Terminada a época desportiva em Portugal, e enquanto não começa o Euro, a realizar na Alemanha, chegou a hora de fazer os principais balanços na Primeira Liga. No campeonato, o Sporting foi incontestavelmente superior aos seus rivais. Rúben Amorim exigiu reforços e foi cirúrgico na forma como apetrechou o plantel – as contratações Gyokeres e Hjulmand foram fundamentais.
Os leões mudaram do dia para a noite e cavalgaram até quebrarem vários recordes. Na hora de elaborar o sempre complicado “onze da época”, é o Sporting quem domina de forma clara nas escolhas. Não era (nem é) o clube de Alvalade quem tinha as melhores opções de entre as equipas em prova, mas o coletivo leonino foi capaz de superar 29 dos habituais 34 desafios, com uma máquina trituradora bastante bem oleada na Primeira Liga.
Guarda-redes: Ricardo Velho
Época brilhante deste, até então, desconhecido guarda-redes português. Nasceu em Vila Nova de Famalicão, tem 25 anos, chegou a passar pela formação do FC Porto, mas só esta época o futebol nacional ficou realmente a saber do que é feito Ricardo Velho. Disputou 32 dos 34 jogos dos Leões de Faro, no campeonato, sofreu 46 golos e brilhou nos jogos contra os ‘grandes’, deixando-o à porta da Seleção Nacional. É o único jogador neste ‘onze’ que não pertence a um dos grandes, mas, ao mesmo tempo, é dos mais indiscutíveis. É provável que dê o salto neste próximo mercado de transferências.
Defesa-central: António Silva
Não fez uma temporada espetacular, principalmente no panorama europeu, mas voltou a ser uma peça sólida na defesa dos encarnados na Primeira Liga. Mostrando que a experiência e qualidade não se medem com a idade, dentro do plantel encarnado, António Silva teve uma época bem mais conseguida do que Otamendi e esteve longe de ser o principal problema das águias. De acordo com uma lista divulgada pelo CIES, o jovem defesa encarnado é o jogador português mais valioso da atualidade. Para além disso, é um dos alvos mais cobiçados do futebol português e a presença no próximo Campeonato da Europa pode ser fundamental para um salto dentro do futebol europeu.
Defesa-central: Sebastián Coates
Diferente da época 2020/21, mas igualmente importante, Coates voltou a ser o ‘homem mais’ da defesa leonina. Uma verdadeira âncora no eixo defensivo da equipa de Rúben Amorim. O uruguaio é o capitão mais capitão do futebol português e voltou a dar, esta temporada, um passo importante para a sua eternização na história do Sporting. Deverá continuar de leão ao peito, até porque não vai render financeiramente aquilo que rende do ponto de vista desportivo. É uma das extensões de Rúben Amorim em campo.
Defesa-central: Gonçalo Inácio
Tal como António Silva, Inácio é um dos nomes do presente e do futuro do futebol nacional, na Primeira Liga. Tem um perfil bastante característico e difícil de encontrar no futebol mundial, até porque é esquerdino. Faz, de certa forma, lembrar o croata Gvardiol. Os erros que ainda continua a cometer são sobretudo provenientes de falhas de concentração, isto porque tecnicamente há poucos como o jovem central do Sporting por aí. Além disso, destaca-se no jogo aéreo e, apesar de não ser nenhum velocista, tem um boa capacidade de deslocação. Foi fundamental na conquista do campeonato. Também pode aproveitar o Europeu para se valorizar e é, aliás, um dos principais candidatos a sair dos Leões no próximo mercado de transferências.
Lateral/ala-direito: FredrikAursnes
À direita, à esquerda, ao meio, atrás ou à frente, Fredrik Aursnes não sabe jogar mal e cumpre sempre. É um autêntico bombeiro para Roger Schmidt e por isso talvez não seja tão bem aproveitado quanto devia. No entanto, não me parece escândalo nenhum aparecer neste ‘onze do ano’, ainda que como lateral/ala direito. Em termos de números, esta foi a melhor época da carreira do norueguês: 4 golos e 10 assistências em 55 jogos. Quase sempre a partir de um dos corredores (à direita quando não havia Bah e à esquerda quando Schmidt não conseguia encontrar uma solução para render Grimaldo). O “Mr. Faz-tudo-bem” tem perfil, qualidade e algo mais de especial para marcar uma geração de adeptos encarnados.
