Após um longo e divertido Euro, nem tudo foram pontos positivos. Guardamos connosco os momentos da eliminação precoce de crónicos candidatos, as exibições bárbaras de grandes jogadores, ou a performance aquém de alguns dos melhores treinadores do mundo.
Estas foram as cinco maiores desilusões do Euro 2024, na Alemanha.
5.
Auto-golos – Não pretendendo abordar com demasiada profundidade o motivo ao qual leva a terem existido tantos auto-golos nos últimos dois europeus (primeiros classificados nos europeus que mais auto-golos registaram), é impossível desassociar a exorbitante quantidade de golos marcados na própria baliza.
Terão os jogadores menos qualidade que em competições prévias, levando a uma maior facilidade em existirem auto-golos? Terá que ver com o maior número de equipas, consequentemente maior número de jogos? Será o processo defensivo das equipas mais debilitado que anteriormente, ou será o ataque o alvo principal de trabalho de um selecionador nacional? A resposta não é certa, uma vez que, certamente todos estes fatores combinarão entre si para este resultado final.
O certo é que a vibração de um jogador da equipa adversária colocar a bola na sua própria baliza nunca será igual à emoção de vermos a “redondinha” lá dentro após um remate do nosso jogador favorito.
4.
Croácia – É inevitável apontar a Croácia como algo que não seja uma desilusão. É certo que num grupo apelidado de “grupo da morte” do Euro 2024, a tarefa que Zlatko Dalíc tinha em mãos, não era fácil, mas nem o menos otimista dos croatas imaginou terminar o grupo sem qualquer vitória, apenas com dois pontos.
Era um facto que esta seria a última grande competição da geração croata liderada por Luka Modric, que nem esteve a um mau nível. O certo é que com exceção de Budimir, que evitou males maiores nos últimos dois jogos, toda a restante seleção não se mostrou ao nível esperado. Jogadores como Brozovic, Gvardiol e Kovacic deixaram a desejar.
3.
Cristiano Ronaldo – Se a obsessão pelo trabalho, a dedicação e o não saber desistir levaram Cristiano Ronaldo a ser um dos melhores jogadores de todos os tempos, desta vez, essa insistência levou-o a ser uma das grandes desilusões de Portugal neste Euro.
Cristiano poderia ter sido (numa seleção que jogasse bom futebol) uma referência atacante, mas nunca como titular. A idade pesa no corpo de qualquer jogador (Pepe preparou o seu para fazer este Europeu, abdicando muitas vezes da época como jogador do Porto), e com Cristiano não é diferente. A velocidade, drible e execução já não são o que outrora foram, e criar essa necessidade de ser titular em todos os jogos, e jogar quase todos os minutos de cada partida acabam por retirar um bocadinho de tudo, a todos. Ao próprio jogador, retira o melhor proveito que poderia oferecer à nossa seleção, ao nosso treinador, retira credibilidade e demonstra receio na mudança, e a nós, adeptos, leva-nos a um estado de tristeza por vermos que o nosso maior jogador escreve os últimos capítulos da sua história desta maneira.
É certo que Ronaldo não foi o único e maior problema nesta seleção (esse foi Roberto Martínez), podendo adicionar os exemplos de Bernardo Silva e Bruno Fernandes a este esquema. O seu mau aproveitamento, adicionado à má gestão do plantel levaram a que Cristiano ficasse como o grande culpado, quando, na verdade, tudo isso é exagero. Há que mudar, e a mudança tem de ser feita a todos os níveis. Estratégicos, táticos e nas decisões das convocatórias.
2.
Didier Deschamps – A chegada às meias-finais de uma competição nunca pode ser vista como negativa, todavia, dadas as aspirações e expectativas depositadas na seleção francesa, este Europeu teve poucos pontos positivos.
Quatro golos marcados ao longo de todo o Euro 2024, contando com dois auto-golos e um penalty. Só este dado, é um mau presságio. Defensivamente sólidos, talvez a seleção mais forte defensivamente, do meio-campo para a frente, foi sempre a descer. O meio-campo mostrava-se instável, com jogadores como Zaire-Emery e Camavinga longe dos minutos idealizados no começo da prova, adicionando uma extrema dependência de Mbappé, que nunca esteve ao melhor nível.
Para piorar a situação francesa, o conservadorismo apresentado por Didier Deschamps ao longo de toda a competição amarrou os gauleses de alcançar o seu melhor nível. Este conservadorismo não é novidade, no entanto, sempre foi escondido pelo individualismo dos seus craques, o que não aconteceu este ano.
1.
Gareth Southgate – A escolha do treinador inglês era inevitável. Na mesma medida que a chegada da seleção francesa às meias-finais não evitou a sua nomeação para este artigo, a forma como uma das melhores gerações de sempre da Inglaterra tem vindo a ser desaproveitada é digna de registo, e com muita pena. Perder duas finais de Europeus em quatro anos não é murro fácil de digerir, mas Southgate torna essa digestão ainda mais dolorosa, dado o aproveitamento que estes jogadores têm tido.
A qualidade inglesa não é, de todo, a mesma nos vários setores existentes. Se a frente de ataque é recheada de qualidade, o mesmo não se pode dizer defensivamente (pelo menos não ao mesmo nível). É compreensível esse facto, Southgate não pode criar jogadores de qualidade, no entanto, não é admissível Trippier fazer todo o Euro como lateral esquerdo, devido a uma lesão de Luke Shaw, e à falta de outras opções.
Não é, da mesma forma, admissível ver Phil Foden a jogar na sua posição de origem apenas nos dois últimos jogos do Euro 2024. O melhor jogador da Liga Inglesa na temporada passada viu-se amarrado numa posição que não era dele. Não é, da mesma forma percetível, o motivo que levou Southgate a jogar com todos os seus maiores talentos ao mesmo tempo, desprezando completamente o seu “à vontade” para jogar onde ele os colocava.
Southgate tem o mérito de atingir a final (mal seria se não o fizesse tendo em conta os seus adversários), todavia, tem o total demérito de Jude Bellingham não sair de Berlim com uma mão na Bola de Ouro.