades de Eliaquim Mangala a nível da agilidade), o Gil Vicente concentrava três jogadores perto do central francês. Félix Correia, nesta nova versão de atacante móvel, Maxime Dominguez, qual canivete suíço (no passaporte e em campo) a aparecer mais vezes por dentro como uma espécie de segundo avançado/terceiro médio e Murilo, desta vez a partir do corredor direito para o centro, ocupavam o mesmo espaço e compensavam os movimentos uns dos outros. Quando um atacava o espaço, outro convidava Mangala a sair de posição. Se um se oferecia em apoio, era certo que um outro – ou dois, como Vítor Campelos confidenciou no final da partida – iria arrancar rumo à baliza, procurando aproveitar a profundidade que o Estoril Praia deixava montada. O lado usado (direito do Gil Vicente, esquerdo do Estoril Praia) não foi tirado ao acaso: permitia aproveitar a dificuldade, nesta fase da corrida, de Mangala nas rotações e na recuperação defensiva em velocidade e permitia ganhar vantagens na direita onde Rodrigo Gomes, aliciado pelas constantes movimentações ofensivas, muitas vezes não estava. Vítor Campelos não só leu o capítulo dos compêndios da tática sobre os contramovimentos, como mostrou que o estudou muito bem.

Do lado esquerdo, e embora com menos protagonismo Tidjany Touré mostrou bons pormenores. Ainda se nota que não está a todo o gás, mas conseguiu aproveitar o balanceamento do Gil Vicente no outro lado para criar perigo. Quando estiver 100% entrosado e com a confiança no pico poderá funcionar como uma espécie de Rafik Guitane – com quem se cruzou por várias vezes – dos galos. Muito se tem falado (e bem) dos espanhóis que andam à solta em Portugal, mas os franceses criativos e irreverentes também estão a despontar em força.

Também na área o Gil Vicente foi melhor. Sem serem exuberantes, Gabriel Pereira e Rúben Fernandes conseguiram controlar os avançados do Estoril Praia (quando o brasileiro falhou e demorou a encurtar o espaço, Alejandro Marqués marcou) e demonstraram outra coordenação. No Estoril, apesar de os problemas serem de menor dimensão quando comparados ao início da temporada, ainda há mar para navegar. Defender tão alto com Mangala é um risco, Bernardo Vital está num momento de forma positivo, mas continua a ter algumas desconcentrações e João Basso está ainda a procurar entrosar-se.

Quem também ainda procura a melhor conexão é o meio-campo do Estoril Praia. Com Jordan Holsgrove no boletim médico, Mateus Fernandes suspenso e Koba Koindredi no Sporting, Michel Costa – procura ver o jogo de frente e constituir-se como opção de saída de bola a partir da esquerda – e Vinícius Zanocelo – inteligente no posicionamento defensivo a partir de zonas mais altas e a procurar ligar jogo – foram aposta inédita e cumpriram os 90 minutos. Reconhece-se potencial, mas a ausência de rotinas tornou-os presa fácil, com o Gil Vicente a aproveitar o espaço intrasetorial e a criar dificuldades a receber nas costas dos médios. Do outro lado, e apesar de pouco acionados de forma muitas vezes precipitada por parte do Gil Vicente (que foi menos perigoso e criterioso quando saltou etapas), Mory Gbane – eficaz defensivamente e efeitivo com bola – e Pedro Tiba à procura de recuperar a titularidade – controlo impecável aos movimentos de fora para dentro de Rafik Guitane e com qualidade na passada e no transporte – mostraram outra coordenação e reduziram os problemas defensivos que chegaram sempre com João Marques envolvido. Procurou encostar-se à linha, fugir do raio de ação dos médios e arriscar no passe ou no remate. Com o pé direito a partir da esquerda abre o campo e oferece imprevisibilidade nos movimentos.

Maxime Dominguez Gil Vicente João Basso Estoril Praia
Fonte: Gil Vicente FC

Quem se movimentou foi também o Gil Vicente que subiu uns lugares na tabela. Pela qualidade coletiva e individual, ambos os clubes têm potencial para dar o tão esperado salto. Uns estão mais próximos de o conseguir que outros.

BnR na CONFERÊNCIA DE IMPRENSA

BnR: Vimos muitas vezes o Félix Correia, o Maxime Dominguez e o Murilo em zonas muito próximas no terreno, quer com movimentos de rutura, quer a compensar com movimentos em apoio a atrair os defesas do Estoril Praia. Em que medida é que tais movimentos e contramovimentos beneficiaram a estratégia do Gil Vicente e qual a influência da linha defensiva muito subida do Estoril Praia nesta decisão?

Vítor Campelos: A sua pergunta é muito pertinente e demonstra que esteve atento ao jogo. Foi algo que trabalhámos durante a semana, nos três homens da frente um atraía e os outros dois pediam a bola na profundidade porque sabíamos que íamos arrastar a linha da defesa e abrir espaço para um deles poder receber a bola solto ou, se a linha defensiva não baixasse, podíamos explorar a profundidade. Era isso que queríamos e o facto de eles também estarem juntos, porque nenhum deles é forte no jogo aéreo, sabíamos que possivelmente se a linha defensiva baixasse e cortasse a bola teríamos de estar preparados para ter alguém ganhar a segunda bola. Foi algo que foi trabalhado e creio que resultou.

BnR: O Estoril Praia sofreu dois golos – o segundo e o terceiro – em circunstâncias muito especiais, depois de uma expulsão e com a equipa totalmente balanceada para a frente, respetivamente, mas ambos com uma linha defensiva muito subida e sem conseguir acautelar o espaço nas costas. Porquê esta opção, tendo em conta a capacidade do Gil Vicente atacar a profundidade, e o que é preciso melhorar neste momento?

Vasco Seabra: O segundo golo é um ataque à profundidade, mas nós estamos capazes de o anular, mas estamos com menos um jogador num momento de perturbação. O terceiro golo é um chuto para a frente, temos o nosso guarda-redes e o central a controlar a profundidade e foi um desentendimento, já com o cansaço do jogo, a influenciar. Não considero que o nosso controlo de profundidade tenha sido mau, porque durante todo o jogo conseguimos anular 95% dos lances. Conseguimos estar agrupados, compactos e curtos e controlar a profundidade. Da primeira para a segunda parte tentámos meter a bola coberta mais vezes e penso que foi conseguido. Tirando esses lances em que estamos em perturbação, o nosso início de jogo mostra logo que nós conseguimos meter a bola coberta muitas vezes e que a nossa linha esteve sempre muito confortável com o espaço nas costas. Da primeira para a segunda parte corrigimos a bola coberta, mas ainda assim penso que em termos de controlo de profundidade estivemos competentes.

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