Lateral/ala-esquerdo: Nuno Santos
Parece-me claro que Nuno Santos não é nenhum fora de série, mas, por outro lado, não há ninguém em Portugal que agite tanto o corredor esquerdo como o ala leonino. Peca pelo pouco critério na hora do cruzamento, mas a verdade é que o Sporting está sempre mais perto do golo quando está em campo. À largura, à profundidade, na área ou fora dela, Nuno Santos sabe muito bem como desequilibrar uma defesa adversária. Nesta época, foram 6 golos e 16 assistência em 50 jogos. Outro que atingiu os melhores números da carreira em 2023/24.
Médio-centro: Morten Hjulmand
O Sporting não só foi a Itália em busca de um médio com o perfil de Ugarte, como saiu de lá com uma versão mais completa do uruguaio. O dinamarquês rapidamente conquistou as bancadas de Alvalade e em pouco tempo ‘lançou’ o debate entre ele, Ugarte e João Palhinha. Não há dúvidas de que estamos perante um casamento perfeito entre jogador e clube. Hjulmand passou da Serie A Italiana para a Primeira Liga Portuguesa, mas subiu uns bons patamares em termos de clubes dentro do próprio campeonato. Terminou como campeão, peça-chave no título, valorizado e até voltou a marcar golos (não acontecia desde 2019/20). Agora, será ainda mais difícil substituir o nórdico e isto pode vir a ser uma realidade já neste próximo mercado de transferências.
Médio-centro: João Neves
Não demorou muito a passar de revelação para afirmação e jóia da coroa. Hoje, o menino de Tavira é o dono do meio-campo do Benfica e um dos jovens mais pretendidos na Europa. No meio de todo um contexto algo adverso dentro da equipa encarnada nesta temporada, João Neves foi aparecendo sempre (e às vezes até demais). Roger Schmidt tem-no utilizado sobretudo como equilibrador (exímio recuperador de bolas e sempre em alta intensidade), mas continuam a faltar outros estímulos com bola, até porque está lá uma boa qualidade de passe e uma ótima capacidade de galgar metros com a bola controlada. 55 jogos, três golos, uma assistência e muita coisa ‘invisível’ feita dentro de campo tornam João Neves num dos melhores médios a atuar na Primeira Liga. É um dos grandes ídolos da Luz, atualmente.
Extremo-direito: Francisco Trincão
E por falar em afirmação, eis que finalmente… Trincão. Até fez menos golos (10) do que na temporada transata, mas mostrou consistência e acabou o campeonato em grande e com um lugar mais do que conquistado no lado direito do ataque verde e branco. Por isso, também, merecia uma convocatória para o Campeonato da Europa. O início do ano foi revitalizador para Trincão no Sporting, com cinco golos e quatro assistências entre janeiro e fevereiro. Foi aí que começou a catapultar os seus desempenhos para patamares mais condizentes com toda a sua reconhecida qualidade. Manter-se nesse nível foi sempre a maior dificuldade do jovem extremo português, mas desta vez conseguiu fazê-lo até ao final do campeonato, sendo até importante em momentos cruciais da competição (duelos com Estrela e Famalicão fora de portas). Entrar bem na próxima época será fundamental para Francisco Trincão e para o Sporting, que encontrou na Primeira Liga 2023/24 a melhor versão do craque natural de Braga.
Extremo-esquerdo: Pedro Gonçalves
Nunca dão muito por ele, mas Pedro Gonçalves lá vai respondendo com golos e assistências. Em 2023/2024 foram ‘só’ mais 18 remates certeiros e 16 assistências, entre a habitual posição de atacante pela esquerda e o meio-campo. Centro de gravidade baixo, jogador de remate fácil e exímio a gerir timings, Pote é imprescindível para Rúben Amorim, ainda que não venha a ter o destaque de outras também importantes peças do xadrez leonino.
Avançado: Viktor Gyokeres
Chegou, viu, marcou e ganhou. Eis, finalmente, o nome mais provável de aparecer neste ‘onze do ano’ da Primeira Liga. Neste século, só Mário Jardel (2001/02 – 42 golos), Jonas (2015/16 e 2017/18 – 32 golos e 34 golos) e Bas Dost (2016/17 – 34 golos) marcaram mais do que o sueco (29 golos), que chegou quase como desconhecido. No entanto, rapidamente virou ícone, com direito a festejo para história, merchandising e música própria. Outro exemplo de um casamento perfeito entre jogador e clube. Ao todo na temporada, foram 42 golos 14 assistências em 50 jogos. Números impactantes para uma época de estreia, que poderá ser também a última.